Capítulo 2

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Sentada ao meu lado estava a garota que eu havia visto na estrada no dia do acidente, a que havia salvado a minha vida.

Encolhida sobre a pedra, usando um tipo de vestido, ela disputava o pequeno espaço comigo. Com os pés descalços e segurando uma rosa vermelha, ela admirava a flor como se fosse algo extremamente precioso. O cabelo comprido e ruivo contrastava com a pele branca.

Eu a encarei, atônito, com medo de piscar e ela desaparecer novamente. Eu estava de pé sobre a pedra, enquanto ela estava sentada, próxima aos meus pés. Seus olhos verdes pareciam um par de esmeraldas quando finalmente encontraram os meus.

Levou algum tempo até que ela percebesse que eu a encarava. Mesmo assim, ainda olhou para os dois lados, certificando-se de que era mesmo ela a quem eu dirigia o olhar. Então, ergueu as sobrancelhas, assustada.

_ Alex?! _ O tom musical da sua voz era como uma melodia suave e doce.

Cada parte do meu corpo tremia, como se o calor do Sol na pedra tivesse dado lugar a uma nevasca.

Não consegui responder.

Rapidamente, ela se levantou. Ficamos, durante alguns instantes, de frente, analisando um ao outro. Meu queixo endureceu e eu fiquei ofegante. Éramos praticamente da mesma altura – nunca fui muito alto, e tampouco achava que fosse crescer mais.

_ Alex?! _ ela me chamou novamente, mas eu continuei calado.

Então, ela passou sua pequena mão em meu rosto e eu pisquei, com medo.

_ Alex, você consegue me ver? _ Seu cheiro era delicioso, como o cheiro do orvalho de todas as manhãs, na fazenda.

_ C-claro que consigo te ver _ balbuciei. _ Por que não veria?

Ela abriu um sorriso largo e descrente, o que me fez olhar para a sua boca levemente rosada.

_ Alex! _ Ela estava boquiaberta, parecendo assustada, mas feliz.

_ Quem é você? _ perguntei calmamente.

Dessa vez, foi ela que ficou calada, só sorrindo e me olhando, ainda próxima a mim.

Lentamente, com sua mão delicada, ela tocou meu rosto novamente. Afastei-me um pouco, assustado com o calor que vinha dela. Até seu toque era quente, ou era normal e talvez fosse eu que ainda estivesse na nevasca.

_ Me desculpe. Eu não quis te assustar ¾ disse ela, recolhendo a mão, desfazendo o sorriso.

_ Não me assustou. Só que... você não respondeu a minha pergunta.

Ela baixou o olhar, parecendo procurar as palavras por uns instantes, até voltar a me olhar para responder.

_ Sou Eva _ disse simplesmente.

Mesmo depois da apresentação, não me dei por satisfeito. Queria saber mais sobre ela e sobre sua aparição na estrada, no momento do meu acidente. Então, ousei perguntar:

_ Como chegou aqui? E... Como me salvou?

Ela pareceu surpresa com a pergunta e parecia não querer me responder.

_ É complicado.

_ E por que eu não poderia te ver? Você é um fantasma? _ indaguei, tentando usar um tom brincalhão.

_ Não ¾ ela respondeu. _ Aliás, estou mais viva do que você.

_ Como sabe o meu nome?

_ Todos na cidade sabem seu nome ¾ respondeu, dando de ombros casualmente. _ Você é filho de Otávio, o "Senhor das flores".

Cintilante IOnde histórias criam vida. Descubra agora