O fogo ainda ardia quando Howard estacionou, algumas quadras de distância da escola. De longe era possível ver a fumaça negra e espessa que se atirava ao céu, tornando o dia nublado ainda mais deprimente. O corpo de bombeiros tentava, ainda sem sucesso, controlar as labaredas gigantescas que engoliam o prédio e cuspiam cinzas e destroços.
A escola era uma construção antiga e imponente. Tratava-se de um palacete marrom, com tijolinhos retangulares arrumados em fileiras organizadas. As janelas eram tão antigas que não existia mais em lugar nenhum do mundo aquele tipo de vidro. No centro erguia-se uma torre alta, com um relógio analógico na ponta. Howard tentou se lembrar de todos os detalhes daquela bela arquitetura, mas naquele momento, com fogo destruindo tudo, não enxergou nada além de uma mancha vermelha e preta dançando diante de seus olhos.
A rua estava apinhada de gente. Curiosos, em sua maioria, mas também professores, pais e repórteres. A escola ficava no final de uma rua larga, ladeada por calçadas de pedregulhos brancos e cinzas. No lado direito, grandes árvores balançavam com o vento. No esquerdo, apenas cercas e grades. Howard sempre achou engraçado o fato de a rua ter muitas árvores de um lado e nenhuma do outro; parecia um acabamento irregular. Como uma fotografia que, por algum motivo, fora conservada em uma moldura incompleta.
Maxime Pratt, a diretora da escola, puxou Howard pelo braço, em prantos. Em anos de serviço, o professor jamais vira a poderosa Maxime tão vulnerável. Lágrimas pesadas e redondas desciam pelo seu rosto, lavando toda a maquiagem. "Eu sinto muito, Howard", resmungou. "Eu tentei tirá-lo de lá, mas a fumaça não me deixava ver nada. Eu... Eu... Ah."
Só então Howard percebeu o estado das roupas e do cabelo de Maxime. Estava chamuscada dos pés à cabeça, com rasgos em alguns pontos do caríssimo terno azul royal. Com a garganta enrolada, Howard perguntou: "Tirar quem? Quem estava lá?".
Ao ouvir a pergunta, Maxime esbugalhou os olhos. Percebeu que Howard ainda não sabia o que tinha acontecido. Ajeitou seu cabelo vermelho para o lado, em uma tentativa falha de recuperar a postura. Parando de chorar momentaneamente, Maxime falou, devagar. "Daniel Stevens. Ele está morto. Quem faria uma coisa dessas?".
Howard não respondeu. Para ele, naquele momento, era impossível falar sem desabar. Percebeu com o canto dos olhos a movimentação rápida do esquadrão de resgate, que levava uma maca coberta por um lençol branco para dentro de uma van vermelha e branca. Seu primeiro instinto foi o de gritar desesperado, mas sua voz não saiu. Estava paralisado. Daniel se fora.

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A Bandeira Vermelha
Mystery / ThrillerHoward Montreal amava sua pacata vida em Autumn Valley: fazia exercícios matinais, colecionava miniaturas, adorava cozinhar e era apaixonado pelo seu trabalho como professor na Escola Fundamental de Autumn Valley. Mas tudo isso é posto de lado quand...