A Princesa

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Era 17 de maio de 1720, o calor do sol em meio às águas cintilantes do mar de Trust indicava que o dia não seria fácil — de novo —, para o Capitão Leonard que navegava rumo à Ilha de Cylla.  Estavam carregados do último saque que, fora bem-sucedido e estava com carga máxima em sua Corveta, um dos vários tipos de embarcações que os piratas usavam. Ele estava exausto e louco para chegar à ilha para beber algumas canecas de cerveja e porque não, aproveitar um pouco da noite com algumas moças da região, até que chegou um homem tirando-o de seu devaneio.

— Capitão, estamos quase chegando.  — Disse o homem.

— Tudo bem. Velas a toda! — esbravejou Leonard aos piratas responsáveis pelas velas.

O homem, que, na verdade, era o imediato do Capitão, acenou com a cabeça e repetiu o comando.

— Vocês ouviram cambadas de pinguços bêbados! Velas a toda!   

Foram ouvidos alguns xingamentos e ainda assim todas as velas foram içadas e depois de um curto período o navio aumentou gradativamente sua velocidade com a ajuda do vento. Passado cerca de uma hora de velejo lá estavam eles avistando a Ilha.

— Terra a vista! — gritou um dos homens.

— É hoje que vamos comemorar! — gritou outro dos homens, esse, era careca e com uma cicatriz enorme no olho direito.

Os homens começaram a gritar satisfeitos por estarem chegando à terra firme e pelo saque bem-sucedido e ainda mais eu diria, por poderem ver suas mulheres — quem as tivesse —, e passar algum tempo com as outras que pudessem pagar.

Leonard ordenou para que todos se preparassem para a chegada e fez sinal para o imediato vir até ele enquanto faziam os preparos para atracar o navio.

— Precisamos dividir o saque com os nossos e com Gerald na ilha, para pagarmos alguns suprimentos que vamos precisar para a próxima saída.

— Sim, Capitão, já tenho tudo anotado. O senhor quer ver?

— Deixe-me ver. — – falou não como um pedido, mas já pegando a prancheta de sua mão.

— Reduza para 30% o valor que vamos entregar a Gerald, o restante fica.

— Tudo bem Capitão — falou o imediato enquanto se virava descendo a rampa.

— E Harris... — disse Leonard chamando o imediato.

Ele olhou para o capitão.

— Sim, capitão?

— Se souber que alguém tirou mais do que devia, me avise.

— Sim, senhor.

Leonard saiu do navio e pisou na areia úmida da praia. A sensação de terra firme dava uma sensação de segurança e, ao mesmo tempo, uma nostalgia. Nostalgia, porque quanto mais tempo se passa num navio você começa a perder a noção do que é a terra firme, ou até mesmo esquecer-se dos rostos que ficaram por lá. De qualquer modo, Leonard não era o tipo de capitão nostálgico ou sentimentalista — seu cargo não comportava esse tipo de sentimento —, ele apenas sentiu uma leve satisfação de poder estar de volta — e inteiro — à terra firme.

Em Cylla, o comércio não era tão grande e boa parte era ilegal aos olhos dos guardas de Liam, que a propósito, era terra onde eles viviam e onde o reinado do Rei Frederic estava à beira do caos. Mas não para os piratas que vivam ao redor nas ilhas clandestinas, fazendo delas sua moradia para fugir dos chapéus brancos como eram conhecidos.

Leonard passava entre algumas barracas que vendiam dos mais variados objetos e, quem estivesse disposto a pagar ou fosse louco o suficiente para adquirir um produto meia boca, poderia achar ali mesmo. Logo em seguida, ele virou em uma das ruas e avistou a casa de dois andares improvisada, construída com bambu e madeira que encontraram na ilha.

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