O Porão

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O Porão

---Estávamos todos na mesa de jantar e, olhando para os meus pais, fiquei me perguntando: Com quem eu pareço, meu pai ou minha mãe? Uns dizem que sou parecido com minha mãe, porém tenho o jeito marrento do meu pai. Mesmo sem querer admitir, eu acho que somos parecidos em muitos aspectos, talvez nem tanto fisicamente, entretanto em questões de personalidade. Ele é turrão e eu também, mas no final não passa de manteiga derretida. Será que sou uma mistura torta desse amor estranho que existe entre meu pai e minha mãe?

---Depois que terminamos de jantar, pedi licença e fui para o meu porão. Sabe aquele sensação de liberdade? É isso que eu sinto quando estou aqui, é o meu lugar preferido é só aqui eu consigo me esconder dessa mundo cruel.

Gostaria de voltar no tempo, para os bons e velhos tempos quando minha mãe cantava para eu dormir, mas agora estamos estressados. Minha irmã e eu brincávamos de faz de conta, dávamos um ao outro nomes diferentes. Nós íamos construir um foguete e voaríamos para bem longe, costumávamos sonhar com o espaço sideral, mas agora todos dão risada da nossa cara, falam que a gente precisa acordar e ganhar dinheiro.

--- Para mim, meu porão é o lugar mais descolado. As paredes são de cor azul escuro e tem vários desenho engraçados, feitos por minhabirmã e por mim quando éramos pequenos. Também tem vários cartazes de bandas e fotos de lugares por onde viajei.

Às vezes fico me perguntando porque não consigo me sentir assim quando estou com minha família, o meu pai só pensa no trabalho, a minha mãe quase não tem tempo para gente e a minha irmã nem me dá bola ou qualquer tipo de atenção, a única coisa que fazemos em família é criticar um ao outro. Acho que é melhor eu subir, está ficando tarde e não quero levar bronca do meu pai.

Apaguei a luz do meu segundo quarto e subi as escadas, estava alguns metros da porta do quarto quando, de repente meu pai aparece.

---Rusty, onde você estava? (Ele pergunta desconfiado).

---Eh... Estava no jardim descansando um pouco, algum problema? (Respondo um pouco assustador).

---Nenhum, só não quero que vá para a cama tarde, você tem colégio amanhã e se não estudar não vai conseguir assumir o negócios da família. (Fala o meu pai todo marrento).

---É sempre isso né Dr. John, sempre colocando o trabalho em primeiro lugar. Você sabe que eu não quero fazer medicina, na verdade nunca quis! Estou cansado disso, as pessoas ficam dizendo: você precisa ganhar dinheiro ou vai ser um zé ninguém. Eu só queria que as pessoas me entendessem e que pudessem me escutar um pouco. (Respondo ao meu pai com um tom de voz alterado).

---O que é isso Rusty! Eu só faço isso para o seu bem, tudo o que fiz foi para o melhor da nossa família, essa camisa que você tá usando, é de marca e é umas das mais conhecidas, você gosta dessa mordomia que tem, então não reclame. (Fala o meu pai irritado).

---Então o problema é esse? Pode ficar com essa camisa, não faço questão do seu dinheiro e nada que vem de você, agora se me der licença, tenho aula amanhã cedo. (Falo um pouco irritado).

---Depois de ter uma pequena briga com o meu pai, fui para o meu quarto. Me jogo na cama exausto, às vezes eu não entendo as pessoas, ultimamente eu me irrito por qualquer coisa, quando falam comigo ou quando estão querendo que eu faça algo, todos em minha volta só reclamam, parecem que estão infelizes com a vida que tem. Mas a verdade é que ninguém sabe agradecer pelo que tem, e esse é uns dos defeitos dos seres humanos, não dar valor a nada.

A melhor parte do meu dia é quando estou no colégio, só de poder ver ela todos os dias, isso já melhora o meu dia e me faz parecer ser um garoto normal, eu acho.

Coração de PapelWhere stories live. Discover now