O CAÍDO

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O Começo...

Eu sou Raziel, um dos vinte anjos caídos falados por Enoch nos livros antigos.

Eu vivo no mundo escondido do Sheol , com os outros Caídos, onde ninguém sabe de

nossa existência, e nós vivemos daquele modo desde a queda, milênio atrás. Eu devia ter

imaginado que existiria dificuldade no horizonte. Eu podia senti-lo em meu sangue, e não

existe nada mais poderoso do que sangue. Eu tinha aprendido a ignorar aqueles

sentimentos, da mesma maneira que eu aprendi ignorar tudo que conspirou para me trair.

Se eu tivesse escutado, as coisas poderiam ter sido diferentes.

Levantei-me naquele dia, no princípio, estendendo minhas asas para a luz fraca

da madrugada. Uma tempestade estava por chegar eu podia sentir pulsando em minhas

veias, e em meus ossos. No momento o oceano estava tranquilo, a maré entrando e a

névoa era densa e morna, um abraço envolvente, mas a violência da natureza pendurou

pesado no ar.

Natureza? Ou Uriel?

Eu dormi do lado de fora novamente. Adormecido em uma das cadeiras de

madeira, cuidando do Jack Daniel, um dos muitos prazeres deste último século. Jacks era

demais, verdade seja dita. Eu não queria que esta manhã chegasse, entretanto, eu não era

um fã das manhãs. Só mais um dia no exílio, sem esperança do que? Fuga? Retorno? Eu

nunca poderia retornar. Eu já tinha visto muito, feito muito.

Eu estava preso aqui, como os outros. Durante anos, tantos anos que eles tinham

deixado de existir, perdidos nas névoas do tempo, eu vivi só nesta Terra sobre a maldição

que nunca seriam erguidas.

A existência tinha sido mais fácil quando eu tinha uma companheira. Mas eu

tinha perdido muitas ao longo dos anos, e a dor, o amor, era simplesmente parte de nossa

maldição. Desde que eu me mantivesse indiferente, eu poderia privar Uriel de um pouco

de tortura. O celibato era um preço pequeno para pagar.

Eu descobri que quanto mais tempo fico sem sexo, mais fácil é suportar, os

físicos e ocasionais acasalamentos que eram o suficiente. Até que alguns dias atrás,

quando a necessidade por uma fêmea, de repente vieram rugindo de volta, primeiro em

meus sonhos rebeldes, então em minhas horas de vigília. Nada que eu fizesse poderia

dissipar o sentimento, uma necessidade quente, devastadora que não podia ser

preenchida.

Pelo menos as mulheres em volta de mim estavam todas reclamadas. Minha

fome não era tão forte que cruzaria aquelas linhas, que eu poderia olhar para as esposas,

tão simples e bonita, e não sentir nada. Eu precisava de alguém que existia somente em

meus sonhos.

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