A história que vou contar pode parecer irreal para alguns, uma dádiva da insanidade para outros, mas ela é real. Ela é muito real. Não pensem que eu sou louco, pois não sou.
Tudo começou em 1931, quando eu era apenas um garoto de 7 anos. Eu e minha família nos mudamos para uma casa no campo, distante das cidades, onde podíamos recomeçar nossa vida tranquilos. Havíamos perdido muito na Grande Guerra, muitos de meus tios e primos haviam perecido nos campos de batalha, por sorte, meu pai sobrevivera, mas voltara estranho da guerra.
Tinha ataques de paranóia, surtos de raiva, medo de cada sombra que via pela frente, voltara rígido. Podiam ter tirado a vida de meus tios na guerra, mas de meu pai eles tiraram o sorriso.
É com um desses surtos de raiva que nossa história começa.
Eu me lembro muito bem daquele dia. Era uma tarde quente e seca de verão e eu corria. Ah, como eu corria. Meu pai estava atrás de mim, um pedaço de madeira na mão direita, ameaçando me bater até sangrar, por algo que eu não havia feito. Mas é claro, ele não estava muito disposto a ouvir o meu lado da história.
Eu ainda não estava acostumado com a casa, ainda me parecia um imenso labirinto de cômodos vazios, poeira e mistérios. Quando tomei alguma distância dele, entrei em um corredor que eu praticamente nunca vira, que levava a uma maciça porta de madeira escura. Com o coração aos pulos, entrei pela porta.
Me deparei com uma sala vazia e escura, pois a janela estava fechada. As paredes estavam pintadas de um branco sujo, e o piso de madeira parecia precisar de cuidados. No entanto, no fundo do quarto, havia um armário, um guarda-roupa mais especificamente.
Eu ainda podia ouvir os passos de meu pai do lado de fora, me procurando. Tomado pelo pânico, corri até o armário e abri suas portas grossas de madeira, que por sorte não estavam enferrujadas, e me escondi em seu interior. Tomei o máximo de cuidado para que a porta não fizesse barulho ao bater e me sentei em um canto escuro, com o coração palpitando incessantemente, tão alto que eu temia que meu pai o ouvisse do lado de fora.
Passaram-se alguns minutos, que a mim pareceram horas, e eu comecei a me acalmar. Tudo indicava que meu pai deixara sua busca de lado e eu poderia sair. Mas, antes que eu pudesse sair, um pensamento tomou conta de minha mente... Mas que diabos de armário era aquele? Apesar de novo, já naquela época eu sabia que aquela coisa não havia vindo conosco, deveria ser do antigo proprietário... Mas, por que não levar consigo uma peça em tão bom estado? Poderia não ser o mais belo, precisar de alguns cuidados, mas ainda era um belo guarda-roupa de madeira.
Sentado ali no escuro, a dúvida consumia minha mente. Passei alguns momentos pensando naquele impasse quando vi um pequeno buraco no outro extremo do interior do guarda roupa. Não sei exatamente o que me vez ver aquele buraco, lembro-me de ter a sensação de algo se movendo do outro lado – apesar que hoje, faço uma boa ideia do que era aquilo – aquela coisa atraiu minha atenção como se fosse um buraco negro, e eu comecei a engatinhar em sua direção.
E é exatamente nesse ponto que as coisas começam a ficar estranhas.
Primeiro, tive a sensação de estar demorando um tempo estranhamente longo para me mover, como se o armário estivesse ficando maior a cada passo que eu dava. Depois, senti a escuridão a minha volta se condensar, se tornar intensa, física, se fechar ao meu redor. Não sei ao certo se existe alguma cor mais escura que preto, mas se existe, eu a vi naquele momento.
Mas o mais bizarro foi quando atingi meu objetivo. Aquele pequeno buraco que eu vi quando estava do outro lado se tornara um buraco suficientemente grande para que eu passasse em pé. Assustado, tentei olhar em volta, mas tudo estava mergulhado na mais pura escuridão. Confesso que senti medo, muito medo, mas algo me puxava irracionalmente para dentro daquele escuro buraco, e eu entrei.
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Um Breve Sopro de Vida
HorrorUma coletânea de cenas e pequenos contos de horror e suspense. As histórias são curtas e variadas, os temas que abordam são igualmente singulares, desde problemas psicológicos a fantasias delirantes; nenhuma das história apresenta ligação com as dem...