29|| Regresso

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          25 de fevereiro de 2017 - 9h

  O avião aterra e sinto uma grande inércia em mexer-me do meu lugar no avião. Olho pela janela e, pela primeira vez em 2 meses, vejo uma paisagem que já conheço... Não sei o que estou a sentir, mas é algo diferente... É bom, mas estou reticente... Será que foi de facto a melhor decisão voltar a casa? Sem avisar ninguém...

  A hospedeira acorda-me dos meus pensamentos e por momentos vejo nela a figura da rapariga de São Francisco que não me sai da mente. Levanto-me agradecendo e sigo as pessoas até ao local onde nos seriam entregues as malas. Espero pacientemente, não sei se já por mudanças feitas pelas viagens em mim ou pelo meu receio das próximas horas. Pela passadeira e a passar as fitas vejo a minha mala cinzenta que complementa a grande mochila que carrego nas costas.

  Saio do aeroporto, mas antes ligo o telemóvel e logo vejo, mais uma vez, as mensagens e chamadas a surgirem. O meu coração acelera bastante, provavelmente mais do que esperava. Chamo um táxi, pois antes de me dirigir para casa, pretendia voltar ao sítio onde, no primeiro dia desta minha aventura, vi o fogo de artifício de Sidney.

  Chegado ao local peço ao taxista que espere por mim e começo o meu caminho apressado, embora a disfrutar, por entre as ramagens até ao sítio que pretendia. Quando chego pouso a mala no chão e tiro de lá todos os ímanes que recolhi a cada dia, em cada cidade e país... Coloco-os todos juntos e, pela primeira vez, tiro uma foto aos ímanes com a magnífica vista sobre Sidney.

  Uma lágrima ameaça cair, e vejo o meu lado mais sensível a vir ao de cima. Foi uma viagem louca cheia de aventuras, de conexões, de fraquezas que me tornaram muito mais forte. Hoje considero-me diferente de quando saí da minha praia, da minha origem, do meu porto de abrigo. A insegurança a que me expus no mundo trouxe-me muita confiança da qual necessitava. Foram viagens de descobertas, do meu próprio eu, do que preciso na vida e do que posso dispensar. Acima de tudo foram viagens que me proporcionaram o abrir do meu coração para o perdão dos meus pais, motivo pelo qual abandonei toda uma rotina.

  Na minha cabeça, de volta ao táxi e fornecendo-lhe a morada para a qual iríamos, deparo-me com aqueles cabelos castanhos a pairarem nos meus pensamentos. Se ao menos soubesse o seu nome... Mas o que estou para aqui a dizer?

  Pago o táxi e saio da viatura com todas as minhas bagagens agradecendo a viagem e a paciência do taxista por ter esperado por mim.
Sei que não sou considerado para ninguém um ideal de pessoa, mas todas estas experiências adaptaram-me a este mundo e aos conceitos de simpatia e respeito.

  Por momentos deixo-me ficar em frente à fachada daquela que, por muito tempo, foi a minha prisão. A prisão da minha alma... Mal eu sabia por essa altura que fora daquelas paredes existia todo um mundo à espera de ser descoberto, que fora daquela que era o meu ideal de cidade existia muito mais belezas e experiências. Mais paisagens...

  Confesso que o meu coração está a mil e não sei o que fazer. O meu propósito mantém-se mas o receio e o medo estão a apoderar-se de mim, da minha cabeça e do meu corpo. Sento-me por breves minutos num poste em frente ao portão que daria acesso ao jardim e, posteriormente, à entrada. Deixo a minha cabeça cair no apoio das minhas mãos que suportavam o seu peso com os cotovelos bem cravados nos meus joelhos.

  A partir do momento em que entraria naquele portão esverdeado a minha aventura chegaria ao fim e teria de me habituar a conviver com a minha família uma vez mais. A verdade é que esta foi, sem dúvida, a melhor aventura em que poderia ter embarcado e não me arrependo de nenhum segundo das minhas viagens. No entanto, tal como tudo teria de ter um fim e estou psicologicamente preparado para pôr esse ponto final nesta que foi uma importante parte da minha história. Experiências ficam sempre marcadas no coração e desta jamais me esquecerei.

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