1: Assento

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Júlia chegou da escola como todos os dias. Colocou sua mochila no sofá, foi à cozinha, fez seu almoço improvisado. Sua mãe ainda estava trabalhando, como sempre. Ela mandou uma mensagem dizendo que tinha chegado em casa e estava bem, para tranquilizar sua mãe, mas nada substituiria um bom abraço. Depois de almoçar, ligou a televisão para ver o noticiário (algo muito importante para um estudante do Ensino Médio. É importante estar ciente das notícias para a redação no vestibular) e ficou surpresa. Não muito longe de sua casa, em um pequeno restaurante com temática dos anos 50, um homem havia morrido misteriosamente.

"A gente nunca acha que vai acontecer perto da gente." pensou Júlia. E realmente, a gente nunca acha que vai acontecer tão perto. A morte é coisa de televisão e gente velha. Embora quisesse ficar filosofando sobre a vida e a morte, Júlia precisava fazer seus deveres. Lavou os pratos, estendeu as roupas no varal e foi fazer sua lição de casa na varandinha de seu apartamento. Após alguns minutos, sua concentração foi interrompida por uma fumaça sinistra que vinha da cozinha.

Sem entender, Júlia correu para abrir todas as janelas do apartamento. Não fazia sentido, ela não tinha deixado nada no fogo. Ela correu para o hall do prédio pra pegar o extintor de incêndio, mas quando voltou, a fumaça já havia se apagado. Mais confusa do que antes, ela foi até a cozinha e tomou um enorme susto. No lugar onde a fumaça estava, agora havia uma mulher.

Mas não era uma mulher comum (não que sendo comum aquela cena fizesse algum sentido), a moça tinha cabelos lisos e cinzas que desciam até seus ombros, a sua franja era repartida e tinha pequenas presilhas de estrelas nas pontas de seus fios. Ela vestia um estranho terno vermelho, e Júlia via uma camiseta branca por dentro daquele terno. A mulher também tinha um sorriso enigmático e sutis olhos castanhos. Nenhuma dessas coisas parece chamar a atenção de Júlia tanto quanto a altura da criatura, que era de quase dois metros.

-Desculpa ter que entrar assim, minha querida, mas quando eu senti esse cheiro, não pude evitar. - A mulher disse enquanto limpava os ombros.

-O que é tudo isso? - Júlia perguntou sem entender o que tinha acabado de acontecer - Que cheiro?

-Bom, eu sou uma Observadora. Eu resolvo mistérios e me alimento da culpa dos criminosos. - a moça explicou enquanto se dirigia à sala - Eu venho de um planeta distante e precisei de muitos buracos de minhoca pra vir parar aqui na sua cozinha. Pode-se dizer que sou uma viajante do tempo-espaço. Diga-me, onde está esse mistério que eu estou sentindo o cheiro tão forte? Você matou alguém? - ela se inclinou e olhou Júlia nos olhos muito perto.

-Não! - Júlia empurrou a criatura para longe - Se você é de outro planeta por que veio resolver os mistérios daqui? Por que a minha casa?

- Que rude. Eu vim até esse planeta porque não haviam mais mistérios para resolver na minha terra natal. Eu sou muito boa no meu trabalho, mocinha. - ela se inclinou novamente - Muito boa. Mas, eu entendo sua surpresa. - ela disse ao correr para longe - Eu sou bem estranha para os padrões desse planeta. Não que seja culpa minha, vocês humanos que têm muitas coisas na cabeça, emoções, sentimentos, regras. Vou precisar de um nome não é? Vocês são cheios de formalidade. Dá um nome comum pra que eu passe despercebida. Um nome que muita gente tem.

-Eu conheço seis pessoas chamadas Maria. Acho que combina com você. - Júlia respondeu, tentando fazer aquilo ser normal - A propósito, eu me chamo Júlia.

-Maria. Maria. Maria. Gostei, então eu serei Maria. - ela olhou para a varanda e um calafrio percorreu seu corpo - Achei a origem do mistério. E agora que eu estou disfarçada com essa nova identidade, será fácil.

Maria e JúliaOnde histórias criam vida. Descubra agora