Capítulo 6

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Burley, Idaho – 2016

Dizer que eu estava apreensiva era um eufemismo perto do que realmente estava sentindo. Os ossos de minhas pernas pareciam ter virado de gelatina e precisei apoiar meus braços na bancada da cozinha. Novamente, as palavras ficaram presas na minha garganta e meus olhos fixos nos seus. Caleb não fez nenhum esforço para me deixar mais confortável com aquela situação. Manteve o semblante impassível e cruzou os braços contra o peito encarando-me.

— O que está fazendo? — indagou depois de segundos angustiantes.

Olhei ao redor, perdida no que deveria dizer. Sabia que essa era a brecha perfeita para explicar tudo o que estava guardado há cinco anos. Respirei fundo querendo acalmar meu interior adolescente para focar naquele instante e não dificultar tudo. Levantei a cabeça, mostrando-me um pouco imune aos seus encantos. Caleb arqueou uma sobrancelha demonstrando interesse com a atitude.

— Estava no telefone com a minha tia e...

Ele me interrompeu.

— Não quero saber sobre isso. O que está fazendo na minha casa?

Minha boca pendeu aberta. Esse homem parado na minha frente não parecia nem um pouco o que fazia o meu coração bater como asas de colibri aos dezoito anos. Isso me fez recobrar mais uma parcela de controle. Assim como ele não era o mesmo de cinco anos atrás, eu também não era, e não iria fraquejar diante de seu olhar.

— O carro do meu pai quebrou. — simplifique.

Ele assentiu vagamente e seguiu em direção a geladeira servindo-se de um suco. Ergueu a caixa na minha direção em uma oferta implícita que fiz questão de negar. Deu de ombros e começou a beber diretamente da caixa. Recordei-me de uma das nossas poucas conversas por vídeo chamado que o repreendi por fazer aquilo, já que outras pessoas de sua casa também tomariam o suco. Tinha sido uma das últimas vezes que nos falamos antes de abandoná-lo totalmente e ignorá-lo como se não existisse na minha vida.

Caleb tentou me contatar de todos os jeitos durante dois meses, porém foi veemente ignorado. As promessas de nos vermos durantes os feriados nunca foi cumprida e depois de um tempo ele simplesmente desistiu. Doeu desistir também, só que era o melhor para ambos. Tínhamos feito promessas de não interrompermos nossos planos um pelo outro e se eu atendesse um de seus telefones, eu teria descumprido.

— Você está diferente — murmurei automaticamente.

Ele parou de beber o suco e me encarou.

— Você também. — respondeu observando-me com atenção. — Mas, pelo menos, não está tão esnobe quanto eu achei que estaria. Até roupas locais ainda está usando. — apontou para o meu vestido florido.

Seu comentário me fez ficar confusa. Todas as pessoas do meu ciclo pessoal passado que tinham me encontravam gostavam de ressaltar o quanto eu parecia a mesma e eu nunca discordei, por mais que fosse mentira. Em cinco anos tinha vivido o dobro que esperava na Califórnia e de um jeito bizarro Caleb conseguia ver aquilo.

— A Califórnia não me mudou tanto — dei um pequeno sorriso.

A intensidade do seu olhar quase me fez recuar. Mas com a mesma velocidade que apareceu, sumiu.

— Se você diz. — deu de ombros.

Quando percebi que ele estava prestes a me deixar sozinha na cozinha, engoli o temor e me aproximei tocando levemente em seu braço desnudo. O leve roçar na ponta dos meus dedos contra a sua pele fez com que todos os meus pelos se arrepiassem e foi como se meu corpo recordasse de todos os toques de cinco anos atrás. Caleb recuou assustado e presumi que tivesse sentido o mesmo que eu. Aproveitei-me de seu silêncio para introduzir a conversa.

Antes do Nosso LimiteOnde histórias criam vida. Descubra agora