Capítulo Dois - Fagulhas de Dor

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   É difícil pensar em usar preto quando a cor preferida do Ky era dourado. Ele sorria toda vez que eu colocava meus vestidos dessa cor. Suspiro me encarando no enorme espelho do meu quarto. Escolhi um vestido preto na altura da metade das coxas, com decote simples e uma meia calça preta. Ky... poderíamos ter aproveitado mais se você não fosse idiota o suficiente para me procurar na minha casa... eu avisei que meu pai era super protetor. Seu idiota! Não chorarei hoje, não importa o que aconteça não derramarei uma lágrima, seu brinquedo idiota! 

   Coloco uma tiara preta sobre a minha linda cabeleira dourada, um contraste gritante. Ele costumava implorar, até mesmo chorava para poder ter permissão para tocar meus lindos fios. "Por que dourado, Kyle?" uma vez perguntei. Ele sorriu e respondeu:  É a cor da nobreza. Você é uma rainha para mim, desde que vi a linda cor dos seus cabelos.

- Malditos pensamentos de uma viúva amargurada... - Digo séria de frente ao espelho e depois gargalho alto, tanto que lágrimas caem dos meus olhos. - Incrível! Maldito, Kyle! Me fez derramar lágrimas sendo que acabei de jurar não derrama-las! - Acaricio meus cabelos os arrumando carinhosamente - Bem... parece que essas foram as últimas. Que inútil, Kyle! Nem conseguiu me dar compaixão ou até mesmo me fazer derramar lágrimas de tristeza. - Sorrio - Já tenho um substituto, querido. Na verdade ele é alguém que vale a pena.

- Natie! - Meu pai chama da sala - Vamos, querida! Não podemos nos atrasar!

- Certo, pai! Já estou descendo!

  Calço as sapatilhas pretas com saltos pequenos rápido e desço as escadas. Meu pai me olha e sorri.

- Está linda. Uma boneca perfeita! Como sempre.

- Obrigada, pai! Está lindo como sempre também. - Sorrio.

  Ele está usando uma camisa social preta com decote v aberta nos três botões de cima, uma calça social sofisticada e sapatos italianos pretos. Os cabelos dourados arrepiados estão brilhantes e com a barba impecável. Ele sempre está perfeito em tudo, alinhado e organizado. Sempre.

- Venha, coloque a gravata em mim para eu poder colocar o terno. - Ele sorri com olhos brilhantes. Droga! É um aviso: Faça de forma perfeita!

   Pego a gravata preta de suas mãos e a coloco cuidadosamente no colarinho da camisa depois de abotoa-la apropriadamente. Termino e o olho sorrindo. Ele vai até o espelho redondo de ouro na sala e sorri ao ver o resultado do meu trabalho.

- Querida, você é divina! Ficou perfeito. 

- Aprendi com o melhor! - Sorrio.

   Ele coloca o terno muito bem passado e alinhado. 

- Agora... - Ele diz rindo - Carinha de triste! - E ambos ficamos com caras de abatidos.

- Vamos, papai. - Seguro sua mão e saímos. Entramos no carro e o encaro enquanto dirige. Seus olhos parecem que vão derramar rios de lágrimas a qualquer segundo. Parece não ter dormido a dias. É divertido poder fingir tão bem. Quando eu era criança brincávamos de atuar emoções, ele gritava uma e fingíamos ao mesmo tempo. Já gargalhamos muito brincando disso.

   Ele para de frente ao cemitério e saímos do carro. 

- Fique longe dos garotos, Natie. Essa é a última vez que aviso.

- Certo, papai. - Vai sonhando Natanael!

- Se eu ver algum menino se aproximando de você... dá próxima vez quem irá fazer o trabalho será você, ouviu bem? 

- Sim, papai. - Acha que isso seria um castigo?! Ah! Eu adoraria ter torturado o Kyle por sua burrice, iria entrar em júbilo ao olhar em seus olhos enquanto a vida se esvaía de seu corpo. Pobre, pai! Acha mesmo que sou um anjinho? Sou uma deusa! Tenho o poder de dar um tempo limite à vida de qualquer pessoa!

Uma Dose de AmargorOnde histórias criam vida. Descubra agora