Rio de Janeiro, 10 de abril.
Oi estranho,
Talvez eu devesse considerar melhor a forma como lhe enxergava dez anos atrás. Teria sido mais prudente perceber que não devemos falar com estranhos, ainda mais quando eles parecem querer vasculhar nossa alma com olhares penetrantes e perturbadores.
Sempre amei seus olhos, Will.
Havia muita verdade nele, confesso. Dentro de meu mundo fantasioso, seria eu a pessoa capaz de descobrir os segredos que sua aura misteriosa ocultava.
Sua alma era negra.
Eu devia ter fugido enquanto podia.
Desde o momento em que pus os olhos em você naquela festa idiota tive a certeza que estava perdido, e que eu - que ironia - seria a pessoa, a única pessoa capaz de te salvar.
A verdade é que depois daquela noite a escuridão que havia dentro de você me arrastou para dentro de uma espiral tão sombria quanto a que te envolvia.
Will, você deveria ter me deixado ir...
Como você pôde me deixar sozinha dentro do seu pesadelo?
Eu era apenas uma menina, já você sempre foi um insano egoísta.
Descobri essas verdades tarde demais, não é mesmo?
Naquela época eu não sabia nada sobre a vida, mas me julgava sábia. Achava que sabia como as coisas funcionavam do lado de fora do meu castelo mágico.
Eu estava errada.
Em meus devaneios você era o príncipe encantado.
Na dura realidade você foi o meu algoz, uma espécie de capataz cruel e dissimulado, perfeitamente apto para me mostrar a profundidade do desespero em que poderia chegar.
Will...
Você me deixou sangrando.
Você me cortou tão fundo...
Ainda estou sangrando.
Havia um encantamento entre nós, algo que excedia qualquer compreensão clara de certo e errado.
Você me queria, estava envolvido pela minha inocência e espontaneidade. Eu encontrei aventura em você, coragem e ousadia para ultrapassar barreiras e conhecer um mundo novo e excitante.
Quando rompemos todos os limites por causa de nossas aventuras traçamos um caminho sem volta, não é mesmo?
Will, você sabia disso! Você já havia ultrapassado essa linha diversas vezes, deveria ter me impedido, não me impulsionado.
Cada palavra que sua voz analasada me dizia soava como um convite para algo inédito. Cada versão de sua verdade distorcida sobre as coisas tinha um efeito inebriante dentro de mim.
Já havia um rastro de dor por detrás de cada verso que deixava seus lábios, mas estava cega e deslumbrada demais para enxergar.
Pobre criança tola...
Seu jeito descontraído e divertido, a irreverência dos metais nos seus dentes e o aroma marcante de seu perfume ajudaram a criar a imagem perfeita de um homem disposto a investir todas as fichas numa garota improvável.
Senti-me desejada e especial.
Senti-me estimada e protegida.
A verdade é que em seu devaneio doentio, minha vida foi tomada como sua propriedade naquela mesma noite. Envolto em próprias tramas que somente hoje posso ver, teu ego sentenciou que uma vez sua, nunca mais poderia ser livre.
Você me aprisionou, Will.
Com aquele riso fácil e charme de pobre garoto rico, você despertou o melhor de mim. Infelizmente você não me disse que minha recompensa era receber o pior que havia dentro de você.
Você jurou que nunca havia beijado lábios tão doces quanto os meus, disse que não podia explicar a euforia que sentia por ter me encontrado por acaso.
Lembra-se de ter dito que não existe acaso, Will?
Foi por acaso que você me despedaçou tão friamente?
Will, me diga, você planejou tudo aquilo? Já havia feito antes? Alguma outra garota já havia sido presa fácil para aquela teia maligna de sofrimento e angústia?
Me diga! Eu preciso saber!
Fui a única, Will?
Você deveria saber o tipo de pessoa que me tornei hoje, é sério. Doente e amarga, assim como você. Sombria e sarcástica, sem vida ou rumo.
Ah, você deveria poder ver quem me tornei.
O tipo certo de mulher errada, o tipo que você apreciaria.
Alguém como você.
Será que hoje você encontraria algum atrativo em mim? Acho que a resposta é não.
Com a luz que havia dentro de mim apagada, acho que você não se orgulharia do que veria.
De tudo que posso me lembrar para te dizer agora, segue o mais importante:
Você me destruiu naquela noite, Will.
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Cartas para Will
Любовные романыWill havia feito promessas demais, muitas das quais não conseguiu cumprir. Ela precisava de respostas, então através de suas cartas voltou para cobrar.