Capítulo 1 - Parte 2

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Quando recebi seu e-mail avisando que sentia muito, mas que não poderia aprovar meu projeto, juntamente com uma crítica do meu livro, pensei que surtaria. Faltava pouco mais de um mês para minha formatura e ele estava jogando um balde de gelo na minha cabeça.
Era algo inovador. Um livro. Um romance escrito por uma aluna como tese de conclusão de curso. Um projeto que ele mesmo gostou de participar, então por que inferno não podia me aprovar? Ele mesmo disse que escrever um romance erótico, a moda do momento, seria uma forma interessante de concluir o curso.
Um idiota de carteirinha!
E o que ele disse? O texto não tem a profundidade necessária. Não possui uma base sustentável, apesar de possuir coerência e coesão. Um babaca! Com certeza bebeu até tarde em suas farras, sim, porque o professor Frankli era um homem depravado, que participava de orgias, que pegava geral e, por causa disso, não conseguia manter os neurônios alertas para avaliar a merda do meu livro. 
Cansada e acuada, tomei a única decisão possível. Precisava contar a ele. Precisávamos ter uma conversa franca e aberta. Quem sabe, assim, o senhor "ninguém é melhor do que eu" poderia descer um pouco do seu pedestal e me ajudar de verdade?!
Que grande merda!
No fundo, Miranda estava certa. O professor Frankli não somente um dos melhores professores da universidade e, como tal, o coordenador do meu curso. Era também proprietário de uma das melhores editoras do Brasil e, se eu conseguisse impressioná-lo, era quase certo que teria meu livro publicado por ela. O sonho de qualquer escritor.
Bem... Pelo visto isso eu não conseguiria. Aliás, pelo que ele tinha deixado claro, eu não conseguiria que ninguém publicasse. Eu era um completo fracasso.
Naquele mesmo dia, digitei uma mensagem rápida e decidimos nos encontrar na praia. Sim, ele surfava. O filho da mãe não era apenas um idiota pervertido, isso era o que eu imaginava, nem o cara mais bonito com quem eu já havia topado em toda a minha vida. Era também um gato sarado, de corpo bronzeado, que surfava e se exibia nas praias do Rio de Janeiro.
Enquanto eu não era bem o tipo de garota que se divertia em praias. Piorava, e muito, quando eu precisava usar filtro solar fator cinco mil, me proteger com chapéu, além de não poder dispensar o guarda-sol. Por isso, jeans, camisa básica, tênis e uma bolsa mochilinha foram minha opção, melhor do que qualquer outra roupa. No horário combinado, eu já estava de pé na areia, aguardando.
Canto do Leblon. Foi o lugar que ele resolveu surfar naquele dia. Dava medo só de olhar aquelas pedras e todos os surfistas tão próximos delas. Conferi o relógio. Já era de o professor Frankli se dignar a aparecer. Ou ele esperava que eu entrasse na água? Tenha a santa paciência!
Não basta ser idiota, cretino, soberbo, reprovador de trabalhos fantásticos, ele ainda tinha que estar atrasado. Era só o que me faltava! Me encostei em um carrinho de água de coco e comprei uma para aproveitar a sombra. Foi quando o avistei.
Claro que meu queixo caiu quando o vi saindo do mar. O professor Frankli era um homem muito bonito e atraente, principalmente pelo seu ar de desinteresse. Seu jeito casual contrastava com sua postura acadêmica e, definitivamente, ele ficava perfeito em seus ternos caros. Porém, nada se igualava a ele saindo do mar.
Seu corpo era completamente harmonioso. Ombros largos e corpo magro. Peitoral definido. Pelos cobrindo seu tórax descendo até... Sim, até lá. Suspirei. E era bronzeado. Uma pele lindamente bronzeada, daquelas que dá vontade de passar a mão para ver se a tinta sai.
Não era para suspirar. Nem para olhá-lo como se estivesse olhando algo comestível. Afinal de contas, apesar de ele ter povoado meus sonhos nos últimos meses, naquele momento, eu o odiava.
Se ele soubesse que era nele que eu pensava quando escrevia. Se imaginasse que quando descrevia o que meu casal de personagens fazia, imaginava-o no papel principal... Se qualquer pessoa sequer sonhasse uma coisa dessas, eu seria ridicularizada.
Ajustei meus óculos, paguei o coco e saí debaixo do guarda-sol, para que ele pudesse me ver. Se bem que, diante de tanta perfeição, eu não estava muito certa se queria mesmo aparecer de jeans, camiseta básica e tênis. Putz! Como alguém podia ser igual àquele homem? Ele era simplesmente... Perfeito!
Não que eu fosse apaixonada pelo professor Frankli. De forma alguma! Sei muito bem onde colocar meu pé. Mas, desde que ele começou a me orientar, com o seu incrível sorriso torto, minha mente passou a ser povoada por imagens impróprias.
- Que Miranda nunca seja capaz de ler minha mente.
Falei sorrindo para mim mesma e depois, mordendo os lábios, para que ele não pensasse que eu estava flertando. Era melhor assumir a postura profissional e aborrecida do que a de aluna deslumbrado por tanta beleza.
O professor Frankli, carregando sua prancha e usando uma bermuda azul, dessas que caem na cintura e mostram todo movimento dos quadris, caminho lentamente em minha direção, sacudindo os cabelos, longos fios negros lisinhos que formavam uma cortina meio bagunçada, descendo até um pouco abaixo das orelhas.
Ele tinha olhos azuis também. Mas não azuis sem graça como os meus. Eram de um azul escuro, profundo, penetrante, como a água de uma lagoa presa dentro de uma caverna. Para completar, tinha cílios negros, longos, que faziam sombra em seus olhos, como se fossem pintados em uma maquiagem perfeita. E sobrancelha espessas, tão escuras quanto seus cabelos, combinando com todo seu rosto.
- Pensei que estivéssemos em uma praia. - disse ao se aproximar.
Seu sorriso extraordinário era quase como uma declaração de que pertencíamos a mundos diferentes. E realmente pertencíamos. Ele era do planeta "me inveje porque sou rico, lindo e extremamente sexy" enquanto eu era do planeta "me ignore, pois sou sem sal, sem graça e sem competência". Imediatamente, desviei o olhar e disfarcei ajeitando os óculos.
- Jeans e tênis não combina muito com ambiente. - continuou falando ao meu analisar dos pés à cabeça. - está um dia lindo.
Pensei que meu rosto pegaria fogo.
- Não vim aqui para me divertir, professor. - Pisquei para encara-lo sem demonstrar o encanto que me dominava.
"Eu te odeio. Eu te odeio." Repeti mentalmente até que meu corpo entendesse que aquele ser sorrindo lindamente era o inimigo que estava jogando os meus sonhos no lixo.
- Sei. - Ele fez cara de desagrado. - veio por causa do meu e-mail. Precisamos mesmo conversar, Charlotte, mas não vamos fazer isso debaixo desse sol. Vamos ao quiosque. Lá poderemos beber alguma coisa conversar melhor.
Seguimos pelo calçadão em direção ao mirante onde encontramos o bar. Naquele horário não havia muitos clientes, apesar do dia ensolarado e o tempo firme. Além de nós dois, que ficamos em uma mesa afastada, um grupo de surfistas bebendo sucos coloridos conversava animadamente. Assim que me sentei, senti que toda a minha preocupação pesava mais do que eu imaginava em meus ombros.
Minhas mãos estavam suados, minha boca estava seca, meu coração acelerado e eu tinha certeza de que minha cor não estava nada legal. Pelo menos não para aquele homem bronzeado sentado diante de mim. Engoli em seco, decidida a abreviar a conversa.
- Não posso ser reprovada.
Ele sorriu daquela forma desconcertante.
Era tão irritante vê- lo tão leve, feliz, relaxado, mesmo sabendo que estava destruindo a minha vida. Ele deveria, pelo menos, fingir que não estava se sentindo tão bem por reprovar o meu projeto. Parece até um carrasco, um sádico deleitando-se com a tortura que infligia.
- Seria realmente uma pena, só que, infelizmente, não posso aprovar um romance como que você me apresentou.
Eu o odiava!
- Porque não? O que tem de errado com o que escrevo? Sigo a mesma linha de muitos autores do momento. E o senhor sempre elogiou tudo que eu apresentava.
- Muitas desses autores do momento não deveriam, sequer, estar escrevendo.
Seus olhos incrivelmente azuis me encararam desafiadoramente. Por um segundo, acreditei que me afogaria naquelas duas lagoas profundas, mas pisquei, reestabelecendo- me. Suspirei buscando equilíbrio para mantermos nossa conversa em um tom conciliador.

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⏰ Última atualização: Mar 27, 2017 ⏰

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O Professor  - 1° Temporada. Ele vai ensinar, ela vai aprender.Onde histórias criam vida. Descubra agora