Part 1 - Uma casa no Kansas

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"Meus falecidos pais me contaram que durante a guerra aconteceram coisas que mudaram a história de muita, mas muita gente; inclusive a minha. Meu nome é Ash Cobalt e até onde eu lembro, nasci em 3 de maio de 1945; curiosamente um dia após o fim da campanha da Itália na segunda guerra mundial; mas eu conheci uma história anterior a esta data".

Eu morei com meus pais durante bastante tempo, mas eu me sentia como um peixe fora d'água naquela casa que rangia toda vez que um vento forte soprava na vizinhança. Nossa casa ficava em Camp Funston, Kansas, cidade de aproximadamente 1,400 habitantes. A vida não era nada fácil naquele tempo; no único quarto da casa eu podia contar com um ou dois travesseiros de palha que simulavam meu conforto e algumas armas de combate que meu pai colecionava. Na sala, nada além de um móvel de centro onde minha mãe empilhava as fotos de família, que por sinal, eu não aparecia em nenhuma delas. Na cozinha era fácil encontrar garrafas de cerveja vazias que meu pai insistia em juntar ao lado da pia. Ele já tinha arrumado muitos problemas com relação ao álcool, mas nunca pensou em parar de beber. Na frente da casa existia um poço d'água que servia como criadouro de bagres, uma espécie de peixe originária do rio Mississippi, nos Estados Unidos.

Esses eram os únicos cômodos da casa, com exceção do banheiro que ficava numa parte isolada a 15 metros de distância; quase no final do cerco de nosso terreno, que por sinal era um dos maiores da vizinhança. A comunicação era coisa rara entre nós, quase impossível na verdade. Conversávamos apenas o necessário e geralmente o necessário não acrescentava nada na vida de nenhum de nós. Assim eu fui vivendo o que mais tarde não me preocuparia caso tudo caísse no esquecimento.

"Ahh se não fosse aquele tiro que acertou em cheio o motorista do Jeep...".

Algumas ruas depois do nosso quarteirão havia um rapaz estrangeiro que vendia Chapati, um tipo de pão de origem indiana que eram preparados com uma farinha de trigo integral especial. Todos os dias meu pai comprava uma sacola com três Chapatis; um pra mim, um pra ele e outro pra minha mãe. Aquela massa fina parecia ser o alimento principal no café da manhã de todas as famílias da cidade naquela época.

 Aquela massa fina parecia ser o alimento principal no café da manhã de todas as famílias da cidade naquela época

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Vendedor de Chapati - Imagem do Google

Eu ainda era novo, mas já observava nos telejornais da época que o país poderia acabar se envolvendo numa guerra futura. Então, como toda criança, eu ficava fascinado com a ideia de me tornar militar quando chegasse na maior idade. Seria um futuro brilhante segundo meu pai, que por motivos de saúde não conseguiu servir ao Exército.

Durante as noites era fácil observar como o tédio nos abraçava; na mesa de jantar ninguém conseguia terminar uma refeição sem que perdesse a razão. Geralmente o motivo das brigas eram os mesmos; dinheiro, vida fracassada, alcoolismo, filho problemático... As discussões seguiam até depois do telejornal e se arrastavam até a hora de dormir. Eu sempre fingi não ouvir nada daquilo e logo em seguida pegava no sono que nem sempre durava até a manhã seguinte. Eu sempre tive o talento de acordar durante a madrugada e ficar ouvindo o rangi do telhado; e sempre que isso acontecia, um forte vendaval estaria por vir.

A vida prévia de Ash CobaltOnde histórias criam vida. Descubra agora