Meu pecado

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Eu fui feito para ela, essa sempre foi a verdade absoluta e a minha mais pura certeza.

Quando Nilce veio ao mundo em uma manhã de neve, eu pude pela primeira vez também abrir os olhos, eu fui criado naquele exato momento, um garoto, invisível para o mundo e sem nada a entender, mas eu escutei seu fino choro e soube naquele momento o que deveria fazer, passei meus dedos levemente pela pele da pequena rosadinha e meu coração se alegrou quando seu choro cessou, naquela mesma manhã descobri também que era meu dever proteger seu gêmeo, minhas obrigações era duplas e incrivelmente eu só poderia estar feliz com isso.

Os acontecimentos que ocorriam na vida dos dois gêmeos Moretto Benvenuti eram meu entretenimento diário, eu segurei suas mãos nos primeiros passos, eu sorri com suas primeiras palavras e me culpei por dias em seu primeiro machucado.

Nilce em especial sempre pareceu precisar mais de meus cuidados, era uma pequena extremamente atrapalhada em seus passos, um sorriso se abria em meu rosto sempre que eu cuidadosamente e imperceptivelmente segurava em sua pequena mão para que ela pudesse pular sobre um fio no chão ou desviar de algum objeto que cairia em sua cabeça, talvez naqueles momento eu estivesse sendo exagerado em defende-la, mas Nilce era um ima que me atraia a protege-la com tudo em mim, com seus seis anos, ela já me tinha sob total controle.

"huuum""acho que posso chama-lo de... Leon" – disse de forma aleatória, franzi as sobrancelhas, não havia ninguém que não nós dois em seu quarto, a lourinha então parou de ler seu livro e olhou diretamente para onde eu estava, arregalei os olhos, ela estava me vendo?

"eu sei que está ai" disse fechando o livro e o colocando ao seu lado na cama de cochas rosa e branca, se ajeitou de maneira a sentar em suas próprias pernas e sorriu em minha direção, arregalei os olhos, como isso era possível? "eu senti você, sei que está por perto, sei que não pode falar também, mas bem... a Gláucia disse que também tem um amigo invisível e ela fala com ele, então tomei coragem para falar com você" Ela falava enquanto arrumava os fios dourados incansavelmente, eu sabia que ela fazia isso quando estava nervosa, senti meu rosto esquentar, eu reparando nesses tolos detalhes enquanto o que ela estava me falando era mil vezes mais preocupante, isso não era normal, uma protegida não deveria ter contato algum com seu guardião, como ela minimamente poderia sentir-me?

"em fim... seu nome será Leon" disse voltando a pegar o livro, o abriu e virou em uma pagina mostrando em minha direção seu conteúdo. "o herói desse livro é Leon, eu gosto do nome, o que acha?"

....

Momentos como esse entre nós dois não duraram muito tempo, logo que Nilce completou seus nove anos, seus amigos a convenceram que ter "amigos imaginários" era assustador e estranho, a pequena aos poucos foi me esquecendo, mas isso não me machucou, eu queria mesmo que ela fosse uma criança normal e cheia de amigos, e Nilce era.

Em seus onze anos ela se apaixonou pela primeira vez, uma pequena garota dando seu primeiro beijo em baixo de uma arvore de bordo, eu vi com agonia ela sorrir enquanto as folhas amarelas da arvore caiam sobre seus cabelos dourados e suas bochechas coravam, em minha cabeça eu tentava incansavelmente me convencer que eu não queria aquilo por proteção a ela, eu era um tolo de fato.

Com quinze anos Nilce sofreu seu primeiro acidente foi em um dia chuvoso, os carros derrapavam facilmente na rua, Nilce aprendera a ser atenta, mas sempre fora desastrada, eu sabia que aquela era a hora dela no momento em que aconteceu, eu sabia, e então eu o mudei, não sei bem o impulso que me levou a fazer isso, mas descobri logo um desespero que nunca havia sentido antes, o carro bateu nela, e o impacto a jogou três metros para frente, meu coração apertou e eu sabia que como guardião deveria segurar sua mão e entrega-la para a morte neste momento, tão jovem, os cabelos dourados espalhados pelo chão sendo manchados por seu próprio sangue, os olhos verdes perdendo o lindo brilho, meu coração imaterial se partiu e eu me impulsionei a tocar seu rosto e dar-lhe o beijo da vida.

Me afastei deixando que os médicos continuassem seu trabalho, o alivio tomando conta de cada centímetro de meu corpo, vi seus olhos voltando a brilhar e se virando em minha direção enquanto todas aquelas pessoas desesperadas corriam para atende-la, mesmo que por segundos, sei que ela me viu.

As consequências de meus atos imprudentes não passaram impunes, mas apenas recebi um aviso, e pude continuar a protege-la e a seu irmão é claro.

A cada dia que se passava eu me viciava cada vez mais em seus sorrisos e sua voz, Nilce aquele bebe chorão que eu protegia, havia se tornado uma bela mulher, meus sentimentos por ela eram claros, eu mal conseguia conte-los ou esconde-los de nenhum outro guardião.

Entrei em seu quarto vendo que ela já dormia, gostava de me certificar que ela teria uma noite confortável sem pesadelos, sua respiração estava calma, mas seus olhos se mexiam sob as pálpebras, ela estava tendo um sonho, me aproximei de sua cama, sorri antes de tocar em seu rosto, seu sonho era sobre um campo florido e um piquenique com chocolates, eu poderia rir daquilo, Nilce tinha uma mente engraçada.

Mas me afastei subitamente quando a imagem do sonho acabou e ela se moveu sob minhas mãos, arregalei os olhos quando percebi que ela mirava os olhos verdes em mim, ela me via.

"q...quem é você" perguntou levantando para ficar sentada na cama, sua voz não expressava medo, talvez pelo fato de minha presença ser a de um guardião, isso não costumava trazer sensações negativas aos protegidos, mas sobretudo aquele momento me assustava, ela já me sentira antes, mas nunca havia me visto. "ah... Nilce você está ficando louca" disse subitamente voltando a se jogar entre os travesseiros.

Suspirei de alivio mas meu interior se corroía em frustração.

Sai de seu quarto aquela noite e pela primeira vez, senti escorrer em meus rosto aquilo que os humanos chamam de lagrimas, aquele sentimento por ela seria um dia, minha ruina.

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⏰ Última atualização: Jul 09, 2017 ⏰

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