13. Segunda-feira

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Dortmund, Alemanha

Segunda-feira

Amélia sabia que aquele dia seria diferente do anterior, o qual passou todas as 24 horas na sua cama pensando em todos os acontecimentos de sábado, quando o despertador tocou às 6:30 e ela já estava acordada, se revirando de um lado para o outro na cama. Queria gritar até que se convencesse que tinha que tirar Marco da cabeça e pensasse apenas em seu TCC que já estava na fase final. A defesa seria em um mês, então não conseguia aceitar que qualquer outra coisa tirasse seu foco.

Em um mês teria que decidir qual o próximo passo que daria em sua carreira.

Levantou e realizou todo o seu processo de arrumação de um jeito que não estava acostumada. O jeito calmo. É algo raro para alguém que passou todos os 5 anos de graduação chegando atrasada para todas as aulas.

Quando pronta, olhou para o espelho e deixou-se pensar naquilo que tentou evitar o domingo inteiro.

- O que você vai fazer se ele estiver no Asemann, Amélia? – Disse olhando seu reflexo.

Mas ele não estava. Quando entrou no Café, Meli revistou todas as mesas em um tempo recorde de meio segundo e respirou tranquilamente quando não encontrou nenhum jogador de futebol.

Sentou no balcão e viu Irmela de costas despejando café em uma caneca.

- Bom dia, Irmela. – Falou chamando a atenção da senhora.

- Bom dia, querida. – Respondeu com o sorriso que já era típico dela. – Como está? É um prazer servir você aqui pertinho de mim.

Amélia sabia que ela só estava sendo gentil, mas aquele comentário fez seu coração quebrar-se em mil pedaços quando se deu conta de que se sentara ali porque sua habitual companhia a deixara.

- Parece que vai ser assim de agora em diante. – Disse deixando o olhar se perder na mesa que sempre compartilhava com Marco.

- Onde está seu acompanhante, Amélia? – Irmela perguntou, parecendo perceber a situação só naquele instante.

- Aparentemente está ocupado demais com outras pessoas. – Ouviu o som da porta de entrada abrir e como num reflexo desviou seu olhar até lá, na esperança de encontra-lo. Em vão. – Irmela, eu preciso de um café bem forte.

•••

Amélia atravessou a porta de seu apartamento e concluiu, finalmente, que estava apaixonada. Estava apaixonada e era bem aí que tinha errado, pois sabia desde o início que o coração de Marco não estava livre. Ela se arriscou e quebrou a cara. Se jogou em seu sofá e bufou com raiva. Tinha essa mania de conversar em voz alta com si mesma, ponderando sobre qualquer coisa que invadisse sua mente, e dessa vez não foi diferente.

- Você sabia, Amélia Boehl, sua idiota! Você sabia! Qual foi a primeira coisa que pensou quando o viu, uh? Que ele era alguém que estava sofrendo. E você foi atrás mesmo assim! Foi atrás porque tem essa necessidade ridícula de que querer ajudar a todos até chegar ao ponto de esquecer de si mesma... – A esse ponto as lágrimas já formavam uma barreira transparente em seus olhos, embaçando toda a sua visão. O esforço para mantê-las ali fazia um zumbido ensurdecedor surgir em sua mente. O barulho só cessou quando foi substituído por outro. O da campainha. Levantou-se devagar olhando-se no espelho que havia em sua sala, para ter certeza que estava minimamente apresentável para quem quer que fosse. Abriu a porta e se deparou com Liz. Claro.

- Cadê sua chave? – Perguntou, porque por mais que a amiga tivesse seu próprio apartamento do outro lado do corredor, passava mais tempo no pequeno lar de Meli, a ponto de ter sua própria chave.

- Meli, não acredito que você ainda está chorando. – Disse, ignorando sua pergunta.

- Não seja boba, não estou chorando. – Respondeu virando as costas e caminhando até seu sofá novamente.

- Você acha que eu nasci ontem? Me conta... Ainda está assim por causa dele?

- Ah, Liz, é tão difícil. – E finalmente estava lá, o choro em sua mais perfeita forma, sem nenhuma relutância em aparecer. A futura veterinária deitou sua cabeça no colo da futura antropóloga e respirou fundo. – Por que fui me meter nisso sabendo como tudo poderia terminar? Ele me falava sobre ela. Ele ainda ama e nunca se recuperou depois que ela o deixou. Ele me dizia isso, que era insuportável saber que não foi o suficiente. E mesmo assim eu confundi toda nossa amizade com essa paixão ridícula que sinto por ele.

- Você estar apaixonada por ele não é ridículo. É humano. Você não pôde evitar. – Liz tentou consolá-la.

- Mas eu deveria! Minha mãe sempre me ensinou que eu não deveria falar com estranhos e mesmo assim eu dei o pontapé inicial e fui lá. Eu fui atrás de um coração quebrado. – Teve que pausar a fala por conta dos soluços que vinham com o choro. – Eu preciso parar de chorar.

- Nisso você tem razão. Levanta agora e vai lavar esse rosto, trabalhe no seu TCC porque essa é única coisa certa na sua vida até agora. Falta um mês, Meli. É a profissão dos seus sonhos, não esqueça isso, foque nisso. Você vai ser a melhor veterinária que Dortmund já viu.

Não demorou para que Liz fosse embora e Amélia ficasse sozinha novamente. E agora que seus pensamentos pareciam altos demais naquela casa, resolveu se distrair com alguma música alta e algumas horas em frente ao notebook checando suas redes sociais. A essa altura algumas fãs mais fervorosas de Marco já sabiam de sua existência e deixavam alguns recados em seu Instagram. Nada bom para seu plano de esquecê-lo. Mas o acontecimento mais surpreendente do dia ainda estava por chegar. De alguma forma, em um determinado momento da tarde que já se iniciara, Amélia foi parar no site do Borussia Dortmund, mais especificamente e perigosamente, na parte do site onde se podiam comprar ingressos.

Passou alguns bons minutos encarando a tela e se perguntou que tipo de loucura repentina era essa que a dominava.

Mas achou a desculpa perfeita para concluir a compra. Ali no Signal Iduna Park seria sua despedida de Marco. Assistiria o jogador fazer sua coisa preferida no mundo e depois nunca mais o veria, para seu próprio bem.  

  •••  

Oi!

Demorei, mas aqui estou. Infelizmente com um capítulo menor que os últimos. 

Período difícil na faculdade, então tô meio correndo contra o tempo. Espero chegar com o próximo bem rápido porque nele vamos descobrir o que houve com o Marco depois que ele deixou o pub na fatídica noite. 

Me deixem saber o que estão achando e se você chegou agora, bem vindx!

Obrigada por tudo <3

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