♡ one.

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Arrumei o cachecol, protegendo ainda mais minha nuca daquele frio, e escondi minhas mãos no bolso daquele casaco grosso que usava. Talvez nunca tivesse presenciado um inverno tão rigoroso como aquele que reinava sobre Busan nos últimos dias. Olhei para a rua levemente coberta de neve e apertei a chave do carro em meus bolsos, vendo o tipo de gente que caminhava calmamente sob o tecido natural e gélido.

Diferente do caminhar de cada ser humano ali, os olhares alheios eram cheios de segundas intenções. Sabia que ao dar as costas provavelmente meu carro seria roubado ou eu mesmo seria abordado por alguma pessoa com armas em mãos pedindo por tudo valioso que eu tenho, mas eu se quer me importava àquela altura.

Apenas soltei todo o ar preso em meus pulmões, observando uma breve fumaça sair por entre meus lábios e juntar-se ao ar gélido presente. Comecei a dar passos lentos, evitando olhar para aqueles presentes ali; eles causavam-me calafrios, eu não me sentia confortável naquele ambiente, mas precisava chegar ao meu destino e finalmente ter as respostas das quais precisava.

Estava tão perdido nos meus próprios devaneios que se quer percebi uma mão pequena, magra e de pele gelada arrancar minhas próprias do bolso e juntar ambas. Olhei assustado para a garota que havia feito o ato, não parecia ter mais de 17 anos. Usava poucas roupas, que marcavam o belo corpo que possuía, e sorria através da face vermelha, quase arroxeada pelo frio. Os lábios claramente secos pintados por um batom forte e de cor escura, disfarçando o quão roxo eles provavelmente estavam.

— Nunca vi um homem tão sozinho. — ela disse suavemente, acariciando meus dedos. — Gostaria de alguma companhia, senhor? Pelo preço certo, posso lhe acompanhar para algum outro lugar, e quem sabe distrair sua mente, huh? Parece tão tenso... — passou o dedos por todo o meu braço, tentando adentrar o casaco grosso e causar arrepios em minha pele. Afastei-me levemente, voltando a por minhas mãos do bolso, encarando a jovem a minha frente.

— Desculpe a pergunta, mas diga-me, por que faz isso consigo? Quer dizer, está um frio infernal nesses dias, garota, por que ainda assim sai as ruas nestas roupas curtas? — perguntei direto, passando a língua por entre os lábios numa tentativa complemente falha de hidrata-los.

Ouvi um suspiro vindo da mais baixa, que passou as mãos delicadamente pelos cabelos longos que possuía, olhando para as botas de salto fino que usava. Olhou de maneira sofrida em meus olhos, causando-me um aperto no coração.

— Não há descanso para os fodidos, senhor. Eu tenho dívidas dos meus pais para pagar e um irmão para alimentar, eu não posso simplesmente parar de fazer meu ganha pão apenas porque está frio nas ruas. — soltou um riso seco, sem humor qualquer. — Ninguém aqui pode parar ou diminuir o ritmo, não somos ricos e favorecidos como você é. Perdoe-me se eu estiver errada, e eu sei que não estou, mas aposto que você é mais um daqueles que tem uma fortuna na conta do banco enquanto tantos outros não tem nada.

Ela soltou uma breve risada, e eu apenas respirei fundo. Não era uma completa mentira, eu não poderia negar aquilo. Ri fraco e tão sem humor quanto ela mesma havia feito anteriormente. Olhei para a garota, que agora encarava o chão como se fosse o ponto mais interessante para o qual pudesse perder todo o tempo do mundo olhando.

Dessa vez, ela quem soltou um suspiro longo e aparentemente cansado, voltando a dirigir seu olhar marcado pela maquiagem para mim. Olhou para os lados, não para ver se alguém estava interessado em nossa breve conversa, mas sim apenas para não voltar a me olhar nos olhos.

— Você veio ver a mulher das cartas de tarô, não veio?

— Como que...? — eu não tive necessidade de completar a frase, a garota apenas deu de ombros como se a resposta fosse completamente óbvia, e eu fosse cego demais para perceber.

inccubus ✶ jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora