Capítulo 2 - Awake?

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De repente senti me acordar. Mas como? Eu mandei me, eu tinha morrido. Seria impossível não morrer depois de uma queda daquela altura. Esperei que a minha visão ficasse clara e limpa e olhei à minha volta. Eu estava deitada, no centro de uma multidão e ao fundo conseguiam se ouvir algumas sirenes. Talvez fossem ambulâncias quem sabe. Observava as pessoas, e por mais estranho que parecesse elas não me observavam a mim, não me dirigiam sequer o olhar e eu rapidamente me levantei sem sentir qualquer pingo de dor e olhei para o que me rodeava. Eu reconhecia este lugar. Era a minha rua, o meu prédio e a minha janela e quando dei por mim estava em pé, ao lado do meu corpo morto no chão, enquanto uma poça gigantesca de sangue se continuava a espalhar em torno da minha cabeça. Seria possível?

As pessoas continuavam a não reparar em mim, e ao fundo, bem distante de toda a multidão um rosto encarava-me, com uma expressão assustada e esfregava diversas vezes os olhos, talvez não acreditasse no que via. Mas seria possível eu ser real, seria possível alguém ver o meu corpo e a minha alma? As pessoas olhavam na minha direção, murmúrios e lamentos eram mandados para o ar e levados com o vento e quando voltei a olhar para o horizonte aquele rosto, desconhecido por mim, já não se encontrava mais ali, apenas se via a sua silhueta a mover se no sentido contrário da cena mórbida e sombria que todos pareciam estar a gostar de ver. Voltei a focar o meu olhar no meu corpo morto, agora rodeado por vários médicos que bruscamente pegavam em mim e me metiam no saco cinzento como se fosse apenas um objeto. Perto deles estavam os meus pais, que choravam a minha morte, provavelmente chocados com o acontecimento pois as suas vidas eram tão ocupadas quem nem tiveram 1 minuto que seja para repararem no evidente sofrimento estampado na cara da própria filha.

Continuei a assistir aquela cena, as ambulâncias lentamente iam se embora e as pessoas retiravam se, voltando às suas vidas, como se nada tivesse acontecido, como se não tivessem acabado de ver um cadáver no chão.
Encaminhei me para a porta de casa, era uma sensação esquisita, sentia-me a andar mas não sentia o chão, mas uma parte de mim acreditava que estava a pisa-lo. Dirigi-me ao meu prédio e de alguma forma atravessei a porta sem a sentir como se eu fosse apenas fumo. Foi estranho. Subi as escadas até ao meu andar e de algum modo eu não fiquei cansada. Subir aqueles 120 degraus que antes me deixavam exausta, foram a coisa mais fácil do mundo.

Tecnicamente eu tinha morrido mas confusão era algo predominante em mim. Porquê? Sentia que de nada resultou mandar me daquela janela. Por algum motivo eu continuava na terra, eu estava aqui, perto do sitio de onde eu queria estar longe. Ansiedade começou a pulsar dentro de mim, era estranho, mas eu sentia - a ligeira, enquanto outra parte de mim não sentia nada, como se eu fosse feita apenas de espaços vazios. E as imagens daquele rapaz passavam-me na cabeça. Tinha um ar tão frágil, tão delicado como se carregasse o mundo ás costas e o medo atravessa-me, como se isso fosse possível, pois não tinha a certeza se ele me tinha visto.

Já no meu quarto abri lentamente a porta do meu armário,onde no seu interior se encontrava o meu espelho. Eu não a sentia fisicamente nas minhas mãos, mas ela abria-se aos poucos com o meu toque. Estranho. Pus- me a sua frente na esperança de conseguir ver o meu reflexo mas foi uma esperança que rapidamente se desvaneceu pois o meu reflexo não existia. Eu não exista. Eu era apenas uma alma a vaguear pela terra, que estava presa aqui, num monte de mentiras sem puder escapar. Continuava aqui por algum motivo mas ninguém me poderia responder. Estava mais uma vez por minha própria conta. Continuei a olhar para o espelho e algo começou a aparecer no mesmo, como que um reflexo mas eram imagens vagas e não se percebia bem o quê. Continuei a olhar para o espelho e parecia que estava a fazer força com a minha mente para tentar decifrar aqueles vagos borrões que apareciam nele e foi aí que de repente todos aqueles borrões se tornaram mais nítidos.

Era o rapaz da multidão.

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