Não sei ao certo como havia aceitado fazer terapia intensiva, mas de uma forma ou de outra era por culpa do Peter, ele além de ortopedista era um ótimo manipulador barato. Ainda não havia conhecido Anneline Clark, mas ela já estava me dando nos nervos, pois estava atrasada e como minha vontade de estar ali não era muito ampla esse atraso me incomodava mais do que o esperado.
Eu tentava em uma brincadeira infantil enviar comandos a minha perna esquerda pra que ela levantasse o que não resultava em nada. A sala em que estava era espaçosa e com todos equipamentos necessários para umas 5 pessoas fazerem terapia ao mesmo tempo, mas em uma das minhas exigências à Peter eu havia lhe pedido privacidade, não gostaria de ter outras pessoas fazendo fisioterapia no mesmo ambiente que eu.
Cerca de 7 minutos depois alguém bate na porta Peter surge com um sorriso mais amplo do que qualquer outro que eu já o vira dar em todo tempo que o conhecia. Uma garota surgiu logo atrás dele.
— Eliot, como já deve ter suposto essa é Anneline Clark, Anne este é Eliot Danvers.
— Bom dia senhor Danvers.
Anneline parecia uma adolescente de 16 anos com altura de cerca de 1,56 estava vestida com roupas tipicamente brancas, seus cabelos eram castanhos e estavam presos em um firme rabo de cavalo, a cor de seus olhos era de alguns tons mais escuros que seus cabelos. Ela era bonita, mas não chegava a ser linda.
—Bom dia. — respondi a avaliando, Peter parecia radiante ao seu lado, enquanto ela me olhava, seu olhar me deixou inquieto como se houvesse algo que ela soubesse e eu não.— Bom, Eliot eu espero que você se comporte e obedeça Anne ela é uma ótima profissional e Anne seja o mais rígida possível com ele, assim quem sabe ele melhora o humor.
Olhei Peter querendo profundamente ser grosso com ele, mas notei que ele estava tentando aliviar o clima e deixar as coisas mais confortáveis. Ele logo continuou a falar coisas aleatórias e depois saiu nos deixando sozinhos.
— O Dr. Anderson, me disse que você preferia fazer as sessões isolado dos outros pacientes, algum motivo em especial? — ela perguntou enquanto ajeitava apertava um pouco mais o rabo de cavalo, olhei pra algumas barras que davam apoio para sessões em que caminhar era necessário.
— Eu prefiro assim, ver pessoas evoluindo e caminhando enquanto estou preso nessa cadeira é exaustivo. — olhei pra ela, esperando um olhar de repressão, pena ou até mesmo repúdio surgisse, mas não, ela apenas me olhou e balançou a cabeça como se compreendesse.
— Você é praticante de alguma religião? — Ela perguntou enquanto mexia no dedo anelar, brincando com um anel imaginário.
— Não, por quê?
— Eu sou cristã — começou ela — e tenho o hábito de orar antes de qualquer coisa, se importaria se eu fizesse isso?
— Desde que seja breve, afinal você está atrasada.
— Será — ela assentiu com a cabeça.
Era estranho ver alguém orando, especialmente quando esse alguém era uma desconhecida que estava ajoelhada em um canto da sala, as mulheres que já virá ajoelhadas foi em um gesto de submissão e muitas vezes erótico, ela estava ajoelhada falando com Deus enquanto deveria estar trabalhando e eu me perguntava o que porquê havia permitido. O que pareceu uns dois minutos me rendeu um tempo maior para observar a figura curiosa que se encontrava a alguns metros de distância.
Ela era diferente, isso já havia notado, algo nela era intrigante e seu olhar transmitia algo, algo que eu não compreendia.
Quando tive de me alongar Anneline me ajudou sem muito esforço, mesmo sendo pequena e sem muita musculatura, o peso da minha perna não parecia incomodar, senti um leve formigar no joelho direito quando ela pousou a mão sobre ele e foi reconfortante sentir algo naquela região.
E sem que eu percebesse já havia passado mais de uma hora e havia exercitado em dois equipamentos, ela era atenciosa e cuidadosa, perguntando sempre sobre como me sentia, também falava muito, me contou que terminou seu curso fazia apenas alguns meses.
— Como você decidiu ser fisioterapeuta? — Perguntei intrigado, enquanto ela me ajudava com movimentos leves.
— Quando eu tinha 17 anos não sabia ao certo o que fazer, tinha acabado de terminar o ensino médio, estava perdida; acho que a maioria das pessoas passam por essa fase, foi quando vi uma peça, que falava sobre cura e nela uma garota através da fé tinha caminhado. E foi naquele momento que senti que precisa daquilo, que com Jesus queria curar as pessoas. Sabe, simplesmente tocar nelas e através desse toque elas fossem capaz de caminhar? Acho que nada iria me satisfazer mais que isso.
— Você acredita que posso voltar a caminhar? — Ela falava com tanta avidez e certeza, que fiquei curioso pra saber se ela acreditava que eu poderia caminhar, nunca possui uma religião realmente, não fui capaz de sentir calafrios, ouvir vozes ou coisas sobrenaturais das vezes que frequentei igrejas, então sou totalmente leigo ao que se refere experiências sobrenaturais baseadas na fé. Vê-la falar sobre Jesus me deixava intrigado.
— Você não?
Não falei nada apenas olhei para minhas pernas, nunca havia passado por minha cabeça perder a mobilidade, nunca havia pensando na possibilida de não correr para me proteger de uma tempestade, ou não de não ir à praia, ou simplesmente não poder subir as escadas para chegar ao meu apartamento.
Mas a vida é assim, você nunca espera nada, não espera uma morte, não espera um acidente, não espera nada além de coisas boas. Mas é na espera por coisas benéficas que coisas ruins acontecem e estragam tudo.
Eu queria voltar a andar, queria correr e queria ficar de pé no dia da minha formatura na faculdade. Mas querer, desejar, sonhar em caminhar não mudariam o fato de que permaneceria em uma cadeira de rodas pelo resto da minha vida.
Anneline ficou calada, não falou. Pensei que ela viria com algum tipo de frase tumblr decorada, pelo menos era isso que todos faziam "não desista antes de tentar" ou "você é jovem demais pra pensar assim", "Deus tem poder pra curar".
Eu entendia que as pessoas queriam ajudar. Mas isso não mudava nada.
...
Exatamente duas semanas depois, Peter não estava tão radiante como no início, ele parecia preocupado todas as vezes que eu o encontrava, seja no seu consultório, seja observando por algum tempo minhas sessões de fisioterapia.
Anneline continuava orando, falando comigo mas a conversa era monótona nada de extraordinário. Foi numa tarde de terça-feira que algo mudou, Ao invés de roupas brancas ela surgiu com uma saia rosa de bolinhas brancas, meias azuis também com bolinhas brancas que cobria toda sua perna, ela vestia uma blusa do Mickey mouse, seu rosto estava com as bochechas rosa, muito rosa, provavelmente devido ao uso de blush, sua boca estava desenha por um batom que formava um coração no meio de seus lábios.
Eu olhei para seus olhos e havia algo diferente ali, seus cílios estavam maiores, mas a diferença não era referente a isso, havia uma alegria estampada ali. E sem percebe sorri ao ver em sua cabeça coroa muito antiquada de princesa.
— O que é tudo isso? — perguntei.
...
OLÁ! Feliz Páscoa.
Gostaria de dizer que já ganhamos o melhor presente de todos! A morte de Jesus é triste, mas a sua ressurreição é a coisa mais linda, incrível e magnífica que já ocorreu. Pois ela simboliza que nem a morte foi capaz de o impedir de nos amar. Jesus e eu amamos a sua vida!
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Quando Conheci Você
RomanceEliot Danvers aos 22 anos sofreu um acidente que invalidou seus movimentos das pernas, aos 23 havia perdido todas as esperanças de voltar a caminhar. Aos 24 anos e 10 meses algo o fez acreditar que poderia sim voltar a movimentar-se. Anneline era co...