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       Malia Stewart

Meus pés estavam acumulando o suor frio, sobre o mármore áspero do terraço do antigo prédio da minha mãe. Que agora, estava morta.

O vento açoitava meu rosto, mas nem assim, conseguia secar as lágrimas impiedosas que desciam pelas minhas bochechas. De algum modo, eu queria sentir por alguns segundos a dor imensa que me corrompia a cada inalação que eu respirava. Queria sentir o último sentimento em vida meu, que por um motivo mórbido, era o único que me restara.

De repente, olho para meus pés descalços. Um passo para frente e eu estava morta. Isso que eu queria, não é mesmo? Eu queria acabar com toda essa dor que me inundava, eu queria me vingar da vida por ter tirado de mim a única pessoa que eu amava.

Me pergunto como deve ser voar sem paraquedas, como deve ser comprovar a lei da gravidade. Segundo Einstein, a atração gravitacional da Terra confere peso aos objetos e faz com que caiam ao chão quando são soltos como a atração é mútua, a Terra também se move em direção aos objetos, mas apenas por uma ínfima fração. Ou seja: Se eu me jogar daqui, a única reação que causará na Terra é mínima, quase inexistente.

Me repreendo mentalmente por utilizar meus últimos momentos respirando pensando em física. Mas querendo ou não, até quando eu vou me matar eu penso demais.

— Ei. — Uma voz inunda o ar, e me apavoro tanto que quase caio para o mar de asfalto á alguns 80 métros se distância. — O que você está fazendo aí?

Automaticamente viro, e me deparo com um cara de mais ou menos minha idade. Ele está com um cigarro na boca, e segura uma garrafa de um uísque barato. Ele cruza os braços, e percebo que eu havia ganhado uma testemunha bêbada para comprovar meu suícidio fracassado.

— Você pode me deixar sozinha, por favor? Caramba você só pode estar brincando comigo. — Esfrego meus olhos, analisando a absurda situação.

O rapaz ri pelo nariz, e estreita os olhos.

— Não me diga que você vai ser tão clichê de se suicidar na beira de um terraço sujo e fedorento? — Ele zomba, e meu queixo cai.

As lágrimas continuam a rolar em meu rosto. Aquele lugar era o único que me restava de lembranças dela, de como ela rodopiava regando as plantas do prédio, de como ela me trazia pra cá para ver as pessoas andando pelas ruas...

— Me deixe sozinha, por favor. — Resgato o último resto de dignidade que encontrei em mim, e lhe imploro para que ele finja que não me viu e ir embora.

Mas em vez disso, ele nega com a cabeça.

— Não vou deixar você se suicidar nesta merda de lugar, isso aqui cheira a salame. — O rapaz faz uma careta, e fala tão naturalmente como se estivesse comentando o que vai comer no jantar. — Vamos fazer assim, você desce daí, me conta o porque de você querer se matar. Se eu achar que sua vida é realmente uma merda, eu te ajudo a achar um lugar bacana pra você terminar o serviço. Mas se você tiver um motivo tão patético como "Meu namorado terminou comigo por SMS." Você vai ter que se sentar comigo e beber uma dose. — Ele aponta para a garrafa em suas mãos, e dá um sorriso. Eu ainda estava processando aquela situação ridícula em que eu me encontrava. — Vamos, desce daí.

— Espera aí, deixa eu ver se entendi. Você vem e tira uma com a minha cara por eu estar na pior fase da minha vida, e ainda por cima faz uma proposta ridícula só pra não beber sozinho? — Pergunto incrédula, e ele dá de ombros.

— Exatamente. — Ele diz neutro, e eu reviro os olhos, ignorando sua presença e voltando minha atenção para a rua em minha frente. — Tá, eu não quero que você se mate. E eu estou curioso do motivo de você querer se matar. Agora dá pra você descer daí?

Kill your DemonsOnde histórias criam vida. Descubra agora