Cap. 3

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Meus amigos, preciso dizer o quanto eu precisava lhes contar sobre a minha vida, sobre cada detalhe, sobre meus medos, minhas inseguranças...Mas por enquanto, só focarei na minha falta de atenção, que é mais do que suficiente, para perceberem o quanto sou louca. Eu devia ter lido com calma, pensado, repensado. Só que não, eu fui uma desesperada papa-emprego. Agora estou aqui, prestes a lhes contar, a coisa mais aleatória que ocorreu na minha vida. Se alguma criança, ou pessoa inocente demais for ler, provavelmente não vai entender nada. Só que se alguém for bem instruído na arte da procrastinação, vai sacar na hora.
   Bom, é isso. Deixo vocês com meu relato de "primeiro dia" na empresa.

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Na manhã seguinte, acordei alegre, cheia de vida. De imediato, corri para o chuveiro, hidratei meus cabelos com parcimônia, para que não acabasse usando produtos químicos demais. Sei que me arrumei tão bem, e estava tão cheirosa, que por um momento, eu me senti gostosa quando olhei no espelho. Dei risada de meu despertador, que acordou depois de mim, e só então sai do quarto, visando toda a minha vida, agora que tenho um emprego. Resolvi levar uma bolsa média, para que não parecesse desesperada, nem desprevenida demais, pois ainda não tenho muita noção de quem serei assistente, e tentar ser demais, ou de menos pode irritar meu superior, e não é isso que desejo. Dele eu só quero o dinheiro mesmo, não preciso do amor e nem do ódio.

  Andando na rua, assim que coloquei meu pesinho 38 nela, me senti a própria branca de neve, com os pássaros ao redor. O carro do ovo passando, as velhas fofoqueiras sentadas na calçada, ou debruçadas na janela enquanto o café passava. Do outro lado as músicas antigas e apaixonadas, de "Boate Azul" à "Lenda da Valsa Dos Noivos". Uma rua típica e pacífica, onde ou você está fofocando junto, ou provavelmente é o motivo da fofoca. Obviamente, que meu sorriso largo e estendido, anunciou toda minha alegria inundada, e claro, não passou despercebida a nenhum de meus vizinhos.

— Ei, filha da dona Fátima. — senhora Raimunda me chamou, enquanto estava de braços cruzados perto da senhora Cleusa — Onde 'cê ta indo toda alegrinha?

— 'Tô indo trabalhar, consegui emprego ontem.

— Muito boa sorte, menina. Com esse desemprego, segura serviço é uma coisa. Manda abraço pro teu pai, faz tempo que não converso com Antônio.

— Pode deixar.

  Falei alto, vendo o sorriso na boca que faltava alguns dentes, e segui meu caminho, para o ponto de ônibus. São quase sete da manhã, mas conhecendo o trânsito e as paradas, vou chegar umas sete horas e vinte e cinco minutos.  Demora uns dez minutos pro ônibus chegar, e já adentro o mesmo, tentando não infartar ao ver o preço da passagem. Mas nada se compara á ter que ir espremida igual uma mexerica no meio de tanta gente, algumas fedendo, e o sol nem despontou direito ainda. Só que aguento com toda a firmeza, o propósito de hoje é ainda maior do que qualquer outro que já tive em minha frágil existência.

  Por sorte, chego inteira, viva, a empresa, as exatas sete e meia, só que tenho de voar para chegar a sala do chefe do RH. Ainda bem que sempre carrego um perfume e um antitranspirante na bolsa, ou provavelmente entraria na sala dele, com o aroma de quinze sovacos suados que encostaram em mim dentro do ônibus. Sendo mais gordinha, da pra imaginar que ocupo mais espaço, e sou alvo dos "educados" de plantão, para ficarem esfregando aqueles braços. Tem uns que parecem que morreram tem quatro dias, mas enfim, não sou nenhuma senhora dona dos jardins para reclamar.

  Por sorte, cheguei ao andar bem em cima da hora ainda, e corri direto para a mesa do secretário, dando um sorriso gentil.

— Posso entrar? Senhor Felipe quer falar comigo. É sobre a vaga.

— Será que seremos colegas aqui? Ou vai trabalhar pro chefão? Me conta em. Ah, e pode entrar, ele está livre.

O rapaz deu uma piscadinha, e eu apenas fiquei boba, indo a sala do chefe de RH. Assim que entrei, percebi que ele não estava sozinho. Havia outro homem ali, mais bem vestido, sério, os olhos bem pretos, o cabelo preso num tipo de coque samurai — as unhas mais bem feitas que a minha, puta merda — e ainda tinha algumas tatuagens aparentes. Tentei não fazer barulho, mas o homem olhou direto para mim, com a sobrancelha erguida.

— O-Olá. — minha voz saiu tão fina, que pareci uma ratinha.

— Bom dia, Aaminah! Seja bem-vinda, novamente. Bem, como lhe disse, vou te apresentar seu chefe. Só que esse aqui, também é meu chefe. Este é o senhor Eidrian Dominic, nosso CEO, você será secretária particular dele.

Meu cu quase caiu da bunda, mas eu tentei me manter firme, e chegar mais perto, dando um sorrisinho meio desconfortável.

— Então, senhorita Aaminah, a quanto tempo sabe mexer com os objetos que citamos? — Ele me pergunta, erguendo a sobrancelha — Ou ainda precisa de um pouco de treino?

  CÉUS, eu não li tudo. Espera, que tipo de secretária trabalha mexendo com materiais? O trabalho da secretária não é ler e mexer com papelada? Quer saber, vou mentir mais um pouco, e adicionar meia verdade. Não posso correr o risco de perder a vaga.

— Bom...hm... A maioria eu tiro de letra, mas tem três ou quatro que não sei mexer.

— Sabe usar plugs, dildos e grampos?

— Quem não sabe usar grampos, senhor? — Dei uma risadinha irônica, mas breve — Quer dizer, sei sim.

— Ótimo. Me agradam muito os dildos, e você me parece ser uma mulher de atitude mesmo.

Felipe sorriu para mim, empolgado, antes de apertar um botão. Ele e o CEO, em seguida, saíram em passos tranquilos, e uma garota entrou, pondo uma mala na minha frente, e abrindo a mesma.

— O roxo é o favorito do senhor Eidrian.

— O roxo?

Repeti, sussurrando, e assim que ela saiu toda na risadinha, eu me abaixei, abrindo a mala e...

PUTA QUE PARIU
POR TODOS OS EXU'S

É MUITA ROLA DE BORRACHA, O QUE VOU FAZER COM ISSO?

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⏰ Última atualização: May 26, 2019 ⏰

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