A Fera do Manto Amarelo, a Jovem e a Máscara

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Certa vez uma Jovem garota de semblante triste e curioso adentrou meus umbrais;

Sem perceber minha presença, questionando a existência se apresentou:

Olá, não sei me apresento como uma tola ou como um espelho. Bom, talvez porque eu não saiba se os que me ouvem são os possuintes de uma vida fajuta, ou transparentes como eu. Vivendo nesse mundo são só trevas que me sobram, a ambição reluz e a iniquidade envolve todos aqueles que a maldade no ouvido sopra;

Por ventura és tu tão ingênua, que achas que a maldade escolhe? O caráter é indutivo, e a bondade alcançável quando almejada. Mas na construção de um castelo, cada rei suas pedras recolhe.

E a Jovem questionou;

Ora, mas quem fala tão convicto da verdade?

Eu sou a Fera, ódio e rancor, é isso que sou, e amaldiçoado fica aquele que me conhece;

Tu, porém não és diferente de mim, sozinha, triste e desolada, buscando abrigo em meu lar;

E a garota irou-se;

Não sou sozinha, triste e nem desolada! Sou uma Jovem que vive em uma época ideal;

Já cruzei com muitos mascarados que me enganaram, mas da maneira exposta igual a ti, NENHUM!

E a Fera respondeu;

Isso porque não tenho motivos para não me expor. Carcosa é rica em estrelas, e eu minha Jovem, Eu sou rico em horror;

Falas como um amaldiçoado, como se da vida já tivesse provado toda a maldade;

Tire então a tua máscara e mostre-me quem és, covarde;

Que te esconde nessa, desenhada por traços banais;

E a Fera riu;

Quem és tu, ó mascarada, para minha bela máscara querer tirar?

Tira, porém a tua primeiro, que te prende nessa casca de alegria falsa e satisfação temporária;

E a Jovem se recolheu de medo;

Quem és tu? Que tanto sabes sobre mim?

Sou um monstro e nada mais;

E a garota barganhou;

Se tirardes a tua Máscara e me mostrares quem realmente és, prometo arrancar a minha, para nunca mais usar;

Tu não aguentas minha natureza, Jovem, se eu tirar minha Máscara, o monstro que sou tu verás;

E preferirás que eu nunca a houvesse tirado;

Não suportas nem tua própria natureza, como minha abissal forma suportarás?

E a Jovem insistiu;

Estou pronta para suportar, ó Fera, mostra-me tua face, eu suplico;

Para que minha curiosidade venha acabar;

É isso que queres Jovem? Se eu tirar, tu morrerás;

É isso que quero Fera mascarada;

E a Fera tirou a Máscara, e um grito de horror se ouviu;

O corpo desfalecido da Jovem sobre o chão caiu;

E a Fera disse;

Os homens nunca suportam sua verdadeira natureza, e ver sua própria face abissal;

A Máscara às vezes os protege do repúdio completo, pois viver nesse mundo sem máscaras é como construir o próprio calabouço;

A Jovem levou tempo demais para entender, entender que a máscara que usava nada mais era do que a face maquiada de um monstro;

O monstro interior que existe em cada um, em cada um de nós.    

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