Capítulo 1

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Abri os olhos e vi que ainda eram 7:28, além das persianas pude ouvir o leve som de chuva contra a janela, hoje teria de ir ao médico, em mais uma consulta, para ouvir mais uma vez que as chances de eu voltar a caminhar eram quase nulas, tirei o denso lençol azul que me cobria e sentei.

Após ter feito minha rotina matinal, voltei a sentar na cama, liguei a TV em um canal qualquer enquanto esperava Steve.

Steve era um homem de seus 47 anos, a cerca de dois anos trabalha pra me ajudar a ter uma vida mais cômoda e fácil, basicamente ele é minha babá, não sei muito sobre a vida dele, apenas que tem duas filhas é divorciado e sempre que pode está lendo a bíblia.

Não consigo compreender porquê dele ler tanto esse livro, eu entendo que Jesus veio, morreu, ressuscitou e salvou todo mundo, mas pra quê? Vejo o mundo, as pessoas e me pergunto o que ele veio salvar? Pessoas que não dão a mínima com a dor do próximo? Cristãos que são incapazes de viver o cristianismo?

Steve entrou batendo na porta do quarto com suas vestes de sempre: uma camisa pólo verde musgo, calça preta e tênis esportivo.

— Bom dia senhor Eliot. - Cumprimenta ele com um aceno de cabeça.

— Bom dia Steve.

— Percebo que já está acordado há algum tempo, algo que possa ajudar?

— Não no momento, que horas iremos ao médico?

— Às três senhor. - Disse ele prontamente.

— Bom, então gostaria que me ajudasse a trocar de vestimenta para ir tomar café na mesa. -Ele acenou com a cabeça enquanto ia ao guarda roupas.

— O que gostaria de vestir? - Perguntou ele.

— Gostaria de uma camisa vermelha e uma calça caqui preta, também gostaria de um sapato usual por favor.

Ao chegar a mesa de café da manhã encontrei o velho Henry Danvers sentado com seu jornal e uma xícara de café preto sem açúcar, ele era presidente executivo de uma empresa de telecomunicações o que o fazia sempre muito ocupado. Isso havia mudado um pouco depois que eu havia sofrido o acidente, mas depois que tudo voltou ao "normal" sua rotina habitual também retornou.

Minha mãe ainda não havia se juntado a mesa, provavelmente estava em seu ateliê, ela possuía um estranha inspiração ao acordar pela manhã.

— Bom dia. — Minha cadeira de rodas era moderna o que ajudava na minha locomoção sem muito esforço ou dependência de terceiros, Steve ficou em pé prontamente disposto para o que eu precisasse enquanto tomava meu café, alguns minutos depois meu pai terminou o seu café da manhã, levantou-se me desejou boa sorte hoje e disse que gostaria que eu fosse com ele algum dia ao escritório.

Eu costumava fazer isso, acompanhar ele, não que fosse meu hobbie preferido, mas isso o agradava então era o suficiente.

— Bom dia querido! — Cantarolou Elizabeth Moore Danvers, ela era incrível, a mulher mais linda e encantadora que já havia conhecido, minha mãe tinha 49 anos possuía uma aparência de 37 e uma personalidade e otimismo maior que a maioria dos jovens de 24 como eu. Seu cabelo batia em seu cotovelo exibindo umas mechas loiras.

— Bom dia mamãe.

— Sei que hoje terá uma consulta e eu gostaria de o acompanhá-lo.

— Na verdade eu gostaria de ir sozinho, preferia apenas Steve me acompanhasse. — Falei tomando um longo gole de café.

— Eu realmente gostaria de ir, entretanto se a companhia de sua mãe é inconveniente posso conviver com isso. — Uma das coisas que tive que aprender lidar foi com drama de Elizabeth Danvers. Apreciava o desejo dela de me acompanhar, mas em todas consultas que ela já havia me acompanhado na esperança de ouvir um "seu filho vai voltar a caminhar", era deprimente ver a tristeza dela ao ouvir que isso não isso era impossível de acontecer.

— Fico contente que a situação seja compreensível, tenho certeza que terá muito o que fazer no ateliê mãe.

Após mais alguns minutos de conversa o assunto da consulta havia sido esquecido e tomamos café normalmente.

Uma das coisas que eu mais gostaria de voltar a fazer era dirigir e quando vi Steve se colocar no banco do motorista e dar partida no carro senti vontade de estar no lugar dele, sim era um desejo idiota, porém, ter controle sobre algo como o volante de um carro era como ter a possibilidade de voltar a ter controle sobre sua vida, saber onde ir, ir onde quiser sem precisar ficar dependendo de alguém.

O percurso até o hospital de ortopedia e traumatologia não demorou muito Steve me ajudou a sair do carro e a me acomodar na cadeira de rodas, ela era motorizada não era o volante de um carro, me permitia percorrer apenas alguma distância, claro que se houvesse obstáculos qualquer percurso seria mais difícil.

Dr. Peter Anderson era um ortopedista renomado e ficará responsável por cuidar de mim três meses após o acidente, ele era dedicado em encontrar novas terapias e pesquisas para que todos os seus pacientes pudessem se locomover novamente, incluindo eu.

— Boa tarde, Eliot fico feliz em rever você, Sr. Steve. — Steve fez um breve aceno de cabeça.

— Boa tarde Peter. —Falo o cumprimentando.

Seu consultório era aconchegante, cores neutras e com espaço o suficiente para acomodar diversas pessoas. Steve se retirou me deixando sozinho com Dr. Peter.

— Bom dei uma olhada nos seus novos exames e não houve muitas alterações notáveis — Começou ele dizendo. — apenas notei uma leve atrofiação no seu joelho direito, devido as suas escassas sessões de fisioterapia, então o aconselharia e particularmente gostaria que retomasse a terapia intensiva.

— Eu fiz dois anos de fisioterapia intensiva com os melhores fisioterapeutas que foram possíveis encontrar aqui e o único resultado obtido foram dores todas vezes.

— Bom eu sei que você está frustrado com isso, com tudo, mas eu peço que faça apenas algumas sessões com um fisioterapeuta em especial.

— E quem seria?

— O nome dela é Anneline. — Franzi o cenho o nome era incomum como uma tia-avô com 67 anos. — É inexplicável as alterações que foram vista durante os últimos dois meses com todos os pacientes que ela ficou responsável e eu quero que você pelo menos tente, vou cuidar para que as sessões sejam na sua casa assim você ficará mais confortável.

— Peter, é espantoso que você ainda não desistiu quando eu mesmo já fiz isso. Não quero criar falsas esperanças ou frustar a minha família com mais uma tentativa vã. Sinto muito desapontar você, mas a resposta é não.

Quando Conheci VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora