Day 1

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É um dia normal, e eu acordo com certo desânimo de seguir a rotina. Desânimo este que, me acompanha a alguns dias, para tudo... Sento na cama, me deparando com certa correria em casa. Eu estou atrasado. Minha mãe com sua saia preta até o joelho, uma bela camisa azul, abotoada até um pouco acima dos seios, e seu cabelo penteado de maneira linear, para trás. Meu pai e ela se trombam quase que sem se notarem, no corredor. Ele está dando o difícil nó na gravada listrada, roxa e cinza, ambos em tons muito escuros, sua camiseta perfeitamente ajeitada, e curvada para entrar simetricamente na sua calça "esporte social". Enquanto faço minha absorção de informações, consideravelmente lenta, pela manhã, os dois robôs, mais conhecidos como pais, param de repente na porta do meu quarto, me apressando a fazer algo para começar meu dia.
Levanto correndo, visto uma das camisetas brancas com faixas azuis na ponta das mangas, uma calça jeans meio surrada e meu tênis cinza, com algumas manchas de poeira. Corro para a cozinha e não vejo nada sobre o balcão, onde eu esperava ao menos ver uma maçã. Estou realmente atrasado. Abro a geladeira e pego a primeira guloseima rosa que vejo na porta da geladeira, e me esforço pra pegar dez reais soltos na bolsa da minha mãe. A cantina dá escola costuma render lanches gostosos. Entro no carro, me sentindo como se tivesse acabado de correr uma maratona, e bato a porta sem nenhuma delicadeza. Percebo a fisgada no olhar do meu pai no espelho do carro.
Quando chego na escola, a inspetora já está fechando o portão, e para bruscamente ao me avistar, e me olha com uma cara feia. Já é a segunda do dia...O corredor está vazio, com uma ou duas garotas espalhando cartazes do grande baile de inverno, que eu provavelmente não vou. Abro meu armário, pego o material que vou usar o dia todo e corro para a sala, onde uma daquelas meninas também entram e eu me alívio ao ver que não há professor nenhum ainda. O primeiro sinal apenas deve ter tocado. Piso na sala e o segundo toca, o que significa que os professores estão vindo, de vez. Então me sento e o professor de história entra. Como o assunto do momento é uma possível terceira guerra mundial, ele entra falando algo sobre bombas e riscos de um apocalipse, e isso não me assusta. Então a aula começa:
- O dia amanheceu com a Incrivel notícia de que, em breve, seremos atacados...
- Devemos ficar com medo?- diz Marcus, um daqueles garotos que falam e falam a aula toda, e acabaram sendo colocados em uma das primeiras carteiras depois dá mesa do professor
- Se tiver medo de notícias espalhadas no Facebook, diria que sim... Washington foi avisada que um ataque a bombas seria certo caso atacassem de novo um daqueles países que estão em guerra a anos, novamente. E adivinhem...
- Senhor querido presidente resolveu seguir os conselhos dos meus avós e " explodiu toda aquela gentalha"- murmura uma voz no fundo da sala.
- Não sei se por causa do seu avô, mas sim, enviaram mais 27 mísseis aos tais países piores que cães e gatos. Mas não acredito que um ataque seja iminente. Se for, usem aquelas incríveis dicas dadas a vocês nos dias de brigada de incêndio, e saiam fazendo uma fila de mãos dadas como princesas saltitantes comemorando a morte ardente.
O tom de ironia do Senhor Miller parece tranquilizar um pouco, mas então penso se, caso acontecesse algo assim, eu seria o que morre de primeira naqueles filmes de ação, ou sobreviveria e iniciaria a grande batalha pela sobrevivência numa cidade toda destruída.
Alguns minutos, ou horas depois, o sinal do intervalo soa e somos enfim liberados. Espero ter que sair dá sala sozinho, usar meus 10 reais roubados na cantina sozinho, sentar em um dos bancos do parquinho sozinho, como todo dia, mas uma mão, quente e brevemente acolhedora pousa em meu ombro.
- Ei, Blake! - diz mais um daqueles que me chamam pelo sobrenome, o que indica meu nível de intimidade com meus queridos colegas de sala.
Quando me viro, me deparo com Peter Teller, o Garoto que anda falando comigo a alguns dias, e eu infelizmente venho me apegando, por certa necessidade de ter alguém pra poder chamar de amigo. Viro rapidamente, num impulso frenético de não deixa-lo esperando. É uma sensação estranha clamar por uma amizade.
- E aí, cara!- tento não demonstrar a empolgação em poder estar falando com ele, justamente por não querer parecer forçado, ou algo do tipo, afinal, depois não quero deitar na cama e pensar "meu Deus como eu passo vergonha fácil".
- Ta tudo bem?- já estranho, porque Peter sempre costuma me chamar pra perguntar algo sobre os trabalhos ou algum assunto nerd quente do momento.
- Como sempre, só levando. Por... E contigo?
- To bem também, meio assustado com esse lance das bombas.
- As vezes penso que essa seria uma boa saída de tudo isso que eu to passando- deixo escapar.
- E o que vc tá passando? - pergunta ele rapidamente - Ou melhor, posso passar o intervalo com você né? Ai você já me conta tudo, pode ser?
Admito que a existência da palavra ''Não" sumiu dá minha cabeça.

É Mais Dificil Do Que PareceOnde histórias criam vida. Descubra agora