Capítulo 1

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  A máquina começou a brilhar. Faíscas saiam para todas as direções. O Doutor estava nervoso, bem nervoso. Imagine só o quão nervoso ele estava. Não. Mais. Mais. Menos. Isso.

 Eu estava correndo de um lado para o outro da sala, sem saber o que fazer. Uma rachadura na própria parede do universo estava ali, em cima da máquina. Era mais ou menos do tamanho de uma pessoa... do meu tamanho. E então, eu pulei no portal.

 Mas estou me adiantando.

 Olá, meu nome é Marcus Poly, e eu sou o seu adolescente típico. Não me dou bem com as garotas, nem com os colegas... Típicas coisas de adolescente de filme americano. Como não tenho vida social, passo uma boa tarde do meu tempo livre vendo uma das coisas que mais me deixa feliz: vendo filmes. Desde pequeno eu sempre gostei de filmes. Meus pais sempre me mostraram os clássicos, De 'Matrix' a 'Star Wars', até mesmo 'Pulp Fiction' do mestre violento de cinema Quentin Tarantino. Se eu não estiver assistindo, estou lendo. Mas uma coisa que eu faço mais do que esses dois: escrever. Eu sempre gostei de escrever. Meus pais me dizem que eu comecei a escrever desde cedo. Mas não é só escrever por escrever, é o ato de contar histórias. Por isso que eu gosto tanto de filmes, eu adoro poder me sentir dentro de uma história mais animada do que minha vida pacata, sendo por escrever tais histórias, ou por vê-las em um filme ou livro.

 Por conta disso, eu normalmente fico "sonhando acordado". Mesmo com os olhos abertos, fico imaginando aventuras, e coisas mil vezes mais divertidas do que ficar sentado vendo alguém me explicar quem foi um homem que morreu a centenas de anos atrás.

 "Poly", chamou Bárbara. Veja, eu sei que eu falei que não me dava muito bem com os colegas, que eu não tinha vida social, mas não é totalmente assim. Eu tenho alguns amigos nessa minha sala, é só que, mesmo em uma sala de 30 alunos, é difícil achar alguém que me entende. Mas tinha uma pessoa que me entendia, uma pessoa com quem eu poderia ficar conversando o resto de minha vida. Uma pessoa que me entendia mais do que eu mesmo. Inteligente, mais bela do que o conjunto das obras do Kubrick, e mais perfeita do que a simetria do Wes Anderson.

 O nome dela era Bárbara A. Palmer. Eu nunca soube o que o 'A' significava. Ela nunca falou, eu nunca perguntei. Ela tinha um cabelo ruivo bem escuro. Ela era a pessoa da sala com quem eu tinha uma maior intimidade, mas ironicamente, eu nunca consegui contar pra ela como eu me sinto, e como eu gostaria que fôssemos mais que amigos. Enfim, onde eu estava mesmo? Ah sim...

 "Poly", chamou Bárbara. Eu virei. Ela apontou freneticamente para o professor que estava olhando pra mim com cara de quem poderia arrancar meus braços e pernas com as próprias mãos. Qual professor? Não importa. Isso acontecia todo dia, com quase todos os professores. Eu simplesmente "ia embora" nos meus pensamentos. Claro, tem sempre alguns professores bons que conseguem prender a atenção dos alunos, mas não vou falar deles. Essa história não é sobre eles, isso não é 'Sociedade dos Poetas Mortos'.

 Depois desse dia, eu fui pra casa e me preparei pra baixar os novos episódios de minhas séries, quando ouvi um barulho. Ignorei-o e continuei meu "trabalho". Ouvi-o mais uma vez. Era um barulho estranho, de ferramentas, mas com um toque de ficção científica. O barulho estava vindo da rua, e parecia na verdade estar vindo de uma casa específica da rua. É que essa casa ficou vazia por um tempo. O dono queria muito pela casa, e na crise ninguém está querendo se mudar. Pelos boatos, o dono chegou a um acordo com seu cunhado(mesmo sem o dono da casa gostar muito da ideia, dizem que ele foi pressionado pela mulher) para que o cunhado pudesse morar lá pagando menos da metade do aluguel.

 Minha mãe tinha dado uma saída para ir à manicure, então eu estava sozinho. Era minha chance. A chance de eu fazer alguma coisa perigosa. Bem, tão perigoso quanto ir até a porta do vizinho poderia ser. A verdade é que eu nunca saia de casa. Normalmente eu só ficava no computador. Mas não naquele dia.

 Eu levantei com tudo, até derrubando minha cadeira, e desci as escadas correndo. Abri a porta, e saí de casa. Só de abrir a porta já senti uma onda de calor quase me derrubou. Era como se eu tivesse acabado de entrar em uma fritadeira elétrica. Continuei andando até chegar na casa onde tinha o barulho. Eu fui chegando perto, tentando ver se conseguia escutar alguma coisa, quando de repente: BUM!

 Parei de me aproximar aos poucos e corri até a casa. O barulho foi alto, sim, mas o que foi mais forte mesmo foi a luz que eu vi pela janela daquela casa. Como se tivesse tido um raio lá dentro.

 "Tem alguém aí? Está tudo bem?" , perguntei. Ninguém respondeu. Foi então percebi que a porta na verdade estava entreaberta. Hesitante, empurrei-a e entrei na casa. Senti um cheiro forte de queimado, e um bom monte de fumaça começou a vir de onde me parecia ser o porão. "Está tudo bem aí?", perguntei mais uma vez. Comecei a descer as escadas para o porão, mas parei por um momento, pensando se o que eu estava fazendo era o certo. "Isso é contra lei, é invasão de domicílio", pensei. "Mas, talvez tenha alguém lá embaixo, machucado, em perigo". Então, resolvi avançar pelas escadas.

 O porão estava todo cheio de fumaça, eu não conseguia ver nada. De repente algo me puxou. Eu voei para o outro lado do porão(pelo que eu imagino, já que eu não conseguia ver nada). "Quem é você?", uma voz rouca me perguntou. Eu tentei falar, mas comecei a tossir por causa da fumaça e do cheiro de queimado. Depois de uns dois minutos, a fumaça começou a ir embora.

 Eu tentei abrir bem os meus olhos para ver melhor, o que foi difícil pois eles estavam irritados com a fumaça. Só não tão irritados quanto o velho que, percebendo que eu já conseguia ver e falar de novo, veio até mim e perguntou de novo: "Quem é você?".

 "D-desculpa senhor. Eu ouvi barulhos e achei que você precisasse de ajuda, e ainda a porta estava aberta então..."

  "Não foi isso que eu perguntei! Eu perguntei QUEM É VOCÊ!"

 "Meu nome é Marcus Poly, senhor. Eu sou seu vizinho..."

 "Ah! Porque não me disse antes! Eu sou o Doutor Rick! Muito prazer!"

 E foi assim que eu conheci o Doutor. Claro, eu sei que o nome dele é Rick(eu que te contei isso...), mas para facilitar as coisas eu o chamo somente de Doutor. Isso também pode ou não ser por conta de uma série britânica específica...

 Pelas próximas semanas, eu continuei indo para a casa do Doutor, todo dia depois da escola. Nós fomos ficando mais amigos, e descobrindo novas coisas juntos. No fim, ele era(quase) tão apaixonado pela sétima arte quanto eu. Eu ganhava um amigo, e ele, mais que tudo, um ajudante. Tenho que confessar que não tinha como eu não me sentir um pouco como o Marty do 'De Volta para o Futuro'.

 Um dia ele resolveu que era hora de eu finalmente saber qual era a invenção dele. Ele puxou uma lousa branca e começou a rabiscar. A verdade é que eu não conseguiria te explicar direito os rascunhos e esquemas que ele desenhou na lousa, mas eu entendi o que ele falou. "Marcus, existe um fato, que o nosso planeta não é o único nesse universo. Existem teorias, de que o nosso universo não seja o único, coexistindo com vários, senão infinitos, universos, dentro de um multiverso. E existem até mesmo teorias de que o nosso multiverso não seja o único, coexistindo com milhares, senão infinitos, outros multiversos, que por sua vez também englobam vários universos, tudo isso dentro de um grande multiverso."

 "Vamos dizer que algo é, mesmo que ao acaso, transportado entre dimensões. Isso abalaria toda a infraestrutura do espaço-tempo. Isso poderia começar a criar pontos fracos dentro dos universos, brechas por onde energias de um universo passa para o outro. Isso pode não parecer nada, mas essas brechas, essas passagens de energia podem significar algo pior que o fim do mundo, pior do que o fim do universo inteiro".

 "O quê?"

 "O fim de todo um multiverso".

 Nessa hora, eu vi a cara do Doutor, algo que ele não tentou esconder: vergonha. Foi ele que conseguiu transportar algo entre universos. Foi ele que quebrou o multiverso. E foi mais tarde, nesse mesmo dia, que tudo deu errado. 

O Pato InterdimensionalOnde histórias criam vida. Descubra agora