Éramos cercados de pessoas amigáveis que por algum motivo não levavam uma vida boa. Eu sempre acreditei que pessoas de bom coração teriam vidas prósperas, mas não demorou muito pra que eu percebesse o quanto inocente estava sendo. O governo daquela época obrigava as família mais pobres a permanecer na pobreza. Eu não entendia muito bem, mas era como uma tática desumana de manter os mais ricos no poder.
Os vizinhos da casa mais próxima tinham uma filha chamada Júlia Veronez, moça que me fez sair de casa todos os dias para observar o quintal. Não era meu lugar favorito, mas era onde ela brincava com uma panela de barro e alguns gravetos, simulando uma cozinha artesanal. A criatividade era essencial na vida das crianças daquela época. Posso dizer que me apaixonei por aquela garota que tinha a minha idade, morava na casa ao lado, mas que nunca me olhou nos olhos.
Júlia era uma menina negra com olhos puxados, cabelos curtos e uma voz tão delicada que me fez perder a razão por várias e várias vezes. Eu adorava o modo como ela simulava as coisas. Se fazia algo de errado, logo arrumava uma desculpa para seus pais, pobres comerciantes que ganhavam a vida oferecendo um "produto inovador" que segundo eles permitia a viagem no tempo. O que era conversa fiada, tendo em vista que a viagem no tempo só foi inventada em 1981 por um rapaz de bigode estranho e óculos engraçado. É claro que essa história de viagem no tempo me caiu como uma luva, depois de muitos e muitos anos, mas vou deixar pra explicar no final. O senhor e a senhora Veronez não faziam ideia, mas no mundo imaginário da cabeça de uma criança como eu, o mais provável seria se eu fugisse com sua filha, que pra mim, representava as coisas mais belas da vida.
Ela adorava dançar nos dias de chuva. Fazia alguns riscos no chão e imaginava o limite de um palco onde ela se apresentava ao seu público. Ela não sabia, mas eu era seu único fã na plateia. Mãos levemente flexionadas para o alto, olhar profundo como quem conversa consigo mesmo e gestos suaves que levavam seu corpo de uma ponta a outra do "palco". Quase uma apresentação de Ballet, mas ela não tinha habilidade suficiente com os pés. O que faltava-lhe de habilidade, sobrava-lhe de expressão facial. E foi justamente isso que ficou marcado em mim antes que ela partisse.
Distância entre Camp Funston e EI Dorado - Imagem do Google Maps
Certo dia Júlia estava feliz com a notícia de que seus pais teriam vendido boa parte da mercadoria para um grupo de alemães que pretendiam testar as "máquinas do tempo", restando apenas algumas amostras que eles fizeram questão de guardar. A família Veronez finalmente conseguiu uma boa grana e depois disso se mudaram para El Dorado, cidade que fica a 96,3 milhas de Camp Funston. Desse dia em diante, não tive mais notícias deles, mas eu sempre acreditei que o mundo não era tão grande assim pra perdê-los de vista. Eu estava certo.
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A vida prévia de Ash Cobalt
Science FictionALCANÇOU #55 NO RANK EM FICÇÃO CIENTÍFICA - Ash foi à segunda guerra mundial e as únicas coisas que ele sabe são baseadas no que seus pais lhe contaram. Muito tempo depois ele resolve ir em busca das suas lembranças perdidas de uma forma mágica. → A...