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 O dia amanheceu frio. O ar gelado invadiu meu quarto, graças a janela que eu esqueci aberta. Puxei meu cobertor, na intenção de me aquecer, mas não ajudou em nada. Cheguei a conclusão de que eu teria que me levantar, caso contrário, morreria de frio.

 Me levantei e caminhei em direção à janela, com o cobertor ainda cobrindo o meu corpo, fazendo com que o mesmo rastejasse no chão acompanhando o ritmo desajeitado dos meus pés.

 Fechei a janela pela parte do vidro, apenas para bloquear a passagem do vento. Ao observar a rua, notei que não havia ninguém. Afinal, quem seria louco de caminhar pela rua em uma manhã fria como esta? Ninguém. Mas então, mudei minha opinião. Foquei meus olhos em uma pessoa, e estreitei os mesmos, só para ter certeza de que era realmente alguém.

 Uma garota, que aparentava ser alguns anos mais nova do que eu, estava parada observando a casa vizinha, que se encontra em frente à minha. Em seguida, a garota se inclinou para pegar uma caixa que estava na calçada, e seguiu em direção à casa, entrando na mesma.

 — Não é possível — sussurrei. Meus olhos procuravam pela placa que anunciava a venda da casa, mas eles não a encontraram. A casa havia sido comprada. Então, era possível

 Voltei para a cama. Estava cedo, e frio demais, para me levantar e ficar vagando pela casa. Me deitei e fiquei observando o pálido teto do meu quarto, até cair no sono.

"Abri meus olhos e me assustei ao me deparar com um corredor, cuja extensão era decorada com inúmeros armários. Era uma escola, mas não era a mesma em que eu havia estudado. A única luz que a iluminava era a do sol, que já estava se pondo. Então, dei pequenos passos para começar a explorar o lugar.

 Não havia uma pessoa se quer ali.

 Apressei meus passos, mas quanto mais eu andava, mais perdida ficava. Me desesperei ao procurar a saída, e me desesperei ainda mais por não encontrá-la

 Eu estava presa naquele lugar. 

 Ao percorrer o pátiouma sensação estranha me ocorreu. Senti minhas mãos formigarem e minha coluna se arquear levemente. Alguém estava me vigiando, eu podia sentir isso. 

 Então eu corri. Corri desesperada sem saber para onde eu estava indo, corri para fugir de alguém que eu nem ao menos tinha visto, corri pensando em como escapar daquele lugar.

 Parei quando meu peito começou a doer, o mesmo subia e descia com rapidez, na tentativa desesperada de recuperar o ar que foi perdido durante a corrida. 

 A sensação de estar sendo observada voltou imediatamente. Pensei em voltar a correr, mas falhei na missão. 

 Senti mãos agarrarem minha cintura e me puxarem violentamente. Fui arremessada contra um dos armários.

 Então, o lugar escureceu. Foi como se alguém tivesse roubado o sol, naquele mesmo instante, fazendo com que todos os cantos que estavam iluminados por seus raios ficassem absolutamente escuros.

 Não pude ver seu rosto, mas eu sabia que era ele.

 Senti sua respiração pesada próxima ao meu rosto, parecia cansado. Sua mão esquerda passeava pela lateral do meu corpo, subindo cada vez mais, parando em meu rosto. E então, senti seus lábios tocarem os meus.  

 Eu sabia que não era preciso ter medo, não era preciso fugir. Tudo ficaria bem, se eu estivesse com ele." 

 Acordei assustada. Meu coração batia em uma velocidade que, até então, era desconhecida por mim. Comecei a suar frio. Peguei meu celular e disquei o número mais conhecido por ele.

 — Alô? — Eu tentei controlar minha respiração. — Sunhye? Está tudo bem?

 — Soojin, você pode vir até minha casa? — fui direta. — Eu sonhei com ele, de novo.

 — Estou indo — a ligação foi encerrada. 

 Enquanto eu tentava me acalmar, olhei para a janela do meu quarto. Água escorria pela parte exterior do vidro, estava chovendo. Toquei a tela do meu celular, o relógio digital marcava nove e meia da manhã. 

 Droga! pensei. Por que eu voltei para a cama? Essa pergunta ecoava em minha mente. Se eu tivesse-me levantado, ele teria me deixado em paz. 

 Me assustei ao ouvir batidas na porta.

 — Entre — mandei. 

 — Bom dia, filha — disse minha mãe ao entrar no quarto. — Eu estou saindo. Tenho uma reunião importante, e não posso faltar — ela me olhou preocupada. — Tente não sair hoje, está bem? Disseram que vai chover o dia inteiro, então tome cuidado — ela sorriu. — Até mais tarde, querida.

 — Tudo bem — sorri. — Até mais tarde, mãe — ela assentiu e saiu do quarto.

 Me levantei e corri para o banheiro. Tomei um banho, rápido o suficiente para tirar a leve camada de suor que cobria meu corpo, e depois segui em direção à porta do quarto. 

 O corredor estava parcialmente escuro, por conta do dia chuvoso, sem sol. 

 Eu estava descendo as escadas quando ouvi a campainha tocar. Caminhei até a porta, abrindo-a logo em seguida. Encontrei uma Soojin completamente encapuzada. Ela estava com uma grande capa de chuva cobrindo todo o seu corpo, o capuz da capa cobrindo sua cabeça, inclusive seu rosto. Sorri para ela.

 — Bom dia! — Eu disse dando passos para trás, abrindo passagem para a garota entrar. 

 — Bom dia! — Ela entrou retirando sua capa, revelando um sorriso simpático. — Demorei muito?

 — Não, eu acabei de descer. 

 Nos sentamos no sofá, e então contei tudo à ela. Não deixei um detalhe sequer escapar. Eu falava rápido, desesperada. Ela me olhava com os olhos estreitados, tentando raciocinar tudo o que eu dizia. Suas mãos estavam sobre as minhas, na tentativa de me acalmar. Quando eu finalmente terminei de lhe contar, ela assentiu. 

 — Quantas vezes você sonhou com ele? — ela perguntou. 

 — Oito — confirmei. 

 — Oito? — seus olhos estavam arregalados. — Sunhye, você tem noção do que pode ser isso?  

 — Não tenho a mínima ideia — sentei sobre minhas pernas e passei a observá-la.

 — Tudo bem — ela se ajeitou e olhou para mim. — Você nunca reparou em nada que poderia interligar os sonhos? 

 — Como assim? — perguntei confusa. 

 — Algum objeto, algum lugar, ou até mesmo alguma frase. Algo para que nós possamos investigar melhor. 

 — Nunca reparei em nada. Mas posso prestar mais atenção.

 — Procure anotar tudo do sonho, cada detalhe — assenti em confirmação. — E me mantenha informada, por favor! — assenti novamente. E então, ficamos quietas. 

 Imaginei quantas coisas estariam passando em sua cabeça naquele momento. Será que ela realmente estava preocupada comigo?

 — Iria fazer quatro meses — quebrei o silêncio. Meus olhos focaram em minhas mãos.  

 — Quatro meses?

 — Sim — fechei meus olhos.  — Quatro meses sem sonhar com ele. 

 — Sunhye, olhe para mim — fiz o possível para obedecê-la. — Você vai conseguir, vai dar tudo certo — ao terminar, ela me abraçou.

  Eu não conhecia ele. Nunca sequer tinha o visto. Mas mesmo assim, aquela alma perdida insistia em me perturbar. Eu estava realmente feliz por ele ter me deixado em paz. Mas então, ele estragou tudo.

(HIATUS) O Encontro dos Sonhos ♥ kthOnde histórias criam vida. Descubra agora