Andrew Duncan e sua Autodescoberta

37 9 24
                                    

ANDREW DUNCAN E SUA AUTODESCOBERTA 

Conhecer a si mesmo não é algo tão simples como parece. Às vezes leva-se tempo até que se perceba que na vida tudo é questão de exploração. Explorar os acontecimentos do dia, explorar os seus potenciais e explorar o que a existência tem a lhe dar.

Tudo faz parte da arte do conhecimento. De conhecer a si mesmo e de se descobrir. Da descoberta de se encontrar.

Foi em um fim de semana de folga que Andrew Duncan se encontrou. Mas não foi sem esforço que isso ocorreu. O ruivo penou antes de entender o que estava lhe acontecendo e compreender a dádiva da autodescoberta. Foi um longo e cansativo fim de semana...

Já na sexta à noite procurou números de amigos que pudesse convidar para sair beber alguma coisa, jogar conversa fora e rir um pouco. Porém, até o momento não se dera conta que não possuía mais ninguém que pudesse contar. Trabalhava praticamente doze horas por dia, sete dias por semana e se dedicava tanto, sem descanso, que as únicas pessoas que via, eram as que trabalhavam com ele no jornal.

Ocasionalmente conversava com alguns conhecidos em um bar boêmio que frequentava todas as noites, mas não era o que podia considerar como amizade. Nem mesmo sabia o nome de algum deles. E as conversas não eram nada além de papos incentivados pelo álcool, com assuntos triviais e discursos filosóficos, sempre esquecidos na mesma noite.

Sozinho, optou por permanecer em casa assistindo alguma coisa na televisão, deitado no sofá. É isso que pessoas normais fazem para descansar, não é? Com o controle remoto em mãos e estirado no sofá com uma coberta sobre metade de seu corpo, perambulou por diversos canais, enquanto ouvia a chuva cair mansa e contínua do lado de fora.

Passou por programas de vendas de produtos, alguns em que pessoas discutiam sobre a vida dos outros, encontrou alguns jogos de futebol e ainda alguns filmes pela metade. Mas nada que realmente lhe agradasse. Será que não existia nenhum programa que fosse seu estilo? Algo com um humor inteligente, mas comum, cheio de sarcasmo e ironia, em que um grupo de pessoas discutisse sobre tudo de uma maneira leve e não apelativa?

Tá aí! Era uma boa ideia: talvez devesse largar a redação do jornal e procurar seguir carreira na TV. Poderia mandar a ideia de um novo programa para alguma emissora e ser contratado por ela. Seria uma alavancada em sua carreira. Se tornaria conhecido. Seria rico e famoso. Teria amigos. Nunca mais ficaria em casa em uma sexta-feira à noite. Adeus solidão!

A ideia se esvaiu assim que um grito se alastrou do equipamento em sua frente. Sem querer, Andrew interrompera seu tour em um canal religioso onde um pastor exaltado dava seu sermão aos fiéis. Com o delírio de uma carreira diferente não percebeu o que assistia e apenas deixou-se levar pelos pensamentos. Agora voltava para a realidade que o cercava e a angustia que era estar em frente à televisão em uma noite chuvosa!

Irritado desligou a TV, jogou o controle longe e levantou-se num ímpeto. Foi até a janela do apartamento, tropeçando sobre algumas garrafas e roupas jogadas ao chão. Empurrando a veneziana, Duncan deixou o ar gelado adentrar o apartamento e olhou para baixo: já não chovia como antes. Apenas uma fina garoa molhava a metrópole. Automóveis estavam presos na fila interminável que se formava na avenida. Buzinas soavam como se anunciassem o fim do mundo. Pessoas apressadas corriam para não se molhar.

Mesmo com o caos do lado de fora o jornalista tomou uma decisão. Não podia ficar preso em seu apartamento. Precisa ver gente. Precisa se divertir. E se não tinha amigos para convidar para beber, sairia sozinho e faria alguns. Sem problemas. Afinal ele era uma pessoa engraçada, carismática e logo estaria rodeado de gente, principalmente de mulheres. Ah! Essa seria uma boa!

Andrew Duncan - ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora