Cap. 2

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Em 1884, o Ceará tornou-se a primeira província brasileira a abolir a escravidão. O Movimento Abolicionista Cearense, surgido em 1879, contribui – embora não decisivamente – para essa abolição pioneira.

As ações repercutiram no país e os abolicionistas cearenses, gente de elite econômica e intelectual, foram congratulados pela imprensa abolicionista nacional. Entre eles havia, porém, uma pessoa humilde, de cor parda, trabalhador do mar, o Chico da Matilde. Chefe dos jangadeiros, eles e seus colegas se engajaram à luta em 1881, recusando-se a transportar para os navios negreiros os escravos vendidos para o Sul do País.

Angelo Agostini registrou e homenageou o fato na capa da Revista Illustrada, [2] com uma litogravura com ilustração alegórica de Francisco Nascimento, com a seguinte legenda: «À testa dos jangadeiros cearenses, Nascimento impede o tráfico dos escravos da província do Ceará vendidos para o sul».

Assim, Chico da Matilde foi levado para corte com sua jangada, desfilou pelas ruas, recebeu homenagens da multidão e ganhou novo nome: Dragão do Mar ou Navegante Negro. De lá, escreveu à mulher: “(...) seu velho está tonto com tanta festa e cumprimentos de tanta gente importante”.

Francisco do Nascimento é um símbolo da resistência popular cearense contra a escravidão, e foi homenageado pelo governo do Ceará, com seu nome dado ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, pelo que ele e seus colegas realizaram nome da liberdade, em 1881, na Praia de Iracema.


Dragão do mar:
Símbolo da Resistência.
Pardo.
Homem de coragem.”

Eu fiquei estudando por um bom tempo, desde aquele dia. Tá, tá, foi a 2 horas que eu estive na empresa, mas estou sentindo que não fui contratada. Enquanto eu estava saindo de lá, vi uma "gostosa" peituda entrando, chamando a atenção de todos os homens e mulheres do recinto. Não pude não me sentir inferior, vendo aquela beleza toda passando por mim: Cintura fina, peitos imensos, cabelos cacheados e longos, unhas grandes e decoradas. Ela parecia um 8 e eu pareço o próprio zero. Nem comento a cara que cheguei em casa, e como agradeci por meus pais estarem trabalhando, e o restante estar enfiado na escola ou faculdade.

  Sei que estou sendo chata e precipitada, mas as coisas no Brasil não estão boas, e sei que para uma única vaga, podem chegar a ter 50 concorrentes, se forem tão boas como essas. Tenho plena certeza de que alguém é mais bem qualificado do que eu, e pelas secretárias que conheço, minhas chances são nulas. Então, por isso estou estudando firmemente algumas coisas sobre o Brasil, para ver se meu coração se enche de mais alegria. E graças ao desfile da Estação Primeira de Mangueira do RJ, eu consigo ter mais alcance de conhecimento. Realmente, depois de tudo que vejo nas manchetes, realmente, tudo o que as pessoas de cor já passaram... E eu reclamando da minha vida. Tenho muito medo dos seres humanos. 80 tiros no carro de um homem negro, por engano? Hm...sei.

E eu sou Xena a princesa guerreira.

Depois do meu horário de indignação, resolvi dar atenção ao meu celular, e enquanto ia para meu quarto no final do corredor, ouvi o mesmo começar a tocar. Meu amigo, nem Usain Bolt correu tão rápido, fui num desespero impressionante. Adentrando meu quarto, peguei o celular, e atendi completamente desesperada, sem nem ver quem era.

— Alô?

— Senhorita — Ele da uma pausa, parecendo ler algo — Aaminah Reiss?

— Sim, sou eu.

— Lembra-se de mim? Sou Felipe, o chefe de RH da empresa DOM'S, sabe?

— Lembro, claro que lembro — Comecei a fazer tanta oração, que me sentia perdida — O que houve?

— Meus parabéns. Você preenche todos os requisitos para trabalhar aqui. Seja bem vinda a nossa empresa.

Espera, oi? Eu consegui o emprego? Eu consegui? Eu tenho um emprego? Caralho, eu tenho um emprego. Mano, eu to empregada NO BRASIL, gente, isso tá mais difícil do que chover no inferno, e eu consegui! Puta que pariu, eu vou ligar pra todo mundo, fazer uma festa, churrasco. É na sola da bota, é na palma da mão. Será que se eu começar a pular ele vai ouvir? Lógico que vai, o chão é de madeira e eu sou gorda, bicho.

— Senhorita Reiss? Está ai?

— Oi? — Voltei a mim, dando um sorriso grande — Estou sim, estou sim. Quando começo? Hoje? Amanhã cedinho?

— Amanhã, preciso que chegue as sete e trinta em ponto. A senhorita precisa trazer seus documentos, preciso te explicar os horários e vou lhe apresentar o seu superior.

— Sim, sim! Oh, muito obrigada.

— De nada, e até amanhã.

— Até.

Falei baixo, abrindo o maior sorriso do mundo, e deixei o celular sobre a mesa, antes de literalmente ir pra frente do espelho e comecei a dançar logicamente, cantando, como se fosse o último dia da minha vida. Preciso escolher uma ótima roupa, preciso ficar bem arrumada e perfumada! Minha alegria supera qualquer coisa. Não to nem ai pra minha auto estima lá no pré-sal, vou ser a horrorosa mais arrumada que vocês vão ver a vida todinha.

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Quando meus pais chegaram em casa, eu corri empolgada para lhes contar da minha nova vitória. Recebi um abraço quentinho e um sorriso orgulhoso em troca, dos rostos cansados deles. Não são mais tão jovens, e uma hora ou outra vão parar de trabalhar. Esse novo emprego vai ser a única forma de conseguir um bom dinheiro, para dar menos trabalho aos dois, e, quem sabe, lhes comprar uma casinha, para nos vermos livres do aluguel. Poucas pessoas sabem o quanto eu amo os beijos carinhosos da minha veinha, mas ela sabe. Me encheu de beijos e afagos de puro carinho. E meu pai, pela primeira vez, me deu um beijinho delicado na mão. Eu sorri para ele por um bom tempo. Um bom tempo...

Acho que fazia anos que não ficava tão feliz.

E que venha o amanhã.

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