Filha

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Muito tempo ele passou observando a Terra. Desde que os estelares começaram a ter contato com os humanos as coisas mudaram bastante. Algum tempo atrás ele desceu ao planeta e passou um bom tempo por lá.

Agora observava uma grande cidade, precisaria descer perto dela.

Se concentrou, esqueceu do corpo físico que tinha, se imaginou energia pura e desceu.

Não era mais um ser humanoide feito de pura energia, era um faixo de luz amarela descendo como um meteoro em direção aos arredores da cidade.

Ninguém lá embaixo se importava, era comum demais para que alguém desse mais importância que uma segunda olhada.

Ele desceu na zona rural, um pasto a poucos quilômetros do centro urbano. Quando se aproximou do chão ele retomou sua forma humana, seus cabelos negros e os olhos completamente amarelos, sem íris, sem pupila, apenas uma energia ondulante presa dentro daquele corpo.

Desafiando a gravidade ele estagnou no ar por um momento ao retomar seu corpo, e só então terminou os últimos dez metros de queda, caindo apoiado sobre um dos joelhos.

Se levantou, esticou as costas e respirou fundo.

Era hora de encontrá-la, e isso seria estranho.


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Morrigan andava pelos subúrbios da cidade, tentando voltar para casa. Era difícil viver ali sendo uma mestiça. Os humanos não gostavam muito dos estelares naquela nação, e os mestiços costumavam viver em lugares pobres, se tornando criados ou funcionários de grandes fabricas na maioria das vezes.

Ela não era diferente. Voltava do trabalho em uma grande fábrica de armas cinéticas clandestina, escondida nos subterrâneos perto da sua casa. Não era um trabalho que apreciava, mas pagava suas contas.

— Olá! Ei, você aí.

Morrigan olhou para o lado e viu um homem encapuzado em um beco chamando por ela. Não dava para ver seus olhos ou roupas, apenas uma luz por baixo do capuz mostrando que seria um sirion ou um estelar. Preferindo ignorar, ela seguiu em frente.

O homem suspirou e foi atrás dela.

— Garota, não tenha medo, por favor.

— Prefiro não falar com estranhos, meu senhor.

— Não sou exatamente um estranho, e não me chame de senhor. Pai seria mais interessante.

— Do que você tá falando?

O homem tirou o capuz e revelou os olhos completamente amarelos. Tinha os cabelos negros como os dela e o rosto magro. O nariz era fino e idêntico ao dela, assim como o sorriso, apesar de ser uma memória distante já que ela não se lembrava da última vez que sorrira.

— Desculpa ser tão repentino assim, acho que deveria ter feito uma visita primeiro com umas flores e um bolo, não é?

Morrigan ainda o encarava tentando absorver tudo, percebeu que era melhor perguntar de uma vez.

— Isso é sério?

— Passei meses tentando te encontrar.

— Depois de me abandonar por mais de um século deve ter sido difícil mesmo.

— Não diga isso, não foi uma escolha minha. E pode ter sido um século pra você, mas do espaço isso foi muito pouco tempo. — Ele suspirou. — O que estou tentando dizer é que realmente queria te ver de novo... e que preciso de você.

A Revolução SirionOnde histórias criam vida. Descubra agora