3. Constipação existencial

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01-04-2017


     Sou um planeta que gira confusamente por entre os lençóis que parecem ser feitos de fogo puro. Abro os olhos sem ao menos ter consciência desse movimento e tudo gira numa espiral febril sem fim.
     Mais um espirro que me faz gemer de dor e um leve tinido suave de dor repica na minha garganta sensível.
     Ouço gargalhadas difusas e felicidade que me escapa como areia por entre os dedos. A febre, a dor de garganta e o cansaço desta doença existencial confundem-me até cair, de novo, no chão friamente quente da febre.
    O fogo percorre os meus nervos, uma febre jovial e forte que me faz levantar mas que não tem firmeza para me ajudar a ser perpendicular ao chão.
     O sentimento de rejeição, toda esta dor misturada numa cobaia inocente no mundo que teve a infelicidade de ser escolhida pelas garras das esperança.
     Os meus gritos esmorecem e desaparecem quando o vento uiva e me faz voltar ao chão que tão ordinariamente me acompanha. A dor de garganta instala-se, o cansaço vocal nasce nas ruínas da força.
     A força balança-se suavemente na confortável cadeira de baloiço da Inércia e acena docemente com ares puros de Deusa.
     Só a confusão resta envolta num nevoeiro de delírios febris.
     Sonhos envenenados evaporam com este calor, esta visão da desistência.

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