Anteriormente: Em janeiro de 1522, Ana Bolena regressou à Inglaterra por ordens do pai e entrou ao serviço de Catarina de Aragão, a consorte do rei Henrique VIII, de quem a sua irmã, Maria Bolena, era então amante.
"Ana foi chamada de volta à Inglaterra para se casar com seu primo irlandês, James Butler, um jovem vários anos mais velho que ela. O casamento havia sido arranjando em uma tentativa de resolver uma disputa sobre o título e as propriedades do Condado de Ormond. [...] Sir Thomas Bolena, sendo o filho da filha mais velha, sentiu que o título pertencia a ele e protestou a seu cunhado, o Duque de Norfolk, que falou com o rei Henrique sobre o assunto. Henrique, temeroso que a disputa pudesse ser a faísca para inflamar a guerra civil na Irlanda, procurou resolver o assunto, organizando uma aliança entre o filho de Piers, James, e Ana Bolena. Ela iria trazer de herança Ormond como dote e, portanto, pôr fim ao conflito."
2 de Março de 1522
Henrique VIII cavalgou no torneio de justa sob um belo cavalo decorado com um coração ferido e o lema
“ela feriu meu coração" referindo-se a Maria Bolena, sua atual amante.25 março 1523
Ana e Isabel Bolena estavam se aquecendo junto a lareira, enquanto o capelão Parker recitava com a sua voz monótona, salmos e escrituras, enquanto mãe e filha estavam bordando.
- O que você tem hoje? - Pergunta Isabel.
- Nada, mamãe - responde Ana.
- Então por que um rosto tão aborrecido?
- Não devo sorrir a todo momento mãe."Minha mãe impressiona-me pelas suas virtudes domésticas que eu deveria imitar para fazer um bom casamento. Consigo aceitar a castidade e, evidentemente, a modéstia, mas a humildade e a temperança de carácter na verdade, não se combinam com a minha pessoa" - pensa Ana.
Ao ver o meu desgosto disse-me:
- Não te aflijas tanto Ana. Serás de novo chamada à corte. Sai com o teu cão Urian. Vá caçar, trata do jardim, visita os vizinhos, tocar alaúde."Mas nada me anima nesta insuportável prisão. Deito-me cedo para poupar a cera das velas, levanto-me cedo para fazer as tarefas do lar. Os dias arrastam-se numa tristeza mortal.
Dizem que com o meu amor por Percy provoquei a fúria do Rei e que a sua raiva é equivalente à morte. Mas, esta vida de exilada é bem pior que a morte. Todas as noites subo o escuro lance de escadas para o meu quarto de pedra, amaldiçoando o seu nome e o de Wolsey a cada passo. Deitada no colchão duro, nem o luar entra pelas estreitas janelas para me dar coragem.
Escrevi duas vezes a Percy pagando sempre a um mensageiro secreto para que entregasse a carta nas mãos dele, em Northumberland. Esperei pela sua resposta infindáveis semanas, que se transformaram em meses. O meu espírito acalmou-se aos poucos, até que, numa manhã cinzenta, a esperança morreu finalmente, levando consigo o meu coração, que murcho e endurecido como um doce fruto, já muito maduro, secou e ficou em pedra.
Ó doce Percy que jazes inconsolável no teu leito conjugal! Não foi este um cruel castigo por amar com sinceridade? Juro que não terei o mesmo destino que minha mãe. Juro-o com as estrelas por testemunha" - pensa Ana.
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Ascensão
Historical FictionEntenda como era a vida das mulheres da corte inglesa na era Tudor. Rainhas polêmicas que tiveram seus nomes manchados, princesas que foram esquecidas, senhoras que previram sua ascensão e queda. Foram elas estéreis, adulteras, incestuosas, calculis...