Nunca pensei bem no que seria no futuro, é algo com que nunca me incomodei muito, sempre gostei de pensar que o futuro não existia, apenas o presente.
Agora que penso bem, devia ter planeado algo.
Mudar-me para Jersey nunca foi uma das minhas opções mas depois de perder tudo o que me mantinha em Nova Iorque, não vi outra opção. A minha tia nunca foi uma pessoa muito chegada a mim ou à minha família, evitava estar connosco sempre que podia e nunca pensei que precisaria dela, muito menos que ela seria a primeira a esticar-me a mão num momento tão frágil.
As últimas caixas que me pertenciam saíram do camião e logo o vi afastar-se. Teria que arrumar tudo antes que a minha tia chegasse, não quero fazer com que o favor que me está a fazer se torne um fardo.
Levei as minhas coisas para o quarto que me foi destinado. Tenho que admitir que a casa era espantosa, mas não me admira muito visto que foi a senhora Wellington que a desenhou. A minha mãe contou-me que a minha tia sempre se interessou por arquitetura, e de facto não a imagino a fazer outra coisa.
Passei o dia a arrumar as minhas coisas, sinto que passaram séculos mas estava lá apenas há três horas.
"Charlotte?"
"Só um segundo!"
Desci as escadas enquanto ajeitava a minha roupa suja, para que me encontrasse minimamente apresentável, mas facto era, eu precisava de um bom banho.
"Boa noite, tia." Cumprimentei-a com dois beijinhos.
"Boa noite, querida. Já vi que estiveste a instalar-te"
"Sim, passei o dia a arrumar as minhas coisas."
"Muito bem. Vou fazer o jantar, talvez queira tomar banho antes de comer."
"Sim."
Todas as nossas conversas até agora foram curtas e objetivas. Ambas estávamos a evitar falar sobre o que aconteceu em Nova Iorque. Sei que ainda que não o demonstre, também é difícil para ela.
A água quente em contacto com a minha pele fez relaxar cada centímetro de mim e não pude evitar soltar um suspiro. Logo saí do banho, vesti algo confortável e desci.
"Charlotte, recebi agora um telefonema." Ouvi a minha tia dizer enquanto levava uma garfada de comida à boca. Olhei para ela, à espera que me contasse mais sobre a chamada. "Chamaram-me para um trabalho em Washington."
"Vais deixar-me sozinha no primeiro dia em que cá estou?"
"Não vou hoje, parto amanhã de manhã."
"Tu sabes que eu não quero ficar sozinha! Para isso tinha ficado em casa."
"Eu sei Charlotte, eu fico se fizeres questão." Ponderei alguns minutos sobre o assunto e soltei um suspiro.
"Não, eu fico bem."
"Eu vou falar com uma colega minha, ela pode vir cá de dois em dois dias. Se calhar tornaste amiga do filho dela."
"Não, não quero que incomodes a senhora... Eu fico bem."
"Não vou deixar que fiques sozinha 24 horas por dia, quer tenhas 17 ou 81 anos." Suspirei e assenti, também não era a minha vontade ficar sozinha durante o tempo em que a minha tia estava fora.
Continuámos o jantar em silêncio e depois de arrumar tudo, retornei ao meu quarto. Nunca pensei ter de recomeçar a minha vida depois de ter perdido tudo. A dor nos olhos do meu irmão não saía da minha cabeça, os seus gritos ecoavam no meu quarto e as chamas consumiam todo o meu ser.
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GONE ;; Grayson Dolan PT
Romance" Tudo o que eu sempre fiz foi para te ver feliz e eu espero que o saibas. Desde o primeiro dia em que te vi que senti que tu irias mudar a minha vida e nunca estive tão certo. Eu amo-te e espero que tenhas uma vida feliz. O meu coração vai bater se...