Capítulo 1 - Dead

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Ultimo dia. Este seria provavelmente o meu ultimo dia na terra. Estava a poucos minutos de perder tudo o que amava, que também devido ás circunstancias já não era muito. A minha janela estava aberta, e eu sentada ao parapeito, sentia a brisa embater me na cara e o meu cabelo castanho a esvoaçar arrepiando cada centímetro de mim. As pequenas cartas estavam em cima da minha secretaria, por de trás de mim, na esperança que fossem entregues a alguém, com uma explicação do porquê de abandonar assim a minha vida. 

Aos poucos ia ganhando coragem para saltar, a altura era grande, viver no 12º andar tem dessas vantagens. Olhava diversas vezes lá para baixo, como sempre, não passava ninguém na rua, apenas se viam alguns carros parados na estrada. Provavelmente aquelas pessoas estariam nas suas casas com as suas famílias, quem sabe talvez fossem felizes. Mas neste momento tudo rodava à minha volta. Voltei a realidade e aquilo que me pareceu ser um silencio, foi transformado por gritos. Ouviam se gritos por toda a casa, mais uma típica discussão dos meus pais que aos poucos iam perdendo o amor entre si. Amor. Algo um dia conhecido por mim, que com o tempo foi esquecido e deixado para trás. Quem diria, que uma palavra poderia ser tão poderosa e capaz de destruir um milhão de almas. 

Olhei para os meus pulsos onde grandes cicatrizes atravessavam a minha pele, onde era visível a dor de uma rapariga que morria lentamente. Nunca me serviu de nada, nunca me aliviou, apenas me magoava mais, como se de alguma forma a minha dor física me distraísse da minha dor psicológica.  Mas no final acabava por ser mais um problema criado por mim, pois olhava para aquelas cicatrizes lembrando me dos maus momentos que passei, mas a dor era viciante, faziam me querer mais e mais, cada corte sabia melhor que o anterior, era uma dor que com o tempo me começou a acalmar até chegar ao ponto de não o fazer mais. Gostava de ver o sangue escorrer lentamente pelos meus braços criando linhas vermelhas e de ver os meus dedos embebidos naquele liquido que circulava dentro de mim. Talvez dor fosse a única coisa que eu conseguia sentir no final do dia. Talvez, eu ainda tivesse algum sentimento a circular dentro de mim.

Parei novamente os meus pensamentos olhando para o relógio atrás de mim. 15 horas. Baloiçava lentamente as minhas pernas e à medida que me lembrava das minhas mágoas ia me levantado a tremer. Segurava com força o meu colar, com o que eu chamaria de amuleto da sorte. Irónico, pois sorte era aquilo que me estava a faltar na vida. Tremia e suava, o nervosismo era evidente, qualquer que fosse a minha escolha, não haveria maneira de voltar atrás. "Estou pronta" pensei para mim mesma. E de súbito como se uma coragem repentina se tivesse apoderado de mim e atravessado o meu corpo, saltei para a frente sentido o vento embater com força em mim enquanto eu era projectada para baixo com toda a força. Em poucos segundos o meu corpo embateu no chão duro e senti a minha alma abandonar lentamente o meu corpo enquanto pessoas espreitavam ás janelas para ver o que teria acontecido.  E sem mais nem menos, tudo o que alcançara no mundo desvaneceu, tornando me apenas mais um corpo morto na terra.

Adeus mundo.

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