Incerteza

172 15 39
                                    



As incertezas de um ser humano, são a corrupção se seu ser.

Incerto de quem você é, incerto da verdade, incerto do futuro, incerto do dinheiro, do sexo, do amor das varias migalhas de prazer que uma vida pode te proporcionar.

Meus pensamentos enquanto sentia o vento ricochetear meu corpo eram incertos, eu apenas sentia, sentia com uma intensidade dolorida, que nunca achei que fosse sentir o barulho das folhas caindo, a brisa gelada, a dor, elas faziam parte do cenário que pintava as telas em branco de minha mente.

Estendi a mão para tentar tocar na paisagem de um sol laranja e um céu colorido, mas antes mesmo que eu sentisse minha mão ser banhada pelo calor, meu corpo foi levado ao chão, e eu senti o frio, o frio da terra me abraçando.

E então quase que de um instante para o outro, eu senti o calor, um calor que queimava minha pele e me trazia conforto, meu coração se aqueceu com o calor e eu senti meus olhos se abrindo novamente, pude ver a minha frente uma mulher, seus cabelos cobriam apenas parte das costas, era pequena e seus cabelos eram como o sol que eu desejei tocar, ela estava ajoelhada, vi suas mãos se estenderem para tocar uma pedra a sua frente.

"Eduardo Benvenuti" lia-se em letras fúnebres, meus olhos se voltaram a ela novamente, e eu pude escutar o barulho fraco de seus soluços e suas perguntas inaudíveis de "por quê", estendi minhas mãos novamente tentando tocar ela, o sol, mas ela se virou, seus olhos eram verdes, verdes como o mar revolto, as lagrimas que caiam de sua face eram como chuva, e os lábios trêmulos se entreabriram me focalizando.

Ela me via? Me via... a incerteza novamente gritou em minha cabeça, inclinei meu rosto para o lado e pisquei duas vezes tentando acordar de meu próprio transe.

- Quem...

A voz dela falhava sem pronunciar as próximas palavras, me agachei a sua frente e estendi a mão novamente, senti quando meus dedos tocaram o dourado do sol, afastei minha mão sentindo o calor que ele emanava queimar meus dedos, segurei minha mão a minha frente revezando meu olhar entre ela e o sol.

- quem? – repeti como um eco a pergunta inacabada.

O sol me olhou confusa com seus olhos de mar, a chuva não escorria mais de seus olhos, mas ela sorriu levemente para mim, brilhante como a lua.

- Nilce, sou Nilce Moretto, o que faz aqui?

Pisquei os olhos e olhei novamente para minha mão, eu estava ali? Quem eu sou então?

- Me conte, quem eu sou? – minha voz era real, pareceu bem real, mas o significado das palavras pareceu soar confuso mesmo para mim, isso espelhou no sol que se chamava Nilce.

Ela sorriu e levou a mão a boca para conter uma tosse.

- bem... eu me faço a mesma pergunta as vezes mas... isso não é algo que eu possa te contar.

Olhei novamente para o nome gravado na pedra.

- quem é? – perguntei apontando, o sol abaixou os olhos nublando-os novamente.

- uma pessoa... muito importante para mim.

- importante...

O silencio então circulou a nossa volta, até ela sorrir com brilho para mim novamente.

- "quem" eu preciso ir... – ela abriu bolça e retirou de lá uma rosa, suspirei com a linda visão de vê-la acariciando as pétalas delicadamente antes de estende-la a mim, a peguei tentando entender o que aquilo significava. – fique com isso, espero que descubra quem você é.


GuardianOnde histórias criam vida. Descubra agora