Existe uma lenda, uma lenda obscura e esquecida, que data de milhões de anos atrás. Essa lenda diz que existe um espírito chamado Jack, o Esquecido, um espírito estranho, não humano nem animal, tão pouco divino ou demoníaco, um espírito sem igual. Ele vaga pelo mundo, atrás de alguém para se lembrar dele. Ele é capaz de tudo para conseguir afeição, dançar, pular, cantar, matar, esquartejar e mutilar. Jack costuma assumir formas de qualquer coisa, mas sempre objetos, em especial brinquedos, porque, como todos sabem, as crianças são cheias de amor para dar.
Mas nem todo boneco é um brinquedo, assim como nem toda criança gosta de Jack. Essa história se passa em um passado não tão distante em um lugar que ninguém mais se lembra, mas que ainda existe, com certeza. O lugar era uma cidade no interior, pequena, mas muito bonita. O inverno já estava no fim, e o ar da primavera já estava a caminho. Os principais locais da cidade eram uma igreja velha, mas muito conservada, um hospital muito bem preparado e uma estação de trem, que era moda na época. Muitas crianças viviam nesse local feliz e uma delas se chamava Timotty Levesk. Timotty, ou simplesmente Timmy, era um garoto franzino e desajeitado de 10 anos. Ele não tinha habilidades esportivas ou intelectuais e já havia reprovado um ano escolar. Os pais de Timmy o amavam muito e tentavam de tudo para que ele tivesse um futuro promissor, mas Timmy parecia negar cada esforço possível e impossível de seus pais para ajudá-lo.
Não é preciso nem dizer que nosso querido Timmy tinha poucos amigos não é? Isso é uma grande verdade, mas ele não tinha muitos inimigos de verdade, na verdade a grande maioria da sua turma sentia uma grande pena dele, pois, além da sua falta de habilidade, ele tinha uma doença crônica nos pulmões, contra a qual lutava diariamente. Salvo um ou outro garoto com a inteligência de amendoim, que batiam no pobre garoto, a turma mantinha-se afastada do jovem.
A aparência de Timmy não é importante. Ela muda muito de acordo com a versão da história – e existem muitas – mas a que eu contarei é a mais verdadeira, mas não é em toda verdadeira, infelizmente. Para tanto, vou deixar a aparência de Timmy e da grande maioria dos personagens ao encargo de sua imaginação, porque assim ela será a mais verdadeira possível.
Em um dia claro, porém cinzento, Timmy andava pelo parque na frente da igreja, procurando moedas perdidas. Ele estava tentando juntar dinheiro para comprar balas já que seus pais não dariam nem uma moeda antes que suas notas melhorassem – mas estranhamente o deixavam sair na rua... quem entende? – e isso o aborrecia bastante. Achava extremamente injusto os pais não lhe darem dinheiro afinal, apesar de não serem ricos, não eram pobres, que mal faria moedas para balas? Timmy não conseguia ligar sua punição com seu respectivo motivo, mas isso é bem comum.
Em sua busca, Timmy encontrou um saco de pano jogado sob uma árvore em uma parte afastada do parque. Ele verificou o peso, um tanto pesada, e encontrou um bilhete, em que se lia, com letras cursivas muito bonitas:
"Para uma jovem criança especial"
"E quem poderia ser mais especial que eu?" pensou Timmy, orgulhoso. Ele virou o saco no chão, sem se preocupar se o que estava lá dentro era ou não frágil. A primeira coisa que notou foram as balas. Dezenas de balas roxas enroladas em papéis negros caíram do saco. Timmy experimentou uma e sentiu uma sensação nova e extasiante. Não tinha gosto de uva, nem de chocolate, nem de vinho. Tinha um gosto que nenhum mortal jamais sentira – e nem alguns imortais – era doce e amargo, límpido como a água e carregado como o vinho. Leve como manteiga que derrete na boca e duro como uma noz. O garoto julgou ser canela, não que se preocupasse se era ou não, mas nunca tinha comido uma bala de canela então pareceu adequado. Na verdade aquele era o gosto de magia, e de magia negra para ser sincero.
Junto com as deliciosas balas, Timmy encontrou um boneco voodoo. Pode parecer estranho, mas Timmy não sabia o que era um boneco voodoo. Seus pais o amavam muito, talvez um pouco demais, e ele não conhecia nada além do que os pais deixavam que ele conhecesse o que, claro, não incluía um boneco voodoo. Ele pegou o boneco na mão e o observou. Para sua surpresa, mas nem tanta, o boneco começou a se mexer. Timmy largou o boneco e caiu para trás, em um ato de extrema coragem de um garoto de 10 anos. O boneco resmungou um pouco, mas se levantou e sorriu:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Breve Sopro de Vida
HorrorUma coletânea de cenas e pequenos contos de horror e suspense. As histórias são curtas e variadas, os temas que abordam são igualmente singulares, desde problemas psicológicos a fantasias delirantes; nenhuma das história apresenta ligação com as dem...