Capítulo 3

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🎵 Que dia solitário!
Não deveria existir
É o dia que nunca sentirei falta

Lonely Day - System Of A Down

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Na noite passada tinha conseguido ir dormir mais cedo, porque minha família não havia ficado tanto na minha cola. Mesmo assim não tão cedo quanto gostaria, pois passei algum tempo acordada pensando nele, no nosso encontro, na sua proposta indecente, no seu toque, sua voz, em como sabia meu nome, que estava fugindo dele, o trajeto que eu usaria para chegar a meu carro para conseguir estar lá antes de mim e me surpreender.

No entanto o que realmente me tirou o sono foi seu convite. Por que o fez se tinha me visto rejeitar o leilão de boas-vindas? Talvez pensasse que não aceitei jogar com medo da exposição e preferisse algo mais discreto. Que eu achasse pouca a grana do leilão e preferisse dar o meu preço. Ou pensou que a atração que sentia por ele me fizesse aceitar.  

E por que havia dito que não jogava se o vi jogar jogos de azar? Talvez estivesse se referindo apenas aos jogos sexuais. Ou queria dizer algo mais com aquele: "eu também não jogo?"

Eu já estava outra vez quebrando a cabeça para tentar entender suas atitudes. Tinha que parar com isso. Mas a verdade era que não conseguia tirá-lo da minha cabeça. 

Dormi pouco e levantei a tempo de tomar o café da manhã com minha família. A mesa estava barulhenta como sempre, como uma cantina de escola. Todavia eu conseguia ver a tensão em meu pai. Ele sorria, mesmo assim seu sorriso não alcançava os olhos. Sua aparência estava abatida. Comecei a me preocupar seriamente com sua saúde.

Olhei para minha mãe, que percebeu e me deu um sorriso ainda mais sem ânimo que o do meu pai. As coisas estavam complicadas. Com o dinheiro que tinha recebido ontem conseguiria pagar mais um distribuidor, o de verduras, porque o de carne não dava mesmo.

E, dessa forma, nunca conseguiria pagar o banco. Com tantas dívidas não daria para juntar dinheiro. Entretanto sem os fornecedores o restaurante fecharia. A casa, por mais vergonhoso que fosse, poderia esperar um pouco mais.

Depois de comer fui para a cozinha. Hoje seria a ajudante. Pois é, aquele lance de revezar. Meu primo assumiria a cozinha. Comecei a lavar e picar as verduras necessárias.

Logo o primeiro cliente apareceu, ele queria nosso famoso espeto. Quando Aquiles cortava a carne, o primeiro fornecedor chegou. Eu pedi para atendê-lo, lhe paguei e o convenci a continuar nos vendendo, afirmando que agora não haveria mais atrasos.

O da carne foi mais complicado, ele não quis acordo. Só queria pagamento. Era uma pena, pois comprar com ele saía muito mais barato do que comprar em qualquer mercado. Se eu tivesse o dinheiro na mão para saldar a dívida, ele teria sido mais compreensivo como o das verduras, porém não tinha.

Àquela noite fui trabalhar com um nó no estômago depois de todo o dia de estresse. Ele estava lá, me observou e mais uma vez o ignorei, troquei de mesa novamente e fingi que nunca tínhamos nos visto. Na volta para casa fui acompanhada de Addie, que não tinha nenhum "compromisso" marcado.

A semana ia se passando, meu pai estava cada dia pior, tinha atribuído a meu primo e tia mais um dia na cozinha como chefes, pois ele não estava mais cozinhando, menos falava, menos sorria. Minha mãe errava nas receitas, coisa que nunca tinha lhe acontecido.

O ruivo misterioso apareceu apenas duas vezes no cassino naquela semana. Ele fingia que não me via e eu fazia o mesmo.

O chefe me perguntou se queria participar no próximo leilão. Lhe respondi que não, mas confesso que estive tentada a aceitar. Só que era impensável, não tinha tempo para brincar de cadela de um depravado milionário, eu tinha uma família que estava toda em minhas mãos. É, porque com meu pai e mãe deprimidos só restava a mim para estar à frente da família e tentar resolver os problemas.

Garry (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora