Capitulo 1

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-Vamos ser sinceros, ter de lidar com o facto de ser adolescente já é bastante mau, agora vamos imaginar quando se é metade lobisomem e metade bruxo, oh espera... Não posso imaginar porque eu sou mesmo!- Digo para o Oliver, que para além de ser o meu único amigo, faz parte do mesmo clã que eu.

-Não te podes esquecer que eu também sou bruxo meu amigo, compreendo metade dos teus problemas! - Diz ele enquanto sorri.

O Oliver possuí um cabelo loiro com um corte clássico o que contrasta com os seus olhos verdes bastante claros. Tinha por volta de um metro e oitenta e nem vamos falar no corpo dele, porque isso, era a minha perdição.

-Derek! -Acorda-me ele enquanto eu estou, literalmente a babar, enquanto olho para ele.
Bem e eu, Derek, possuo cabelo castanho não muito longo, olhos castanhos, pouco mais claros que o meu cabelo e por fim tenho um corpo, não dizendo perfeito, mas bastante saudável.

-Desculpa! Estava a pensar no trabalho que tenho de apresentar amanhã que ao invés de o estar a preparar estou aqui a queixar-me da vida.

-Fazemos assim, vais a casa, preparas o trabalho e depois do jantar eu vou ter ao teu telhado! Combinado? -Diz ele enquanto me pisca o olho.
Abano a cabeça dizendo sim e corro para casa.
Aquele caminho para casa, ja o havia feito uma dezena de vezes, era doloroso mas no final tudo compensava para estar com o Oliver ao anoitecer sentado na borda do meu telhado.
Enquanto caminho consigo sentir a magia que paira no ar, por entre as árvores, no mais pequeno sopro de vento, a sair diretamente do chão.
O problema das pessoas de hoje é que não acreditam na magia, então é muito raro haver um clã de bruxos por estas bandas, mesmo que haja bruxos, nunca foram ensinados, logo não conseguem fazer muito.
Um murmurar desperta-me a atenção, quase como que um cântico de bruxa. Viro ligeiramente a minha cabeça para a direita e deparo-me com uma mulher de cabelo negro como a noite, pele pálida e olhos escuros, envergava um vestido longo azul escuro e não parece ter mais de sessenta anos a falar para as árvores do modo que só uma bruxa o sabe fazer.
-Olá meu lindo! -Diz aparecendo atrás de mim.

- Santo António!- Digo dando um salto e fico a olhar para ela.

-Não precisas ter medo pequeno lobinho!

-Lobinho? Quem é você? E porque raio anda a assustar assim as pessoas no meio da noite?- Digo com voz firme e punhos cerrados.

-Quem sou eu? Em breve ficarás a saber. Mas por agora vim-te alertar, pois muitos clãs virão atrás de ti pelo teu poder! Então eu se fosse a ti começava a correr agora! - E com um leve abanar de mão e um riso sinistro ela desaparece.

"Mas que raio...?"

Corro para casa que não era muito longe do parque e consigo ver a grande casa de barras azuis. Com medo do que a velha bruxa me tinha dito abro o portão branco meio atrapalhado e caminho agilmente pela calçada de pedra no meio do jardim não prestando atenção e vendo que as rosas do meu lado esquerdo tinham morrido ou que as dálias do lado direito estavam a brotar. Fico parado em frente à grande porta castanha de entrada, tiro a chave do bolso e enfio-a pela ranhura da porta, com um gesto hábil de pulso abro-a.

-Mãe! Cheguei! - Grito assim que entro em casa fechando a porta atrás de mim.

O silêncio é desconfortável, procuro pela casa toda, mas não há ninguém. O corredor que leva à cozinha estava estranhamente gelado, mais que o habitual.
Dirijo-me à cozinha e encontro uma nota no frigorífico, claro que foi a minha mãe que a escreveu, a caligrafia dela é facilmente reconhecível com as letras perfeitas e redondas.
"Hoje vou chegar tarde, houve uns problemas com a regência do clã, vou ter de ir a uma reunião.
É lua cheia, portanto sabes que o teu pai não irá estar em casa. Beijos."

Mais uma noite que vou passar sozinho, fantástico!
Subo a longa escadaria de mármore e entro pela porta do quarto.
O pior de ser metade lobisomem é que o olfato torna-se bastante apurado, principalmente nas noites de lua cheia, e por mais arrumado que eu seja, a roupa suja no canto do quarto começa a fazer-me ficar nauseado e então retiro o cesto da roupa suja e jogo-o para a casa-de-banho. Volto para o quarto e não consigo evitar de me deitar na cama, o trabalho varreu-se da minha menti e fico a pensar no que a mulher do parque,e deparo-me com algo estranho, primeiro é o facto de ela saber que eu era lobo, bem pelo menos metade. E segundo é que nunca a tinha visto por estas bandas, e como a minha mãe é uma regente do clã mais poderoso desta cidade, conheço todas as bruxas das redondezas, e por fim, o feitiço que ela estava a realizar, não era de todo estranho para mim...E como é eu consegui sentir toda aquela magia a emanar do chão? E com estes dilemas todos acabo por me enrolar no sono.

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