Capítulo 1

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Clara Isabel vagava pelo passado, circundada pelas estranhas lembranças que lhe regressavam à mente, das quais não tomava conhecimento há dez anos. Como se o tempo a tivesse adormecido para depois despertá-la, de súbito, numa época que aos poucos iria se familiarizando consigo, privando-a daquele trágico momento que se desvendaria muito depois. Olhava para o porta-retratos de sua tia Jéssica que estava sobre o criado ao lado da cama. O quarto em que se encontrava, dava para o mar que nesse dia estava em alta, e o céu, em parte, revestido de nuvens em que se via poucas estrelas; essas, menos cintilantes, pois as pequenas camadas retinham os seus esplendores.

A bela jovem não recordava de sua tia, visto que ambas não mais se encontraram desde aquele ano de 1978.

Passava da meia-noite e as cenas do pretérito reproduziam-se em sua mente causando em si um estado de transtorno, juntamente com o silêncio insuportável que envolvia os seus ouvidos. Essa quietação produziu em seu coração um tanto taciturno e enclausurado grande ermo, a ponto de por ele não ter proferido, desde que chegara em casa, uma só palavra.

Consultou sua agenda telefônica a fim de ligar para alguém de sua intimidade, mas a indecisão interveio na meia discagem.

Olhou para um livro que estava sobre a mesa do computador, ao seu lado, o qual lhe fazia companhia algumas horas antes de dormir. Helena, presente de sua mãe, trata-se de um romance da literatura clássica de Machado de Assis; ficção repleta de mistérios que faz o leitor se deixar levar pela curiosidade e pelas suposições sempre falsas para maior sucesso da revelação final. Abriu o livro na página 43 do capítulo seguinte, mas seus olhos não contavam com o pensamento, uma vez que este projetava todo o cenário da dissimulação. Estava vendado pelas reminiscências distantes.

De súbito, caíra-lhe uma sonolência, ao olhar para o despertador, como se este fosse uma cápsula que liberasse uma substância a partir do último número da contagem regressiva.

A noite se transpunha vagarosamente, cedendo lugar ao dia, no balouço do som de uma consonância regida pelo maestro de uma orquestra, em que os tangedores, ao seu movimento tênue, se deixassem enlevar pela terna sintonia até que a última nota os conduzisse ao epílogo dessa ópera vistosa.

Mêsda primavera. As ruas de Curitiba adornavam-se das folhas liberadas pelosgalhos das mais frondosas árvores que avivavam a cidade. As praças antigas erecentes que situavam nas avenidas e ruas principais do centro e periferiadespertavam os turistas e os habitantes no íntimo para os canteiros floridosque apresentavam as mais diversificadas cores e essências. O céu que seembalava junto a esse conjunto de elementos, mostrava o seu encantamento queera o toque final a esse quadro urbano.


Continuação...

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⏰ Última atualização: Apr 05, 2017 ⏰

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