CINCO ::: 17 de Dezembro de 1992

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O choro incessante do bebé corroía lenta e profundamente os nervos de Anton. Este marcava o passo pelo soalho da enorme sala de estar da casa da sua amada. O ódio consumia-lhe cada gota de sangue, o fazendo escorrer em suor.

Os seus olhos esbugalhados raiavam fios vermelhos e as veias se salientavam por todo o rosto e pescoço.

— Por favor, Anton, me deixa ir embora! — Beth suplicava pela centésima vez, enxugando do rosto as lágrimas ao mesmo tempo que tentava acalmar o seu filho pequeno.

— Você não tinha esse direito! Não tinha o direito de me trair! — Ele esbravejou abanando freneticamente com a arma no nível da sua cabeça. — Você... — Apontou a arma para ela e Beth desviou o rosto chorando desesperada ao mesmo tempo que tentava proteger seu filho. — Você destruiu o meu coração, você destruiu a minha vida! — Ele afirmou entre dentes, cheio de fúria.

— Isso é mentira! — Beth vozeou com a réstia de coragem e ódio que lhe restava. — Você se destruiu e é você quem não tem o direito de acabar com a minha vida também! — Se defendeu colérica.

— Como não? Claro que tenho. Você é minha, MINHA!

— NÃO, eu não sou sua nem nunca fui. — Ela o interrompeu se encolhendo no seu canto e escondendo o berço do seu filho atrás de si.

— Eu amava você, Elizabeth. — Anton murmurou entre lágrimas, se aproximando dela perigosamente e apontando a arma na testa dela. — Eu amava você. — Ele soletrou inspirando violentamente e trincando os dentes, destravando o gatilho pronto a atirar.

— Nós podíamos ter ficado juntos... — Ela murmurou de olhos fechados, recorrendo à última solução para se salvar. O corpo do homem trajado de negro, se retesou de tal forma que seu coração deu um doloroso solavanco no peito. — Eu amei você, Anton, no princípio eu amei você. — Beth confessou abrindo lentamente seus olhos azuis e fitando o olhar negro e incrédulo dele.

— Mentira. — Ele sussurrou desacreditado, baixando lentamente a arma da cabeça dela, dando assim carta-branca a Beth para continuar.

— Eu sonhei com você dia e noite...

— Mentira.

— Eu imaginava você de várias formas e todas elas eram insuficientes pra tornar você real. — Continuou dando passos na direção dele, enquanto ele recuava tentando fugir da verdade.

— Mentira! — Praguejou com raiva na voz.

— Eu imaginava você aparecendo montado num cavalo branco, exibindo o mais lindo dos sorrisos para mim...

— MENTIRA! — Ele gritou dando um passo em frente e exalando cólera por cada poro do seu corpo. Beth travou com receio da sua reação, mas ao ver que ele nada fazia e apenas a encarava em negação, ela arriscou continuar.

— EU SONHEI COM O NOSSO FUTURO, O NOSSO CASAMENTO, OS NOSSOS FILHOS! — Ela gritou de volta e Anton petrificou pálido, incrédulo com o que escutava. — Esse filho podia ser nosso, Anton. Mas você não permitiu isso. – Ela finalizou apontando para o bebê que ainda chorava assustado sem entender direito o que se passava, mas percebendo o perigo.

— Eu-não-permiti? – Perguntou pausadamente, encarando Beth confuso.

— Não. Você nunca nos concedeu uma chance, você nunca se deu uma chance. Eu estava disponível, esperando e você ficou parado, esperando que outro chegasse e tomasse o seu lugar. E ele chegou e agora eu estou muito feliz e não permitirei que você estrague a minha felicidade. — Beth falava num tom de voz brando, mas banhado de fúria e verdade.

— Eu... estraguei tudo? — Se perguntava respirando sofregamente e abanando a cabeça em negativa. — EU ESTRAGUEI TUDO! — Reafirmou, percebendo por fim que o rumo da vida de sua amada era culpa sua e então Anton Vielmond soltou um grito gutural que fez Beth saltar da cadeira e Aiden chorar mais alto.

Anton caiu de joelhos no chão batendo com as mãos na própria cabeça acompanhado de um choro alto e incontrolável. Apesar do ódio Beth sentiu também pena e compaixão por aquele homem que um dia amou.

Passo a passo ela se aproximou do seu sequestrador e se ajoelhou ao lado de Anton. Temerosamente ela colocou as mãos nos ombros dele e ao perceber que ele não iria reagir, o puxou para um abraço.

Anton deixou cair o seu corpo no chão e pousou a cabeça sobre as pernas dobradas de Beth. Esta afagou os cabelos longos e negros ele, ciciando "sshs" reconfortantes, enquanto os soluços se entalavam no seu peito, a fazendo sufocar.

Não sabia mais por quanto tempo ficara assim consolando Anton, mas quando olhou pela janela os primeiros raios de sol cumprimentavam o céu lá fora.

Aiden estava silencioso, mas desperto e Anton havia adormecido abraçado à cintura de Beth. Esta se encontrava agora encostada ao sofá, presa ao chão pelo corpo do seu sequestrador.

Tentou se mexer debaixo dele, mas era impossível. Se continuasse tentando, Anton acordaria e Beth não sabia com qual versão dele iria se deparar.

O seu coração apertou e ela implorava em oração, por ajuda. Ela precisava de arranjar uma maneira de fugir dali, ou de pelo pedir ajuda para algum vizinho, mas foi aí que o pior aconteceu.

— Querida, cheguei! — Richard anunciou em voz alta entrando em casa.

O pânico de Beth fez o seu corpo estremecer. Anton acabara por acordar com o som da voz de Richard e a cara que ele mostrava, não era propriamente amigável.  

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N/A: Perdão por não ter postado mais cedo hoje, mas final da semana eu sempre fico morta de cansaço e acabei quase esquecendo de postar.

É um capítulo bem curtinho, mas cheio de momentos tensos. Esse Anton é beeem louco, mas no fim fiquei com certa pena dele.

E vocês, o que acharam desse capítulo?

Próximo capítulo será postado na segunda feira. Sem meta de estrelas porque ainda não fiz revisão dos capítulos da próxima semana e esse findi vou estar BEEEEEM ocupada.

Se eu atrasar um pouco, no máximo terça-feira terá capítulo e depois volta à programação normal.

Bjos e até o próximo capítulo.

Stockholm [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora