Capítulo I

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Para que serve as mulheres?

Essa pergunta costumava irritar quase todas as minhas namoradas. Algumas entenderam como uma birra, outras levaram isso como um desafio. Mas o que eu queria saber era se elas conseguiriam ser sinceras com elas mesmas. Dependendo da resposta, eu conseguia definir quanto tempo ficaríamos juntos.

— Para que serve uma mulher? — Minha sócia ria da pergunta. — Você tá falando sério?

Assenti.

— Se eu fosse uma amante sua...

— Namorada. Ou ficante. Depende da resposta.

— Que seja! Se eu fosse uma de suas companheiras, nem me daria o trabalho de responder.

— Por quê?

Ela girou a cadeira para me vê e depois cruzou as pernas.

— Você sabe a resposta?

— Sim.

— Então você não precisaria da minha. — Ilene abriu a gaveta da escrivaninha e pegou uma pasta. — Mudando de assunto completamente: nos ferramos.

Ela jogou a pasta encima da mesa. Não olhei diretamente, mas pelo canto do olho tive um vislumbre dos numerais vermelhos.

— Estamos falindo. — Ela estava com uma expressão preocupada no rosto.

— Não, não estamos.

— Olhe os números. — Ela apontou para a pasta. — Eles não mentem.

— Não estamos falindo. — Garanti, mesmo que soubesse que a realidade era bem diferente. Eu precisava acreditar que ainda tínhamos solução.

— Estamos nos afogando em dívidas. — Ilene disse mais para si mesma do que pra mim.

— Eu sei nadar.

— Então estamos nadando em dívidas. — Ela tampou o rosto com as mãos.

— Mas estamos nadando.

De repente ela me olhou fixamente por uns dez segundos. E finalmente perguntou:

— O que você está aprontando, em Francis?

Não pude deixar de sorrir.

Eu e Ilene nos conhecemos um pouco antes de irmos para o ensino médio.

Logo percebi que ela seria uma mulher muito rica. Eu tinha um talento incrível para arrumar trabalho, já ela tinha as ideias mais incríveis para conseguir o dinheiro.

Na oitava serie começamos a nos falar com frequência. No começo achei que ela era rica, pois sempre se vestia bem e sempre estava de cabeça erguida, como se o mundo fosse apenas um chiclete no sapato que ela iria retirar assim que tivesse oportunidade. Mas não era assim que a vida me mostrou.

Ilene é negra e em todos os dias da vida dela fora lembrada disso. Sua mãe era negra também, e para seu azar (ou sorte, dependendo do ponto de vista) ela era racista.

Sim. Existe negros racistas.

Ilene teve que conviver com o ódio da mãe e o preconceito por todos os lados.

Quando comecei a falar com ela, a cada conversa ou um simples cumprimento Ilene agia como se eu fosse atirar nela. Mas com o tempo ela acabou cedendo.

Infelizmente, eu sou um homem muito curioso e não poupava a pobre Ilene de minhas perguntas sem noção.

— Eu achei que você era rica. — A gente estava comendo melancia no quintal da minha casa. Faltava um mês exato para o meu aniversário de quinze anos.

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⏰ Última atualização: Jun 30, 2017 ⏰

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