Dois corações e cacos de vidro

31 6 0
                                    

Para chamar a atenção da Polícia e mostrar que o jogo realmente havia começado eu precisava fazer da morte uma arte e eu já sabia como...
   As pessoas costumam falar de amor como se este fosse uma bênção, elas estão enganadas, este sentimento te mata aos poucos, então seria a representação perfeita... É hora de fazer uma visita ao meu querido é tão apaixonado primo Derik.

                 Através dos olhos de
                      John Velmont

  Procurar por Ália é uma verdadeira caçada às bruxas, é como deduzir os próximos passos do demônio, pois a cada novo passo encontrará sangue e trevas, a destruição é inevitável. Caso tenha sorte não fará parte da coleção de cadáveres, caso tenha azar... ela irá atrás de você, te arrastará para seu mundo... a morte, de qualquer forma  estou disposto a correr este risco.
  A mansão Hoffman está em decadência, e mesmo que não estivesse eu não me atreveria a colocar meus pés naquele lugar, pois sei que que Will ainda cuida dele, por isto procurarei um novo emprego nesta manhã. Estranho o alvoroço no centro da cidade, há várias pessoas amontoadas, e tentando deduzir o motivo me lembro de... Droga, Ália.
  Tento me aproximar, empurro algumas pessoas, ouço xigamentos, alguém me chuta, mas continuo em frente, a polícia ordena que eu me afaste, e enquanto me afasto observo a destruição. Sobre uma cama posicionada naquele local havia duas pessoas, possívelmente um casal, unidos por uma costura de linha grossa, a qual atravessava profundamente a pele, o peito de ambos estava perfurado por uma fina estaca de madeira, possivelmente atingindo o coração. A Polícia me ameaça, por isto sou obrigado à me afastar, como um reflexo olho para baixo, sem saber o que procuro, vejo duas rosas negras enroladas em um fio negro, quando finalmente levanto minha cabeça, olhando através dos policias e da cena do crime vejo um rosto conhecido cruzando a esquina, Ália jamais perderia a chance de ver sua obra exposta sendo admirada, seu ego nunca permitiria. Ália ainda encapuzada corre ao me ver, e sem mesmo pensar a sigo, disparo mas a perco, desesperado olho para todos os lados, e finalmente a vejo entrando em um escuro beco, o qual não possuía saída. Sem redimir-me um olhar Ália apenas diz, com certo tom melancólico:
  - Eu estou cansada.
  - Por que você faz isto? É diabólico, você destrói pessoas, suas vidas, histórias, entende? Por sua causa elas jamais terão futuro.
  - Futuro? O que há de especial no futuro? Durante minha vida toda eu me senti quebrada por dentro, cheia de lembranças tortuosas. Era como se meu coração estivesse cheio de cacos de vidro, como se toda vez que eu me movesse um novo corte surgisse. Eu era tão nova e já tinha tantas cicatrizes... como diziam me amar se nem mesmo percebiam o vazio que me devorava?
  - Ália... desista.
  - Como as pessoas podem implorar pela vida? Por amor? As pessoas vão embora, coisas que importam só... simplesmente acabam, por que nada me preenche? Por que coisas que importavam partiram? - Minha pequena rosa simplesmente desaba, sentando-se no chão e chorando.
  - Sei que dói, mas eu prometo te amar, prometo preencher este vazio, eu nunca vou embora... nunca, eu te amo - Ália se levanta me olhando nos olhos, as lágrimas cessam e ela simplesmente congela.
  - Quem pensa ser? Eu não preciso ser amada, você se sente especial, acha que é o suficiente para mim. Eu odeio o amor, as pessoas dizem amar umas as outras sem precisar ser sinceras, elas nem mesmo percebem o significado do que dizem, mas ninguém mata sem sinceridade, eu sou quem eu quero ser, quem eu preciso ser. Acha que eu não teria coragem de acabar com você? Acha que eu te amo? Vá embora, esta é minha vida e eu não quero você dentro dela.
  - Como posso te amar? Você é a caos,  você é doente, louca... você derrama  sangue por onde passa, caminha arrastando corpos consigo, e eu continuo aqui, como? Você é um monstro, não há palavras para te descrever, a obra mais bela, feita e tão admirada pelos anjos caídos.
  - Sou a pessoa mais louca que conhece - diz enquanto gargalha baixo,  seus olhos ganham vida, como iluminados por algo mau - mas você sempre esteve acostumado com o sangue, não? Sangue dos inocentes sobre o chão, sorte que mamãe soube tirar as manchas - novamente o sorriso maligno toma conta de suas feições, e aquelas palavras, lembrar daquilo, foi como uma grande agulha perfurando meu peito.
  - Acha que é a única que sabe brincar? Cansei de ser o brinquedo, adeus, rosa - enfatizo seu apelido mórbido com certo tom irônico.
  Sempre fui bom com Ália, mas quando ela me lembrou daquele acidente... algo despertou dentro de mim, como se minha face demoníaca despertasse para a festa de corpos, como se meus demônios quisessem combater os de Ália. Caminho até a casa de Will, possuído por tanto ódio, tanta dor, ela deveria ser minha, eu a amei "em morte" e em vida, incondicionalmente. Bato na porta e seu suave ruído faz meu corpo estremecer.
  - O que faz aqui garoto? - Diz Will, tentando deduzir o motivo de mimha imprevisivel visita.
  - Vim dar início à caçada às bruxas, ou rosas, se preferir - Ele me olha espantado,  mas logo um sorriso ilumina seu rosto e ele me convida para entrar.
  - O que tem para mim hoje? Rapaz.
  - O que acharia se a próxima rosa a despedaçar-se, caindo fria e murcha ao chão, fosse a negra?

Rosas negras Onde histórias criam vida. Descubra agora