ANDREW DUNCAN E O INCRÍVEL CASO DA ÍNDIA VAMPIRA SEQUESTRADA POR EXTRATERRESTRES ALBINOS QUE APRENDEU A GOSTAR DE FUNK
– Isso te faz se sentir mais poderosa? – o jornalista cruzou as pernas e olhou com seu sorriso maroto a chefe que sentava-se em sua frente.
Poucos teriam a audácia de questionar Bethânia Fonseca, porém Andrew Duncan era suficiente bravo para não só questioná-la olhando nos seus olhos, como para fazer piadinhas infelizes, enquanto arriscava perder seu próprio emprego.
– Como é? – a diretora de redação de um dos mais importantes jornais do país deu a chance de seu simples funcionário, mudar seu comentário. Apesar da insolência do jovem rapaz, a mulher gostava dele. Havia uma simpatia nata. O jornalista tinha futuro, só era preciso lapidá-lo.
– Julgar as notícias pelo título, sem ao menos lê-las. Isso te faz se sentir mais poderosa? Você se sente a superchefona, decidindo com sua intuição o que vai ou não ser publicado?
– Duncan, eu não preciso ler seu texto para saber que não é uma notícia relevante. – Bethânia estava sendo delicada, havia acordado de bom humor. Pois o caso de uma índia vampira sequestrada por extraterrestres albinos que teria aprendido a gostar de funk não era nada que fosse publicável em um jornal de tamanho renome.
Realmente era somente pelo apreço da mulher, que Andrew continuava com seu emprego. Fosse qualquer outro jornalista que aparecesse em seu escritório com uma notícia daquelas, já teria sido demitido.
Mas, não era qualquer um. Era o ruivo Andrew Duncan, jovem formado a pouco tempo em jornalismo, e que até um mês atrás escrevia apenas os classificados das publicações diárias. Era o jornalista que assim que foi promovido conseguiu algumas proezas, algumas grandes matérias. O garoto não gostava de escrever seguindo os padrões do jornal, odiava que lhe ditassem regras e que não lhe dessem autonomia suficiente. Mas ele havia conseguido algumas boas entrevistas, boas informações. Seu charme dava o que era preciso: a confiança das pessoas.
– Mas eu tenho certeza que é. Leia e se surpreenda com o que consegui. Sou melhor que o Sherlock Holmes. Desvendei um grande mistério! – Duncan continuava com seu sorriso presunçoso tentando convencer a diretora que o olhava de trás de sua mesa com a expressão descrente.
"Espero que seja só uma fase" pensava ela. "Seria um desperdício de talento, se ele não voltar a ser profissional".
Porém, quem o visse sempre tão decidido e confiante, jamais imaginaria seu conflito interno. A tristeza era sua melhor e única amiga. A única com quem Andrew convivia diariamente, que nunca o abandonara. Pois as pessoas, os seres humanos, com estes ele não possuía intimidade alguma. Eram seres estranhos, com quem Duncan aproveitava apenas para fazer piadas e amenizar sua solidão.
Por mais simpático e charmoso que o jornalista fosse, conviver, pedir conselhos, conversar, se divertir, eram coisas difíceis de imaginar o ruivo fazendo. Ninguém queria-o como amigo.
– Se possível, irei ler, Duncan – o tom da diretora foi rude. Ela colocava um ponto final na conversa. Havia outros textos a receber. A próxima edição do jornal deveria ficar pronta para o dia seguinte. Não podia mais perder tempo. - Agora me dê licença, por favor.
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Andrew Duncan - Contos
Krótkie Opowiadania"Mas não era qualquer um. Era o ruivo Andrew Duncan, jovem formado a pouco tempo em jornalismo, e que até um mês atrás escrevia apenas os classificados das publicações diárias. Era o jornalista que assim que foi promovido conseguiu algumas proezas...