Esperança

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"Não está meio tarde não rapaz?" O velho disse olhando para o relogio de pulso. O jovem ansioso para continuar ouvindo nega mas o velho diz que continua a história de manhã, o velho conduz o jovem para um quarto bem arrumado, com as paredes coloridas, no quarto havia um grande espelho na parede, um armário cheio de vestidos e uma cama de solteiro com um lençol branco, parecia que ninguém havia usado aquele quarto fazia anos. "Fique por aqui hoje, está muito tarde para você voltar agora, durma bem meu jovem" disse o velho. O jovem deita na cama e logo cai em um sono profundo e do nada se inicia um sonho que não fazia muito sentido para ele. Ele estava na escola de novo anos atrás, apareceu uma menina que ele conheceu naquela época, a qual após algum tempo ela se tornou sua melhor amiga. Ela era uma menina com a pele branca e cabelos ruivos tão lindos que ninguém na escola tinha cabelos comparáveis aos dela porém, ela era muito tímida, ela se sentia muito mal pelas coisas que eram faladas pelas costas dela. Pessoas invejosas e os desejos de meninos imaturos, os apelidos por causa do seu belo corpo mas um dia o jovem conseguiu romper a barreira que ela havia imposto, seu nome era Hope, Hope que queria dizer esperança em inglês. O colégio estava vazio e ele via a menina correndo e entrando em portas, em salas e, saindo em lugares diferentes todas as vezes, Hope estava chorando muito e parecia que a cada segundo ela ficava mais distante. O jovem acorda com seu corpo suado, ele olha o celular, 2:47 da manhã, ele escuta alguns barulhos vindos da cozinha, com medo de que alguém tenha invadido, ele resolve olhar para ter certeza de que estava tudo bem, silenciosamente ele abre a porta, vai bem devagar até a cozinha aonde ele encontra o velho chorando e segurando algo, uma flor, uma rosa branca. "Ei, o senhor está bem?" O jovem pergunta preocupado, "desculpe, acho que te acordei, é que quando estávamos voltando eu vi essa rosa no campo, sai agora para buscar, sabe, essa rosa tem a cor favorita da Lucy e, vou deixar guardada para levar pra ela mais tarde, pode voltar a dormir meu jovem, eu estou bem", o jovem responde sorrindo " estou sem sono agora", o velho vendo seu sorriso fala então " tudo bem, acenda a lareira então, vou fazer um pouco de café pra nós e eu continuo a história". O jovem acende a lareira e o velho faz o café, enquanto isso o jovem fica repassando o sonho que teve com Hope e relembrando sua face, ele sempre sentia algo diferente quando se tratava dela. "Bem, acho que podemos continuar então" diz o velho com duas xícaras de café. "Após ela ir embora eu lembrei que tinha que voltar pra casa, nesse momento eu acabei esquecendo a felicidade que sentia, eu morava com meus avós, meu pai havia me abandonado quando eu era pequeno e sumiu do mapa, mal me lembro do rosto dele. Minha avó já estava no fim da vida e meu avô não parava de beber desde que eu era pequeno, não eram raras as vezes que ele batia na minha avó, eles não eram muito o tipo carinhoso de avós, eu mesmo pequeno tinha que arranjar um jeito de me virar, a maioria do dinheiro que tínhamos era gasto com a bebida do meu avô, os almoços eram muito fracos, não havia café da manhã nem café da tarde, somente o pouco que conseguia no almoço e janta. Eu queria controlar meu avô, queria arranjar algum jeito que ele parasse de beber mas nunca conseguia fazer nada. Pra uma criança, foi muito doloroso mas me mostrou como o mundo é duro. Após a morte da minha mãe, não tinha mais com quem ficar então eles ficaram comigo. Chegando em casa eu avisto uma ambulância, vejo a minha avó em uma maca sendo levada para o hospital e começo a correr desesperado, não consigo alcançar a ambulância antes que ela leve a minha avó. Entro em casa e vejo uma garrafa quebrada no chão, encontro sangue no sofá aonde ela ficava eu não conseguia acreditar que meu avô tinha batido nela outra vez, ela estava tão fragil que não conseguiria aguentar mais nada, mal conseguia se levantar do sofá para ir ao banheiro. Encontro meu avô no quarto chorando, eu nunca tinha visto ele chorar desse jeito, ele fala "desculpe filho, eu não consegui me controlar, eu bati nela de novo, e eu acho que agora fui longe demais" . Como minha avó vai muito pro hospital eu sabia aonde ele ficava, corro pra lá, tropeço e caio mas me levanto, o tempo estava começando a fechar, logo que chego no hospital eu tento falar com a enfermeira, "minha vó, ela veio pra cá, o nome dela é Maria, cadê ela? Ela ta bem?" A enfermeira me pede pra ter calma, ela vai procurar e logo volta, "sua avó está machucada, mas ela logo vai ficar bem, eu prometo" eu decido que não vou sair do hospital até ver a minha avó. Fico sentado na sala de espera segurando o choro, até que um homem se aproxima de mim e me pergunta se estou com fome, mal havia almoçado, claro que estava com fome mas eu desconfiava muito de qualquer estranho. O homem percebendo a minha desconfiança pede pra mim esperar um pouco e vira a esquina, alguns minutos depois ele volta com um sanduíche natural, com frango, alface e cenoura. Eu começo a comer, agradeço e o homem passa a mão na minha cabeça e senta na cadeira ao lado, eu acabei adormecendo no banco, acordei algumas horas depois, o homem ainda estava lá ao meu lado. A enfermeira chegou perto de mim, me abraçou e começou a chorar, eu não conseguia ententer o que estava acontecendo, " ela tá bem já? Posso ver minha vó já? Você prometeu que ela ia ficar bem, ta tudo bem né?" A enfermeira se afasta um pouco me olha e só consegue se desculpar, "Você prometeu, você prometeu" eu falo desesperadamente. O homem ao meu lado já consegue imaginar o que aconteceu. Ele pergunta pra mim se eu tenho algum lugar aonde possa ficar mas eu nem consigo olhar pra ele. Saio correndo do hospital, não sei mais aonde ir, a chuva começa a cair, a água não me incomoda, eu saio vagando pela cidade, não sei aonde vou, só corro sem rumo nenhum. Até que um carro branco para na esquina, de uma rua, e lá de dentro sai um homem, o mesmo que estava do meu lado na sala de espera, eu corro diretamente pra ele, ele me parecia a única salvação no meio daquilo tudo. Ele me coloca no banco de trás do carro e eu acabo adormecendo, acordo quando já está de manhã eu acordo e tudo me parecia um sonho, haviam dois velhos perto de mim. Quando o homem apareceu na porta eu me lembrei de tudo que havia acontecido, comecei a chorar mas os dois começaram a conversar comigo e a voz deles trazia um conforto tão grande que toda a tristesa ia embora enquanto a mulher cantava uma cantiga de ninar. Eu acabei explicando a eles o que aconteceu e de repende  eu vejo na porta mais um rosto conhecido, não conseguia acreditar que era mesmo ela. "Lucy?".

O velho do PapagaioOnde histórias criam vida. Descubra agora