Capítulo 9

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Nicholas olhou para a minha mão, assustado ao ver o diário. Os olhos arregalados, e a curiosidade preenchendo seu rosto, virou-se para mim, indagando:

— O que é isso, Marina? Onde achou?

— O diário da Elisa. Pode haver alguma pista sobre o assassinato, pode ser útil para ajudar a polícia.

— Que ótimo. Você não vai ler agora?

— Agora não. Acho que preciso procurar algo de útil sozinha. Preciso ler com calma para que os detalhes não me passem despercebidos, pode ser que não tenha nada de interessante, mas acho difícil de acontecer. Será que ela escreveu no dia em que foi assassinada? Não a vi fazendo isso...

— Só porque não viu, não significa que ela não tenha escrito.

— Tudo bem, Nicholas, você tem razão, mas quero ler o diário dela sozinha e depois mostrar para a polícia. Não era nem para eu fazer isso, não acho que ela gostaria que qualquer um lesse o que escreveu.

— Você está certa, talvez seja melhor você ler e me dizer se encontrou alguma coisa. É melhor eu ir embora – proferiu, seguindo em direção à porta.

— Espera um pouco... Talvez você possa me ajudar respondendo uma pergunta. Sabe se a Elisa tinha algum "inimigo" na escola?

— Sim, uma garota tinha vários problemas com a Elisa, acho que elas eram problemáticas desde pequenas. Você deveria procurar pela Alyssa Adams.

— Obrigada, Nick. Só mais uma pergunta. Elisa tinha namorado?

— Claro que sim. Elisa era disputada por todos os garotos do colégio! Mas quem conquistou o coração dela foi o Ethan Evans, capitão do time de hóquei no gelo da escola. Ethan não presta, só falo isso, e tome cuidado ao falar com ele...

— Muito obrigada pelas informações, Nick. Serei cuidadosa se falar com ele, mas talvez não seja necessário. A polícia está investigando o caso. Acho que já pode ir, daqui a pouco estarão procurando por você, e pode ser prejudicado por estar no dormitório feminino.

— Você tem razão, melhor eu ir mesmo. Qualquer coisa me procure, estarei esperando, lindinha. – Nicholas riu e depositou um beijo em meus lábios, saindo do dormitório em seguida.

— Não fale como o seu irmão. – Empurrei-o levemente, de brincadeira.

Fiquei esperando até que ele saísse do corredor e, quando sumiu da minha vista, tranquei a porta do quarto, deitei na cama e comecei a folhear o diário da Elisa.

Realmente não queria que Nicholas lesse o diário porque estava desconfiando de algo. Será que ele sabia de alguma coisa e não queria revelar? Achei estranho o fato de ter ficado todo animado para ler. Gostava do Nick, mas ficaria esperta em relação a ele.

Antes que começasse a ler, resolvi escrever em um papel os nomes que ele me falara. Alyssa Adams e Ethan Evans. Anotei outras informações neste mesmo papel e o usaria para registrar o nome dos suspeitos e os possíveis motivos para o assassinato da Elisa. Não queria que os alunos achassem que era a culpada. Provaria a minha inocência nem que fosse a última coisa que fizesse.

Levantei e guardei o diário embaixo da minha cama, peguei alguma coisa para comer porque já estava faminta. Quando terminei, escovei meus dentes e segui para a porta da entrada, andei pelo corredor até chegar ao campus principal do colégio.

Fui à secretaria para me encontrar com a diretora e as recepcionistas pediram para que eu entrasse. Segui pelo corredor, virei à direita e bati suavemente na porta de madeira. Abri uma fresta da porta e entrei.

— Senhorita Moura, o que faz aqui? Por favor, sente-se, temos que conversar sobre o caso da Elisa.

— Então, diretora, foi por isso que vim até à sala da senhora. Queria saber se houve alguma descoberta.

— As investigações dos policiais não estão dando muitos resultados até o momento. Fizeram uma busca na cena do crime, mas não encontraram nenhuma pista. Estão sugerindo que o caso é de suicídio e que vão investigar com mais afinco assim que sair o resultado da autópsia, caso estejam enganados. – A diretora estava muito agitada e fez uma pausa para acalmar-se. — Já contatei a tia da Elisa. Ela ficou arrasada! Era de se esperar, é claro. Óbvio que ela quer respostas e pediu para avisarmos quando houver um parecer oficial. Garanti que, quando o resultado da autópsia chegar, providenciarei um enterro para a Elisa e os chamarei para comparecerem.

— Todos nós estamos arrasados com a perda – afirmei. — Estou me sentindo muito solitária sem a Elisa. A senhora vai providenciar a retirada dos objetos pessoais dela? Acho que a tia deveria ficar com eles.

— Conversarei com os policiais primeiro e, se eles assentirem, providenciarei para que esteja nas mãos da família.

— Obrigada, diretora. Se houver mais alguma informação, agradeceria muito se pudesse me avisar.

— Fique tranquila, Marina, você será avisada. – Assenti com a cabeça e me despedi da diretora. Levantei e saí da sala.

Estávamos no dia primeiro de novembro de 2015, Elisa tinha sido encontrada morte naquele dia, pela manhã, mas morrera ontem, 31 de outubro. E eu tinha um plano. Olhei para o meu celular e eram 18h10. Não acreditava na possibilidade de Elisa ter cometido um suicídio, a ideia parecia muito absurda. Sabia que alguém a havia matado.

Antes de sair da diretoria, perguntei a uma das secretárias qual o horário de funcionamento dali e, depois de obter a resposta, fui para o meu dormitório me preparar para executá-lo.

***

Quando o relógio marcou 22h10, saí sorrateiramente pela janela. Olhei ao redor, para me certificar de que não seria pega, e andei o mais rápido que pude, sempre tomando muito cuidado para não estar sendo observada por alguém.

Cheguei à diretoria certa de que a porta estaria trancada e preparada para abri-la com meus grampos de cabelo. Entrei e fechei a porta suavemente, para que não fizesse nenhum barulho. Aproximei-me da sala da diretora e girei a maçaneta, pensei que estivesse trancada, mas não. Um frio na barriga tomou conta de mim. Meu estômago estava revirando. Será que eu tinha enlouquecido?

Entrei na sala da diretora e aproximei-me do computador. A parte mais difícil seria encontrar a senha para logar. Procurei pela mesa e nas gavetas algum papel que pudesse me ajudar, mas não encontrei nada. Pensei por alguns instantes. Peguei o teclado do computador e o virei. A senha estava ali. "Ótimo, não foi tão difícil assim", pensei.

Digitei rapidamente a senha e fiz o login. Precisava ser ágil. Estava morrendo de medo de ser pega, mas era necessário fazer aquilo. Entrei no site da escola e escrevi os nomes dos dois suspeitos que o Nick mencionou: Alyssa Adams e Ethan Evans.

Comecei pela aluna. Escrevi seu nome e cliquei na foto que apareceu na tela. Alyssa era uma garota com cabelos ondulados e louros que caíam sobre os ombros, tinha lábios levemente carnudos, e seu olhar intenso era de uma tonalidade acinzentada – característica de um olho azul com traços de lápis preto. O rosto arredondado e o nariz fino. Trajava o uniforme da escola, constituído por uma saia plissada de estampa xadrez com uma gravata combinando e uma blusa social branca por baixo de um blazer preto com bainha e barras brancas e botões no estilo militar, por fim, à direita havia o logo do colégio Canadian Academy Boarding School.

Satisfeita com o resultado, segui para o próximo suspeito. Repeti o mesmo processo.

Ethan era um garoto que possuía o rosto fino e bem delineado, os cabelos negros estavam em um topete lateral suave, os olhos castanhos eram penetrantes e pareciam esconder algo, sua boca era levemente carnuda e sua barba estava por fazer. Ele trajava o uniforme parecido com o de Alyssa, mas sua calça de linho era preta e seu blazer era de um tom vermelho escarlate com a bainha e a barra em detalhes pretos. A gravata também era preta, combinando com a calça. E o logo também se localizava ao lado direito do blazer.

Agora que já sabia quem eram os alunos, faltava apenas ir atrás deles e começar a investigação.

A AcusadaOnde histórias criam vida. Descubra agora