Coração selvagem

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Ele espreitava do canto mais obscuro daquela pequena mata que rodeava a aldeia,
escondido atrás de uma palmeira,
como um leão ele contemplava o odor de sua vítima controlando seu desespero, e salivando pela carne quente que rebolava com Swing em volta daquela fogueira.
Não quis voltar a oca por pura teimosia, atiçando o perigo, a bela morena, não acreditava no risco que a rodeava, toda a aldeia já havia se recolhido, sabiam do perigo escondido na mata, mas ela se perdeu envolvida na música que tocava apenas em sua mente, seu rebolado era encantador, ele a observava vidrado, batendo as patas no chão como um touro, esperando apenas o comando daquela que o liderava impetuosa, ele estava totalmente sob o comando daquele luar, que o fazia escravo uma vez a cada mês, ele avançou sobre a índia de olhos vibrantes e corpo perfeito, apoiando as patas sobre seu peito, e ela tomada de pavor permanecia imóvel e o olhava dentro dos olhos, ela parecia enxergar dentro de sua alma, por apenas um segundo houve um vestígio de humanidade dentro daquele coração selvagem, por apenas um segundo ela parou de se debater para observar sua alma, ele saiu de cima de sua presa e ficou a observá-la frente a frente, ela percebeu algo familiar naqueles olhos primitivos, mas quando ele despertou daquele transe momentâneo, foi para cima da moça já cravando os dentes naquele pescoço longo de pele morena, arrancando um belo pedaço, o corpo da índia foi para o chão, e ele se apoiou novamente em cima dela, esmagando seus pulmões com seu peso, a índia desfalecia embaixo daquelas patas enormes, seu sangue jorrava formando uma poça em volta de seu corpo, seus olhos esbugalhados revelavam o terror e a dor que ela sentia, o animal havia perdido todo o vestígio de humanidade que havia dentro de si, cedendo o lugar a seu coração selvagem, e sua alma de lobo que lutava com seu lado humano e que em toda lua cheia vencia a batalha, ele terminou sua refeição. 
Na manhã seguinte ao despertar de seu eu selvagem dando lugar a seu eu humano sem se lembrar de nada sobre a noite anterior, aquele belíssimo índio de olhar indócil voltou correndo a sua tribo, percebeu seus irmãos em volta de um corpo, e naquele momento descobriu que quem lotava agora seu estômago, era sua amada Porã, a índia mais bela da tribo.

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