Desconhecido

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Era quase meia noite e eu ainda não conseguia dormir, pensando no dia seguinte que seria cheio.

Primeiro: seria meu aniversário, sete de janeiro. Segundo: começaria as aulas dali a uma semana no máximo. Eu iria encarar o desconhecido novamente. Era uma tortura, todos os anos, essa mesma história. Meus dezesseis anos não seria diferente dos meus quinze. Tudo seria igual como no ano passado.

Eu vinha perdendo as esperanças de mudanças boas desde os meus nove anos. Eu sempre acreditava que o ano que surgia seria um ano de novas descobertas, novas pessoas, novos desafios, mas, na realidade, tudo permanecia igual.

Minha mãe, como sempre, estava em seu salão de beleza, e meu pai, em seu amável restaurante que conseguira, já eram quatro anos de apegamento a esse restaurante. E eu como sempre em casa. Tudo que meu pai e minha mãe conseguiram com seus novos empregos favoritos foi reformar a casa e comprar um carro de segunda mão, um Toyota Tercel.

- Pai, não precisava de presente – eu disse meio sem jeito.

- Seu pai só quis te presentear, querida – disse minha mãe com a voz doce.

Ele me entregou uma caixa pequena e nela havia uma câmera fotográfica cor preta.

- É maravilhoso! Obrigada, pai.

- Que bom que gostou querida, agora sua mãe irá te dar o outro.

- Outro? E tem outro?

- Claro. Não muito valioso como o do seu pai, mas irá te servir. Um álbum. Um álbum para você guardar cada recordação bonita de sua vida, afinal, é começo de ano. Tudo pode acontecer!

- Obrigada, mãe. Obrigada, pai.

Tomei meu café-da-manhã despreocupada. Já mais tranquila. Meus pais saíram logo que terminaram o café. Fiz o almoço e limpei a casa, quase cai da escada quando eu a lavava. Lavei a varanda também e após ter arrumado a casa toda, fui tomar banho. Lavei o cabelo que já estava precisando e escovei os dentes, troquei de roupa rapidamente e penteei meu cabelo desgrenhado.

Fui até o guarda-chaves da sala e peguei a chave do Toyota Tercel. Eu estava disposta a ir ao supermercado e passar no restaurante antes de voltar para casa. Já era quase meio-dia, então me apressei em ir ao supermercado antes que ele fechasse. Liguei o motor do carro e me direcionei ao mercado mais próximo.

Meu cabelo ainda molhado pingava em minha calça jeans. Já em frente ao mercado desliguei o motor do carro, peguei o dinheiro e sai.

A moça de cabelo preto sorriu para mim ao lado de um grandioso carro, uma Land Rover cor preta que reluzia ao sol forte. Rapidamente retribuí o sorriso. A moça de aparência jovial estava acompanhada de um belo jovem de cabelos cacheados cor de ouro, pele branca e olhos verdes como de esmeralda. intimidei-me um pouco ao ver que ele estava me encarando, com uma expressão séria e impassível. O pior de tudo é que precisava passar por eles para entrar no mercado. Ergui a cabeça e segui em frente.

Comprei tudo o que precisava para o almoço do dia seguinte. No caminho de volta para casa passei de volta no restaurante do meu pai.

- Oi, querida. O que houve? Quer comer alguma coisa?

- Não, pai. Já fiz meu almoço, só passei aqui pra dizer um oi.

- Está tudo bem mesmo? – ele quis saber.

- Tá sim, tchau!

- Emilly! – ele chamou.

- Sim?

- Tenha cuidado.

- Está bem, pai. Está bem.

Eu às vezes estranhamente desconfiava dos meus pais, eles pareciam esconder alguma coisa. Era muito estranha essa sensação.

Que seja para sempre: A série [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora