A caixa

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Eu deixei um bilhete colado na porta da geladeira dizendo que estava indo para a casa da vovó , fechei toda a casa , apaguei todas as luzes , liguei o alarme , verifiquei se estava levando as minha chaves , coloquei meus fones de ouvido e fui caminhando para a casa da vovó , ela mora a 3 quadras da minha , e meus pais não se importam que eu vá andando até lá , desde que eu vá pelo caminho mais seguro , que é o mais longo também .
Virando a esquina consigo avistar minha vó sentada na cadeira de balanço , folheando alguma revista . Quando abro o portão vejo o Mylo correndo em minha direção , o cachorro da vovó , ele pula no meu colo , e eu tento conter a agitação dele , faz dias que não apareço aqui .
A vovó me convida para entrar , e diz que já esta terminando de preparar nosso café , nós nos sentamos juntas a mesa e é claro que ela já tinha preparado meus biscoitos preferidos , confesso a ela que estou faminta , e aquele cheirinho de café fresco ... a vovó sabe direitinho como me agradar .
Observo com atenção tudo ao meu redor , essa casa esta tão diferente , não parece mais a mesma desde que o vovô se foi .
Vovó acende a lareira e começamos a tomar um café delicioso enquanto comemos biscoitos , por um momento conversamos sobre a nossa família , até que ela resolve me contar que minha mãe não esta nada contente com o fato de eu não ter me decidido ainda em relação a minha faculdade . Penso comigo " essa história ainda vai me deixar maluca " .
Ela percebe meu desconforto e se aproxima de mim :
- Querida , quero que você saiba que eu vou te apoiar em qualquer decisão que tomar .
Ela continua :
- Eu sei que é difícil tomar certas decisões , mas tenho certeza de que fará a escolha certa .
Eu tomo mais um gole de café , respiro fundo , e tento desabafar um pouco com ela .
- Vó eu não sei se sou capaz de fazer certas escolhas , eu não me sinto segura , eu não quero desapontar meus pais . Eu sei o quanto eles querem que eu me torne uma advogada , como toda a família da mamãe .
Os meus olhos já começam a lacrimejar , minha vó então encosta minha cabeça nos ombros dela . Eu continuo a falar .
- Eu simplesmente não sei quem sou de verdade, não sei quais são meus interesses , sinto que há tanta coisa eu pra descobrir sobre essa vida , mas tenho medo de tentar . Talvez seja melhor fazer aquilo que meus pais querem que eu faça , e ...
Ela me interrompe
- E agradar a todos , menos a você ? Querida , você não pode deixar que as pessoas tomem decisões por você , os seus pais te amam , eles querem o melhor pra você, e querem que você siga sempre pelo caminho mais seguro, porém se você quiser descobrir certas coisas nessa vida , vai ter que se arriscar .
Eu paro por um momento para refletir em tudo que ela me disse , logo a ansiedade começa a invadir meu corpo , sinto minhas pernas bambas , minhas mãos estão gelada , e minha respiração começa a ficar pesada .
Minha vó percebe que estou a beira de um ataque de nervos , e tenta me acalmar .
- Querida , sei que não é fácil conviver com essa ansiedade , todo esse estresse é excesso de pensamentos você sabia ? , e acho que sei como te ajudar com isso .
- Como assim ?
Ela se levanta , me pede para acompanha-lá , até o final do corredor . Ela abre o armário , e tira uma caixa de dentro , eu ajudo-a a levá-la até a sala .
Reparo que esta com o nome de meu avô na lateral : Sr. John Stam .
Logo vejo que ela tirou da caixa , alguns livros e cadernos , o relógio do vovô , e até mesmo uma bússola .
Ela separa tudo com cuidado , e me entrega ;
- Essas coisas são do seu avô , livros que ele trouxe das muitas viagens que fez , você me disse que queria descobrir algumas coisas sobre a vida , eu digo que você herdou isso do seu avô , e sabe o que mais herdou dele ?
Eu pergunto o que .
- Essa sua ansiedade . E seu avô sempre dizia que a solução pra isso era " escrever " .
Eu olho desconfiada .
- Como assim escrever?
- Escrever , colocar os seus pensamentos no papel , é uma forma de aliviar toda a tensão que esta na sua cabeça , olhe essas anotações, são todas do seu avô, era assim que ele fazia .
Eu olho com cuidado todos eles , e reparo que um dos diários não tem nada escrito .
Ela me observa e vai logo dizendo:
- Acho que ele deixou essas folhas em branco para que alguém contasse a sua história.
Sinto uma pontada no peito , eu tento não pensar muito no meu avô , porque não sei lidar com o fato de que ele se foi . Eu guardo tudo na caixa de novo , e minha vó me diz que eu posso ficar com todos aqueles livros e me entrega aquele diário vazio . Eu levo tudo pra casa comigo , mau posso esperar pra ver o que está escrito naquelas cartas dentro daqueles livros . Agradeço a minha vó e prometo a ela que estarei contando minha história naquele diário.

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