CHAPTER 1

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Era começo de 1991. Era uma madrugada fria em Los Angeles. Isabel abraçou-se para poder se esquentar, o aeroporto estava cheio, o voo para SP era somente dali a algumas horas. Ela se aconchegou na cadeira do aeroporto, fechou seus olhos e de repente seus pensamentos começaram a tortura-la. Ela estava deixando, família, amigo, emprego, amor... Tudo. Uma troca. Apesar de estar deixando tudo, ainda estava com algo, ou melhor, alguém que seria para sempre o seu tudo, jamais iria abandonar, magoar ou esquecer. Seu bebê era mais valioso que tudo agora.

***

Acendo outro cigarro, dou outra tragada enquanto observo os outros pacientes do lado de fora da Janela.

Sinto os olhos da entrevistadora sobre mim, ela tenta esconder mas está começando a ficar irritada com a minha demora. Não me importo. Dou uma observada no quarto, uma cama branca, com lençóis brancos e um travesseiro com uma fronha cheia de florezinhas desenhadas. Uma simples TV quebrada, na parede algumas fotografias e um relógio que marca ás 13:23, no meio da sala uma mulher sentada a minha frente com um gravador pronta para uma resposta. Somente o relógio fazia barulho: tic tac, tic tac. Até eu decidir responde-la, mas qual era mesmo a sua pergunta? Vasculhei minha memória e lembrei: "Como tudo começou?" Com certeza, ela se referia a The reckless, mas vou partir do ponto onde tudo realmente começou e como eu vim parar aqui. Suspiro, fecho os olhos tentando lembrar com clareza aquele dia. Oh! Sim. Um dia inesquecível...

-Eu tinha 14 anos – comecei – ainda me lembro como era estar naquela escola. Obrigada a conviver com pessoas que me odiavam e vice versa. Era aula de inglês e no auge dos meus 14 anos eu já falava inglês perfeitamente bem graças a minha mãe. Então passei a ignorar completamente as aulas de inglês e usa-las para poder dormir, mas é claro que minha professora não tolerou isso. – paro de falar. Estou tentando me lembrar como é ter 14 anos outra vez. Como é ser jovem, pura, inocente e feliz. Eu estou tentando me lembrar de como era ser a Taylor que não conhecia drogas, prostituição, bebida e o amor. A entrevistadora está impaciente, percebo pela sua perna esquerda que não para de balançar, então prossigo.

-Abaixei minha cabeça sobre a mesa enquanto a professora ensinava mais uma vez o verbo to be. Então com força ela bateu na minha mesa e com um susto eu levantei a cabeça e a encarei.

-Quem permitiu sonecas durante a aula? – gritou – Catherine Taylor, é a terceira vez essa semana.

-Mas eu já não te disse que não preciso das suas aulas? – me defendi, foi inútil. Ela me expulsou da sala e eu sai resmungando. Me sentei em um dos bancos gelados do pátio vazio, esperei por um momento então Raphaela apareceu correndo.

-A professora disse que não terá notas com ela esse bimestre – sentou-se ao meu lado. Eu dei de ombros.

Outra pausa.

Raphaela, ah quanto tempo não nos falamos, hoje com certeza, ela deve estar administrando alguma grande empresa multinacional, ajudando pessoas como sempre sonhou em fazer. Eu sinto falta dela, aliás, eu sinto falta de todos eles posso imaginar a vida de cada um, imagino-os realizados e felizes, com seus filhos e seus maridos e mulheres. Prossigo com a minha história.

-Ficamos ali por algum tempo até o sinal tocar comunicando o fim daquela aula e o começo do intervalo.  Logo todos se aproximaram de nós duas: Maycom, Marcos, Hugo, Erick, João Victor, - sim, eu ainda me lembro de seus nomes – Bianca, Monica, Jaqueline, e Ingrid. Erámos um grupo maravilhoso, mas aquilo estava prestes a mudar para uma deles.

No fim do dia caminhei depressa para casa, lembro que estava com fome e com certeza minha mãe estava preparando algo maravilhoso para comermos. Abri o portão e caminhei pela garagem até chegar na porta da sala – Fecho os olhos outra vez tentando lembrar como era minha antiga casa, lembro da cozinha/sala. A cozinha e a sala eram dividas por um balcão de mármore. Sempre que eu chegava da escola minha mãe estava lá cozinhando alguma coisa boa. Sinto as lagrimas encherem os meus olhos, me recuso deixa-las cair, aperto meus olhos com força e prossigo:

-Mas mamãe não estava lá. Já era tarde e ela ainda não havia chegado. Então preparei algo para comer e depois fui para a rua, fazer o que todos ali faziam no fim de tarde, sentar e conversar na porta de casa.

Mamãe chegou depois de algum tempo.

-Catherine! Já para dentro – Disse. Me despedi de Ingrid e entrei. Ela estava sentada no sofá pensativa. Quando entrei ela me encarou e eu pensei que tinha feito algo de errado, mas ela apenas se levantou e me abraçou. Aquilo me confundiu.

-Eu te amo tanto – disse.

-Eu também te amo – respondi então ela suspirou – por que chegou tão tarde? – perguntei me soltando de seus braços.

-Fui encontrar um velho amigo. – disse caminhando até a pia e bebendo um copo d'agua – Alguém que você vai precisar conhecer amanhã. É muito importante.

Então não me recordo mais nada desse dia, a não ser da minha curiosidade e ansiedade para conhecer esse cara. Por que era tão importante que eu o conhecesse? Por que ele seria o primeiro ponto negativo da minha vida.

No dia seguinte eu estava tão ansiosa para conhece-lo que mal pude prestar atenção na aula. Na aula de português a professora nos comunicou que haveria um show de talento na semana que vem e todos ficaram muito alegres e empolgados. Então cada um começou a dizer o que poderia apresentar, mas eu fiquei calada.

-Não vai apresentar nada, Catherine? – a professora perguntou. Quando abri a boca para responder alguém foi mais rápido e respondeu por mim.

-É um show de talentos, não de horrores. – Bianca disse e todos gargalharam. Eu revirei os olhos e quando todos pararam de rir, respondi.

-Então sugiro que fique em casa, Bianca. E sim, estava pensando em algo para apresentar.

Todos fizeram algo como "uuuuh" e Bianca me fuzilou com os olhos. A professora voltou a falar do show de talentos querendo não dar corda para a nossa briguinha infantil. Quando sai da escola, fui correndo para casa. Mamãe estava sentada no sofá com uma taça de vinho na mão.

-Você esta atrasada! – Disse irritada – Vá trocar de roupa e vista-se elegantemente, nada de coturnos, camisetas e etc. –Eu arregalei os olhos inconformada mas caminhei até meu quarto sem protestar.

Tomei uma banho rápido, sem molhar o cabelo curto e loiro cacheado. Vesti um vestido preto, uma jaquetinha, passei uma maquiagem básica e com rebeldia, coloquei meu coturno. Sim, aquela foi uma noite inesquecível.

Foi apenas um sonho (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora