Capítulo 3

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CAPÍTULO TRÊS

María pegou um táxi para a mansão toscana de Estevão, depois que acabou de fazer compras. O palacete estilo Renascença ficava alguns quilômetros afastado do centro de Florença, erguido entre acres de oliveiras e vinhedos, na região Chianti da Toscana, famosa por seu vinho. O sol fraco de fim de tarde lançava uma luz espetacular so­bre as vinhas. Flores coloridas tombavam de cestos pen­durados perto da entrada da casa. O cenário era de tirar o fôlego, e um lembrete da riqueza na qual Estevão nascera e nunca questionara. Claro, ele tinha conseguido sucesso com seu próprio trabalho como designer de móveis, mas nunca precisara se preocupar sobre as contas não serem pagas ou de onde viria sua próxima refeição. Era difícil não sentir um pouco de inveja. Por que ele queria tanto o Chateau da mãe em Provença, quando possuía tudo isto?

O pensamento de possuir uma propriedade como o Chateau fez María imaginar se deveria tomar a con­vivência com Estevão impossível, de modo que ele não cumprisse o acordo. O pensamento era tentador: um castelo seu, seu próprio pedaço de paraíso. Não era como se Estevão fosse ficar sem nada. Ele tinha casas por toda parte. Esta em Florença era a principal, mas ela sabia que ele possuía uma mansão em Barbados e outra em algum lugar da Espanha.

A porta do palacete se abriu, e uma mulher de apa­rência materna, que se apresentou como Elena, sorriu e conduziu-a para dentro.

— O signor Ferrante me disse que você chegaria esta tarde — murmurou ela. — Eu preparei a Suíte Rosa para você. — Ela piscou com astúcia. — Fica bem ao lado da dele.

María forçou um sorriso.

— Foi muita consideração da sua parte.

— Sem problemas — disse Elena. — Eu fui jovem e muito apaixonada uma vez. Conheci meu marido, e nos casamos em um mês. Eu sabia que o signor Ferrante mudaria de ideia sobre aquela lá.

María franziu a testa.

— Aquela lá?

Elena bufou.

— A princesa Portia. Ela nunca estava feliz. Não gos­tava de carne vermelha. Não gostava de queijo. Só co­mia isso. Só comia aquilo. Eu quase enlouqueci.

— Talvez ela estivesse cuidando do corpo delgado — concedeu María, generosamente.

A governanta meneou a cabeça. — Ela não é certa para o signor Ferrante, que precisa de uma mulher tão apaixonada quanto ele.

María perguntou-se o que Estevão havia falado para a governanta sobre o relacionamento deles, ou se Elena apenas presumia que eles estavam profun­damente apaixonados. Ou, ainda mais preocupante, a governanta podia ver alguma coisa em María que ela queria esconder? Não era como se ela ainda gostasse de

Estevão. Detestava-o. Mas isso não significava que a presença física dele não a perturbava.

— Você parece conhecê-lo muito bem — murmurou María.

Elena sorriu.

— Ele é um homem bom. Muito generoso, e trabalha­dor também. Ele ajuda nos vinhedos sempre que pode, e no pomar. Você o conhecia antes? Eu li sobre isso no jornal. Sua mamma costumava trabalhar para a família dele, si?

— Si — confirmou María. — Minha mãe assumiu a po­sição de governanta quando eu tinha 14 anos. Estevão não estava morando em casa na época, é claro, mas nós nos encontrávamos de vez em quando.

— De amigos para amantes, si? — perguntou Elena, sorrindo amplamente.

— Humm... Alguma coisa assim.

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