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- Quem está aí?

- Por favor, pode dizer onde estou? Não consigo ver.

- Você está na igreja, o que faz aqui?

- Eu caí aqui.

- O que! Quem é você?

- Eu sou um anjo.

- Você não é um anjo, você é um homem blasfêmico. Você precisa sair agora, ninguém pode ficar na igreja essa hora da noite, nem mesmo um anjo.

Aos tropeços consigo sair, minha visão melhora, estou em uma rua vazia de frente para igreja, é grande com três torres cônicas com uma cruz no topo da torre do centro, sem janelas e com pouca luz, e de postas espelhadas e grotescas, desorientado, olho para os dois lados, ninguém a vista, apenas o som do vento forte, que se vai e não volta mais. 'Ele disse que sou um homem, eu! Um simples e fraco homem, não pode ser'. Olho para o chão e uma poça reflete meu rosto, mas eu não vejo os meus olhos, só dois buracos escuros no lugar. Os carros passam rápido como o vento, parecendo grandes criaturas com olhos de fogo, começou a surgir pessoas de tamanhos e formas distintas, passaram por mim e me olharam, mas acho que não me viram, não conseguia decifrá-las, estavam protegidas ou sem alma.

A claridade veio, e eu senti o sol me envolver com seu calor árduo e gentil, e o amei como a lua. Andando e observando aquelas pessoas apressadas encontro uma praça, sentei-me num banco de madeira ao lado de uma grande árvore para observar mais as pessoas indo e vindo de um lado para o outro, sempre apressadas 'Porque tanta pressa, será que não percebem que a vida falece um pouco a cada milésimo de segundo, eles chamam isso de viver? Que desperdício de vida, logo a vida que devia ser aproveitada ao máximo! A vida é uma criação tão especial' (risada). Um homem velho senta ao meu lado e fala:

-Bom Dia.

-Bom Dia senhor.

Ele está com uma aparência triste, de quem quer apenas está em lugar nenhum, eu digo:

- Você está bem senhor?

- Estou bem.

- Você diz que está bem, sem estar, eu vejo.

Depois de alguns segundos desabafa:

- Eu fui feliz rapaz, e te digo, a vida é construídas de momentos felizes, mas no fim acabamos destruindo tudo que presamos como um trator de finalidade da vida, tanta coisa que nessa vida afugenta a tudo e a todos por fim estamos condenamos meu rapaz, a lutar até morrer, mas nunca ter o que mais queremos.

- Seja sábio senhor, não procure felicidade, nem mesmo a tristeza.

- Sabe o que tem em meus olhos?

- Não há nada em seus olhos.

Eu abri a boca quase disse algo, quase, o resto poderia ter sido diferente, se eu tivesse dito alguma coisa naquela hora, mas eu não disse, só fiquei olhando. Foi a primeira vez que senti a tristeza encher alguém, ou pior, esvaziar alguém.

-Não se preocupe senhor, se de fato tudo tem seu fim.

De repente, os olhos são palavras, e ele começa a chorar, e eu vou embora, 'O problema das memórias é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado, elas não mudam nem acabam'. Então, se cada dia cai dentro de cada noite, há um poço sem fundo por aí, onde a claridade está presa, acho que não tem nada melhor que isso, não a nada e nem outro lugar onde a claridade estaria melhor do que num poço sem fundo.

[...]

Volto para igreja, ao entrar me deparo com os mandamentos nas paredes que soam como piadas infâmias, com uma letra bem pequena, um Padre recepciona-me e diz:

-O que queres aqui?

Eu respondo-o:

-Quero me confessar Padre.

-Tu és católico?

-Não.

-Quando se confessou pela última vez?

-Nunca me confessei Padre.

-Então chegou a hora, a hora certa.

O sigo entre corredores e no mesmo instante acho aquela roupa que ele veste tão ridícula (não demora muito até eu dá uma doce gargalhada), chegamos na porta de uma sala e ele abre e diz:

-Entre e sente-se.

Eu finjo que entro e o espio entrar numa sala ao lado, fecho a porta e me sento numa cadeira estranha como se tivesse outra finalidade, com cordas e amarras, e então escuto barulho de trancas se destrancando, e o Padre abre uma pequena janela com grade com pequenos buracos em forma de cruz, e vejo o difícil, apenas resquícios mas, consigo ver seus olhos e logo ele começa:

-Confesse-te a Jesus e ele vos perdoará.

Eu começo:

-Já fiz muita coisa ruim Padre, minha punição será infindável.

-Já roubei.

-Já matei.

-Já destruí.

-Primeiro.

-Chegamos sozinhos neste mundo e sozinhos iremos embora, tudo que acontecer nesse meio tempo será mera ilusão.

-Segundo...

Me interrompeu com ar raivoso, não conseguiu ouvir minha confissão, "Aposto que foi indiferença". Olho no olho, ele se levanta e mesmo através da grade de cruz consigo vê-lo segurando um crucifixo na mão esquerda ele diz bem alto:

-Veio aqui para me aborrecer rapaz.

-Deus sempre será com nós.

Eu inclino a cabeça para baixo e levemente para e direita e digo:

- Não me peça para interpretar o dito, é que no fundo eu faço e só não posso confidenciar, não compreende meu confessionário...

Levanto-me e saiu depressa mas ainda escuto mesmo longe o suspiro do Padre:

- Que delírio incompreensível.

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⏰ Última atualização: Jan 29, 2018 ⏰

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"O Anjo Demoníaco"Onde histórias criam vida. Descubra agora